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Matérias / Personagem

Filho de Ronald Biggs, cúmplice de roubo lendário na Inglaterra, cantava na Turma do Balão Mágico

Michael Biggs, o Mike, começou a carreira fazendo apelo para que sequestradores devolvessem seu pai

Vinícius Buono Publicado em 16/07/2019, às 08h00

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Michael e Ronald Biggs - Reprodução
Michael e Ronald Biggs - Reprodução

No dia 8 de agosto de 1963, quinze homens, incluindo Ronald Biggs, levaram mais de dois milhões de libras esterlinas de um trem na Inglaterra. Vinte anos depois, seu filho, Michael, cantava "sou feliz, por isso estou aqui, também quero viajar nesse balão!" com a Turma do Balão Mágico, na Rede Globo. Como isso aconteceu?

O roubo, arquitetado por Bruce Reynolds, foi o maior do Reino Unido na época. Biggs, que já havia sido preso duas vezes por crimes menores, tentava, na época, tomar um rumo na vida. Recém-casado, ele adquiriu dívidas para comprar uma casa e precisava de dinheiro rápido e, por isso, topou participar.

O plano consistia em abordar um trem do correio britânico que transportava uma grande quantidade de dinheiro de um banco de Glasgow, na Escócia, para Londres. A única função de Biggs no episódio seria levar um dos dezesseis participantes, um condutor de trem aposentado, para assumir a direção do trem roubado.

Quando eles descobriram que o condutor não saberia conduzir pelas diferenças entre os trens, tanto ele quanto Biggs apenas aguardaram em um veículo enquanto os outros homens faziam o saque das milhões de libras contidas no trem. 2,6 milhões foram levados, mas por problemas com o cronograma estabelecido por Reynolds, eles ainda deixaram mais de 100 mil para trás. 

Os bandidos passaram um tempo escondidos numa fazenda. Uma anedota interessante conta que eles jogaram Banco Imobiliário no local com o dinheiro roubado, mas, com a polícia já em vias de descobrir o lugar, fugiram. Um deles ficou com a tarefa de colocar fogo na casa para eliminar as evidências. Como não cumpriu a função direito, a polícia conseguiu achar grande parte do bando, inclusive Biggs. Nove dos quinze foram presos e sentenciados a 30 anos de prisão.

Quinze meses após ser preso, Ronald Biggs escalou o muro da Wandsworth Prison e escapou num caminhão de mudança. Fez uma cirurgia plástica em Paris e viveu na Bélgica e Austrália antes de chegar ao Brasil, em 1970. Foi considerado então o maior fugitivo da justiça britânica. Morando no Rio de Janeiro, em 1974, não pôde ser extraditado, pois o Brasil não possuía nenhum acordo desse tipo com os britânicos.

Com sua esposa e família ainda na Austrália, Biggs teve um filho com uma mulher brasileira, o que lhe custou o casamento, mas tornou a sua extradição, de acordo com as leis brasileiras, impossível de fato. Sem poder trabalhar, Biggs vivia de status.

Cobrava por entrevistas, autógrafos e presença em festas. Vendia camisetas com frases alusivas ao grande roubo. Por uma quantia razoável, turistas almoçavam com o anti-herói. Tudo, porém, ou era feito antes das dez da noite ou dentro da residência de Biggs já que, por ser um criminoso convicto, ele precisava estar dentro de sua casa nesse horário.

Em 1981, ele foi sequestrado por ex-soldados do exército britânico e colocado num barco. Os homens tinham a esperança de coletar a recompensar por levá-lo de volta à Inglaterra. Porém, o barco apresentou problemas no Caribe e os tripulantes tiveram que ser resgatados pela guarda costeira de Barbados, que também não tinha acordo de extradição com os ingleses.

Nessa época, seu filho Michael fez um apelo na TV, pedindo que os sequestradores liberassem seu pai e permitissem que ele voltasse para casa em segurança. Quando Ronald voltou, produtores da Rede Globo viram no filho um talento para a atuação, e assim ele virou o Mike da Turma do Balão Mágico em 1983.

O programa, que foi ao ar por três anos, foi um marco da televisão brasileira. O grupo infantil tocava músicas que fizeram sucesso no país e contaram, inclusive, com a participação de grandes nomes da música como Roberto e Erasmo Carlos, Djavan e Fábio Junior. Mike participou do programa do início ao fim.

Em 2000, um derrame abalou a saúde de Ronald e ele quis voltar para a Inglaterra apenas "para entrar num pub e pedir uma cerveja como um bom homem inglês" de acordo com seu filho. O jornal The Sun custeou a viagem em jato particular e teria pagado 20 mil libras a Michael pelo direito à exclusividade da história. Ronald foi preso assim que colocou os pés em sua terra natal, em 07 de maio de 2001.

Ele passou os últimos doze anos de sua vida lutando contra problemas de saúde. Foi solto em 2009, graças a seu estado debilitado, e veio a falecer em 2013. Sobre seu caixão foram colocadas as bandeiras do Reino Unido e do Brasil.

Mike, que também foi para a Inglaterra, só conseguiu a cidadania britânica depois que sua mãe se casou com o pai em cerimônia realizada ainda na prisão. Ele vive lá até hoje, mas retornou em 2018 para uma turnê de reunião da Turma do Balão Mágico.