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Matérias / Personagem

Os bastidores da lendária fotografia que eternizou Che Guevara

Admirado por alguns e odiado por outros, a imagem do revolucionário foi recortada e colada ao redor do mundo, indo além de sua própria identidade comunista

Isabela Barreiros Publicado em 08/10/2020, às 17h00

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A fotografia Guerrilheiro Heroico, de Alberto Korda - Wikimedia Commons
A fotografia Guerrilheiro Heroico, de Alberto Korda - Wikimedia Commons

No dia 5 de março de 1960, em Havana, Cuba, o fotógrafo cubano Alberto Korda tirou uma das fotografias mais impactantes do século, de acordo com a revista estadunidense Time. Com o nome de Guerrilheiro Heroico, a icônica foto logo se tornou um símbolo cultural, indo muito além da luta socialista que estava sendo travada em Cuba.

Muitos conhecem a imagem estática que apresentava o guerrilheiro comunista Che Guevara e seu semblante sério. No entanto, é possível dizer também que poucos sabem mais sobre os seus bastidores, onde ela foi, de fato, imaginada e tirada pelo retratista. 

Contexto

Fidel, Che e outros membros do governo em marcha fúnebre / Crédito: Wikimedia Commons

No porto de Havana, o cargueiro francês La Coubre explodiu de maneira inesperada — e suspeita — em quatro de março de 1960. A tragédia causou a morte de pelo menos cem pessoas, e muitas outras ficaram feridas. Che Guevara estava próximo do local quando isso aconteceu e chegou até mesmo a correr para tentar ajudar os indivíduos presentes. 

O episódio fatídico chocou a ilha caribenha. Assim, uma homenagem foi organizada no cemitério Colón de Havana pelas autoridades cubanas para relembrar as mortes que ocorreram no acidente. Estavam presentes o guerrilheiro, que na época era o ministro da Indústria do país, Fidel Castro e alguns membros do governo. 

Castro atribuiu o acidente aos Estados Unidos e à CIA, em um discurso entusiasmado homenageando as vítimas e denunciando o possível atentado. Aquela foi também a primeira vez que ele usou as palavras "Patria o Muerte" ("Pátria ou Morte", em português), pelas quais ficaria famoso mais tarde.

A cerimônia contava também com o comparecimento do fotógrafo oficial do líder cubano, Alberto Korda. Após a marcha fúnebre que foi realizada no local, ainda na manhã daquele dia, por volta das 11h, o retratista tirou duas fotografias do revolucionário, ambas a uma distância de cerca de 7,6 a 9,1 metros. 

Tudo isso foi muito rápido. Em questão de segundos, Che desapareceu de sua vista. Mas foi o suficiente para que o homem registrasse uma das fotos mais importantes da história. 

Legado da fotografia

A foto original, antes de ser cortada / Crédito: Wikimedia Commons

Décadas depois, o fotógrafo afirmou que ele registrou o momento porque a face de Guevarao interessou de maneira particular. Segundo o cubano, a expressão no rosto do homem mostrava “implacabilidade absoluta, raiva e dor”, demonstrando também seu caráter firme e estoico.

“A imagem de Che Guevara é vista como um ícone global que cruza várias fronteiras sociais e culturais exemplificadas em protestos de rua e em diversas mensagens visuais, como pôsteres, logotipos, camisetas e slogans”, explicou Maria-Carolina Cambre, da Universidade Concordia, em seu texto “Che Guevara: Um rosto que lançou milhares”, publicado no site The Conversation, que difunde artigos acadêmicos. 

A fotografia cristalizou-se como um dos maiores representante do comunismo de Cuba, mas ela chegou a ultrapassar esse “rótulo” com o tempo, tornando-se muito mais que isso. Korda nunca pediu royalties pelo uso de seu trabalho, ele alegava que quanto mais ele se espalhasse, maior seria a chance dos ideais se espalharem também.

Para Cambre, “o Guerrilheiro Heroico está sempre em movimento, passa pelo reino do simbólico ao sintomático e oscilante entre esses tipos de classificações, enquanto rejeita esses tipos de quadros. Em outras palavras, a força do apelo de Guerrilheiro Heroico quebra o quadro”. 

Virou camiseta, caneca, anúncio, cartaz e pop-art — um símbolo que entrou no imaginário popular de como seria um revolucionário. O fotógrafo, no entanto, apenas se opunha a difundir a imagem em questão quando acreditava que Chenão concordaria com o uso, caso pudesse opinar. 

Camisetas do Guerrilheiro Heroico sendo vendidas em Cuba / Crédito: Wikimedia Commons

"Como defensor dos ideais pelos quais Che Guevara morreu, não sou avesso à sua reprodução por aqueles que desejam propagar sua memória e a causa da justiça social em todo o mundo, mas sou categoricamente contra a exploração da imagem de Che pela promoção de produtos como álcool ou para qualquer finalidade que denigra a reputação do Che”, afirmou Korda em entrevista a repórteres do jornal australiano Herald Sun.

Cambre indica que, “enquanto as indústrias da moda trabalham para diluir o poder simbólico da foto e despolitizá-la, outros a reinvestem com significados emancipatórios e políticos”. “A imagem de Che Guevara representa mais do que apenas um rosto. É uma imagem que se tornou um símbolo e assumiu diferentes funções sociais, culturais e políticas. Foi reverenciado, desprezado ou realizado em procissões”, relatou a pesquisadora.

Com 31 anos na época em que a foto foi tirada, Che Guevara foi solidificado como um ícone cultural, por meio, principalmente, de suas ações radicais, pela foto icônica e por sua personalidade carismática. Mas a reprodução da imagem, das mais diferentes maneiras, fez com que ele se tornassem mais que ele próprio.

A acadêmica conclui: “Não estamos mais falando de alguém se apropriando da imagem de Che para fazer alguma coisa. Em vez disso — em nossa cultura recortada e colada de compartilhamento contínuo de sinais — podemos dizer que o rosto de Guevara se tornou uma interface coletiva e um canal de expressão”.



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