O misterioso local desabitado tem entre suas particularidades a presença de geleiras gigantes, o fato de flutuar sobre uma cordilheira submarina e também seu clima imprevisível
Ingredi Brunato Publicado em 13/09/2020, às 09h00
A Ilha Bouvet, um território norueguês de 49 quilômetros quadrados que fica no Atlântico Sul, tem bons motivos para ser desabitada: além de estar localizada a mais de dois mil milhas de qualquer civilização, sua composição não é das mais amigáveis, com mais de 90% da sua superfície coberta de gelo durante o ano todo, e um relevo montanhoso.
As únicas partes desse local isolado, que não são ocupadas por geleiras altas, são as suas bordas, que possuem a areia típica de praias vulcânicas. Para cruzar a Ilha Bouvet a pé, seria necessário ser um alpinista.
A descoberta
A Ilha Bouvet foi avistada pela primeira vez em 1739, pelo explorador francês Jean-Baptiste Charles Bouvet de Lozier, em homenagem ao qual a rocha vulcânica flutuante acabou sendo batizada.
Bouvet, no entanto, nem sempre foi considerada um território norueguês - e como consequência também teve outros nomes no passado - já tendo sido proclamada também pela coroa britânica, em 1800. Foi apenas através de uma disputa judicial que o local passou a ser considerado parte da Noruega, em 1930. A ilha curiosa foi convertida em uma reserva natural a partir do ano de 1970.
Sem muita surpresa, o local solitário já atraiu alpinistas antes. Seu ponto mais alto, chamado de Pico Olav, foi escalado pela primeira vez por Jason Rodi e uma equipe de cineastas e aventureiros, em 2012. Para dar um toque a mais de excepcionalidade ao acontecimento, eles também instalaram uma cápsula do tempo no topo do local.
Uma das particularidades da ilha é também que ela flutua acima de uma imensa cordilheira submarina que atravessa o Oceano Atlântico, e existe justamente porque fica ali a divisão entre placas tectônicas. Bouvet fica sobre o ponto de junção entre as placas da África, da América do Sul e da Antártida.
Outra curiosidade é que o centro desse lugar remoto é a cratera de um vulcão inativo. Sua última erupção foi há cerca de 2 mil anos atrás, então pelo menos nisso não existe perigo. O que já não pode se dizer de seu clima, que muda de forma imprevisível.
Pesquisas científicas
Falando no clima de Bouvet, a ilha conta com uma estação meteorológica automática, que foi construída em sua única porção plana. Recentemente, o território isolado têm também atraído mais atenção da comunidade científica por poder revelar como era o clima na Antártida do passado, levando equipes a irem coletar pedaços de gelo.
“Eu definitivamente acho que existe a possibilidade de voltar lá e coletar um núcleo mais profundo de gelo que traga informações de centenas de anos, se não milhares, sobre as variações climáticas.”, contou a pesquisadora Liz Thomas, que já fez expedições científicas à ilha isolada, em entrevista à BBC
A especialista também abordou os desafios de trabalhar em um local tão inóspito: “Só ficamos em Bouvet por algumas horas, porque só podíamos trabalhar numa janela climática boa e tivemos que deixar a ilha rapidamente quando as nuvens começaram a baixar”.
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