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Matérias / Civilizações

As múmias de Llullaillaco, as crianças incas mortas em sacrifício

Em uma das mais impressionantes descobertas da arqueologia, três múmias de jovens foram encontradas no vulcão argentino Llullaillaco

André Nogueira Publicado em 13/04/2020, às 05h00 - Atualizado em 20/02/2024, às 16h35

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La Doncella - Johan Reinhard
La Doncella - Johan Reinhard

As múmias, ou ainda, os Filhos de Llullaillaco foram uma das mais fascinantes descobertas arqueológicas dos Andes argentinos, uma revelação magnífica de rituais do passado.

Trata-se de três múmias descobertas em 1999, por Johan Reinhard, um pesquisador argentino associado à National Geographic Society, no vulcão argentino Llullaillaco.

Se tratando das “múmias incas mais bem preservadas já encontradas”, de acordo com Reinhard no Washington Post, foi possível fazer testes que comprovassem a origem desses corpos: um ritual de sacrifício humano onde as três crianças consumiram folhas de coca e bebidas alcoólicas, explica a Live Science.

"Esse tipo de cerimônia se chamava capacocha ou obrigação real, em que eram feitas em situações especiais. Quando um inca que subia ao governo, ou de uma catástrofe climática. Então tinha que dar à terra, a maior das oferendas, que era a vida de uma criança" explicou Gabriela Recagno Browning, então diretora do Museu de Arqueologia de Alta Montanha, em entrevista ao Globo Repórter em 2015.

Para entender o que aconteceu com essas crianças no passado, os arqueólogos analisaram amostras de cabelos das múmias, que forneceram detalhes curiosos.

Objetos encontrados junto com as múmias / Crédito: Wikimedia Commons

La Doncella

A múmia mais velha é de uma garota com cerca de quinze anos, apelidada de A Donzela. Ela usava um vestido e um cocar de penas, além de estar com os cabelos trançados de forma bastante elaborada. Durante um exame feito em seus pulmões, foi encontrada uma infecção bacteriana.

Assim como as outras crianças (uma meia-irmã e um garoto, que não tinha relação de parentesco), ela morreu enquanto dormia, provavelmente sedada. Diversos testes de datação e DNA foram feitos nesse corpo, que está absurdamente conservado.

La Doncella / Crédito: Wikimedia Commons

Pesquisadores acreditam que La Doncella era uma Mulher Escolhida (aclla, ou ainda Virgem do Sol), ou seja, uma garota escolhida e santificada desde seus 10 anos com o objetivo de criar uma esposa para as camadas superiores da elite ou sacerdotisas, sendo que algumas eram alvos de sacrifícios religiosos. 

Sua morte teve provavelmente o objetivo de garantir a saúde geral das pessoas e climas com colheitas favoráveis. 

La Niña Del Rayo

Essa segunda garota tinha provavelmente seis anos quando foi sacrificada. Seu rosto é bastante danificado, pois, fora queimado por um raio junto a uma das orelhas e parte de um ombro, explicou Reinhard ao Washington Post em 1999. A cabeça era um alvo fácil, pois, estava erguida e direcionada para o sudoeste.

"Sabemos, por estudos arqueológicos e pelos objetos que a rodeavam, que em algum momento dos 500 anos em que esteve enterrada um raio atingiu a tumba, penetrou na terra e queimou parte do seu rosto e parte do seu corpo, por isso chamam menina do raio", disse Browning ao Globo Repórter.

La niña del rayo / Crédito: Reprodução/Facebook

Suas roupas se destacavam por razão de um invólucro grosso de lã na cabeça, além de um tradicional vestido acsu marrom-claro, explicou o Museu de Arqueologia de Alta Montanha. Em volta de todo seu corpo, ainda foi enrolado mais um cobertor de lã bordado em vermelho e amarelo. Além disso, seu crânio foi alongado por ação humana.

El Niño

No caso do garoto, que tinha entre quatro e cinco anos, a morte deve ter sido aterrorizante. Isso porque há marcas de estresse no momento do óbito, com vômitos e manchas de sangue em suas roupas, além de estar enrolado em ataduras, pois, algumas costelas e sua pélvis foram deslocadas. 

El niño / Crédito: Wikimedia Commons

Além disso, sua cabeça estava infestada por lêndeas. Enterrado em posição fetal, ele usava uma túnica cinza, sapatos de couro e uma pulseira de prata, além de estar embrulhado num cobertor vermelho e marrom. Pela posição em que estava, é possível que tenha morrido asfixiado, repercutiu o Live Science.

Como a Niña del Rayo, seu crânio foi ligeiramente alongado durante a vida. Sua câmara de sacrifício estava repleta de tesouros pequenos, com objetos que representavam homens de alto escalão em caravanas de lhamas ou rituais típicos de fins de secas para melhorar o ciclo das chuvas.


*Matéria atualizada com mais informações sobre as múmias;