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Matérias / Música

Entre o nacional e o estrangeiro: O que foi a Tropicália?

Os artistas se posicionavam em questões políticas e sociais, trazendo radicalidade em suas canções

Isabela Barreiros Publicado em 09/06/2020, às 14h48

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Capa do disco Tropicalia ou Panis et Circencis (1968) - Divulgação
Capa do disco Tropicalia ou Panis et Circencis (1968) - Divulgação

Muito se discute sobre a variedade de gêneros musicais que, recentemente, estão se desenvolvendo apenas dentro das fronteiras brasileiras. Entre os diferentes ritmos e musicalidades, podemos perceber, porém, que isso não é de hoje: a inventividade e o inconformismo de artistas nacionais já davam as caras há muito tempo.

Movimentos que tentam dar som à realidade brasileira, criando uma imagem própria ao Brasil, já se aventuraram pelo país diversas vezes — isso não é uma novidade. Entre culturas e contraculturas, durante muito tempo a música nacional foi feita às sombras da internacional, o que foi transformado com a formação de gêneros musicais quase totalmente brasileiros. A partir daí, o padrão foi desconsiderar o uso de elementos “americanizados”, por exemplo.

Confrontando essa ideia, em 1967, uma apresentação no III Festival da Música Popular Brasileira, promovido pela Rede Record, em São Paulo, trouxe uma polêmica: usar a guitarra, em contraponto ao usual violão, considerado ícone da música nacional. Caetano Veloso, que carrega sua importância até os dias de hoje, cantou Alegria, alegria. Gilberto Gil e os Mutantes apresentaram Domingo no parque.

Crédito: Divulgação

Naquele momento, eles deram início a um movimento que tinha como intuito juntar elementos usados nas modernas canções internacional e a música geralmente produzida no país, já canonizada e clássica. No artigo Tropicalismo: As Relíquias do Brasil em Debate, Marcos Napolitano, da UFPR e Mariana Martins Villaça, da USP, consideram que, além da música, no teatro, cinema, e artes plásticas, há uma “radicalização das questões colocadas pelas artes nos anos 60, na sua interface com a vanguarda mundial e com a indústria cultural brasileira”.

O que esses temas levam em comum? “A crise terminal do ‘nacional-popular’ como eixo da cultura e da política”, escrevem os autores. A Tropicália seria uma espécie de “abertura cultural”, ou seja, uma internacionalização da cultura. A partir do Movimento Antropofágico da década de 1920, eles iriam “digerir” elementos estrangeiros e devolvê-los com cara de Brasil.

A mudança de pensamento em relação aos produtos nacionais também trouxe um maior teor de criticidade às canções, principalmente nos sentidos políticos e sociais. Não é de se surpreender, visto que o país estava passando por um dos períodos mais turbulentos e violentos de sua história, a ditadura militar, que durou de 1964 a 1985. Com isso, aponta-se que o movimento foi um “ponto de clivagem ou ruptura, em diversos níveis: comportamental, político-ideológico, estético”.

Naquele momento, a esquerda brasileira estava representada em principalmente duas vertentes: a do Partido Comunista Brasileiro (PCB) que defendia uma revolução nacional-democrática, e a revolucionária Ação Libertadora Nacional (ALN), que queria uma revolução nacional-popular. Como é possível perceber, o nacionalismo era um tema em comum.

“Ao contrário da proposta da esquerda nacionalista, que atuava no sentido da superação histórica dos nossos males de origem e dos elementos arcaicos da nação (como o subdesenvolvimento socioeconômico), o Tropicalismo nascia expondo estes elementos de forma ritualizada”, explicam Marcos e Mariana. Para Cláudio N.P. Coelho, no artigo A Tropicália: Cultura e Política nos Anos 60, a Tropicália “construiu uma versão alternativa das relações entre cultura e política, disputando com a esquerda no seu próprio terreno”.

A esquerda considerava que as produções culturais deveriam expressar a “realidade brasileira”. Os tropicalistas o fizeram, “mas ofereciam uma visão diferente dessa realidade, utilizando, como a jovem guarda, formas artísticas descaracterísticas da cultura brasileira”. Ainda assim, Caetano e Gil foram detidos pela ditadura militar, principalmente pelas mudanças que propunham no cenário nacional.

O marco

Crédito: Divulgação

No ano seguinte da radical performance dos artistas ainda em experimentação no novo movimento, foi lançado o disco Tropicalia ou Panis et Circencis (1968), que foi responsável por finalmente dar um nó aos conceitos traçados por eles. Em agosto daquele ano, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Gal Costa, Nara Leão e os Mutantes revelaram ao público uma produção que se tornou o principal marco do Tropicalismo.

O álbum foi uma grande junção de aspectos diferentes de cultura: populares, nacionais e internacionais. O LP pretendia inovar a cena musical, trazendo fragmentos sonoros e citações poéticas, uma espécie de colagem colorida à brasileira com críticas políticas e repletas de ideologia, inspirados tanto pela pop art americana quanto o rock britânico dos Beatles.

O disco contava com 12 canções, entre elas Geléia geral, de Gil, Baby, com Gal e Caetano, e diversas outras que marcaram o movimento. No entanto, algumas das mais importantes músicas da Tropicália ficaram de fora, como Alegria, alegria e Domingo no parque, já citadas. A icônica Tropicália de Caetano também não entrou no álbum em conjunto, e foi lançada em seu LP homônimo ainda naquele ano.

É possível dizer que a Tropicália foi responsável por trazer um rompimento importante para a música brasileira. Eles abandonaram o total nacionalismo comportado pelos movimentos de esquerda da época, que influenciavam de modo notável as expressões culturais do período. As misturas entre o nacional e o internacional geraram um produto inovador que deixou consequências importantes na história da música.

Por mais que não durasse muito tempo, terminando praticamente com a prisão da dupla Caetano e Gil, o legado do movimento permanece. Hoje, muitos dos gêneros não existiriam se não fosse a confluência entre elementos nacionais e estrangeiros, como o funk e o rap, por exemplo.


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