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Matérias / Europa

A insólita saga dos devoradores de pecado

Frequentes na Europa dos séculos 18 e 19, esses profissionais arriscavam seus espíritos absorvendo as más ações de quem já faleceu

Joseane Pereira Publicado em 09/12/2019, às 07h00

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Lamentos no corpo de Jesus, 1470-1474 - Getty Images
Lamentos no corpo de Jesus, 1470-1474 - Getty Images

Na Inglaterra, Escócia e País de Gales do século 19, uma profissão insólita começou a se espalhar: pessoas pobres e miseráveis se tornavam devoradores de pecados, conseguindo comida e dinheiro para absorver as más ações de quem já passou desta vida.

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Quando um ente querido morria, um pedaço de pão era colocado sobre seu peito e o profissional, contratado pela família, se sentava na frente dele. A ideia era que todos os pecados do morto ficassem concentrados no pão, comido pelo devorador. Isso significa que o próprio espírito do profissional ficava cheio de maldade — mas, para alguém sem oportunidades e que estava morrendo de fome, isso não importava tanto.

Considerada um costume desde 1680, essa prática esteve presente até o início do século 20. De acordo com o livro Antiguidades Populares da Grã-Bretanha, publicado em 1813, o profissional “(...) sentava-se de frente para a porta. Então lhe davam uma crosta de pão, que ele comia, e um copo de cerveja, que ele bebia. Depois disso, ele pronunciava ‘a tranqüilidade e descanso da alma partiram', penhorando sua própria alma”.

Como profissionais informais que exerciam um ofício terrível, os comedores de pecados sempre foram insultados e marginalizados. E isso persistiu inclusive em um poema galês do século 20, que descreve um comedor chamado Morgan como “magro, medonho e miseravelmente pobre”.

O ÚLTIMO COMEDOR

Segundo a autora Marie Kreft, o último comedor de pecados registrado foi Richard Munslow, que viveu no final do século 19. Trabalhando como agricultor no País de Gales, ele teria revivido o costume para ajudar seus quatro filhos mortos a terem uma boa vida após a morte. Com isso, ele passou a exercer a profissão — pois muitas pessoas ainda procuravam amenizar as consequências da maldade de seus familiares e entes queridos.

Falecendo em 1906, Munslow pode ter sido um dos primeiros comedores a ter um funeral apropriado, com cerimônia e agradecimentos. E com o tempo, o papel que eles exerciam foi restituído aos sacerdotes — que não consumiam, mas perdoavam os pecados dos moribundos.


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