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Matérias / Guerras

A Guerra das Batatas e Cebolas: Conflito pela independência de Santo André acabou em guerra de comida

As batatas e as cebolas se tornaram marca cultural do conflito entre São Bernardo e Santo André

André Nogueira Publicado em 16/07/2019, às 06h00 - Atualizado em 18/09/2022, às 17h00

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Via Férrea em Santo André, centro de formação da comunidade - Memória de Santo André
Via Férrea em Santo André, centro de formação da comunidade - Memória de Santo André

Desde 1889 São Bernardo é independente do município de São Paulo, tornando-se vila e abrangendo toda a região hoje conhecida como ABC.

Dentro da cidade, era famosa a distinção feita entre os moradores do Centro (os chamados almofadinhas) e os moradores da região no entorno, a população rural apelidada de batateiros, num sentido pejorativo. Até hoje, esse apelido marca a identidade dos bernardenses, mas a principal razão da força deste nome não está na alcunha dos almofadinhas, mas num conflito posterior. 

Com o tempo, a população que centrava a estação ferroviária da vila começa a desejar autonomia de São Bernardo e a demonstrar sua indignação em não ser uma vila independente. Esta seria Santo André, conhecida como Distrito de Paz de Santo André desde 1910 e cuja população começou a usar o apelido de batateiros para toda a população de São Bernardo, que respondeu à provocação e começou a xingar andreenses de ceboleiros.

Com isso, já estava marcado o conflito entre os "batateiros" e os "ceboleiros", com um foco considerável na disputa entre os times de futebol Atlético de São Bernardo e Corinthians de Santo André.

O conflito aconteceu na década de 1920, quando os jogadores de Santo André voltavam para casa de bonde na ainda São Bernardo. O time rival os cercou e começou a atingi-los com batatas podres, enquanto cantavam os gritos da torcida.

Diante da humilhação, os andreenses bolaram um contra-ataque: esperaram a seguinte partida entre os times rivais, ocorrida no distrito de Santo André, e recepcionaram os jogadores bernardenses com tiros de cebolas podres em pleno campo, cantando a vitória momentânea.

Mesmo que esse evento seja do mundo esportivo, é impossível negar seu caráter político e a força de mobilização social que ele expõe. As batatas e as cebolas se tornaram marca cultural do conflito entre São Bernardo e Santo André, fazendo presença nos conflitos entre os cidadãos das cidades nos seguintes anos e, principalmente, na identidade dessas pessoas.

Às duas décadas que prosseguiram esse conflito foram marcadas pela luta de Santo André em se tornar município independente e, como consequência, diversos conflitos entre pessoas que, sem dinheiro e disponibilidade para uma luta realmente armada, tornaram a usar as armas que possuíam em mãos e imortalizaram a disputa entre tubérculos e bulbos.

Até hoje os bernardenses e andreenses mencionam com orgulho seus apelidos, celebrando o passado das cidades e a coragem dos antigos guerreiros de armas vegetais. Em 1938, Santo André consegue sua independência, mas não sem luta e muita cebola!