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Matérias / Guerra Civil

Há 158 anos, a batalha de Fort Sumter dava início à Guerra Civil dos EUA

No dia 12 de abril de 1861, as tropas de Jefferson Davis cercaram e bombardearam o exército de Lincoln, exigindo a saída do forte

André Nogueira Publicado em 12/04/2019, às 17h00

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Our Banner in the Sky (1861), de Frederic Edwin Church - Domínio Público
Our Banner in the Sky (1861), de Frederic Edwin Church - Domínio Público

A Guerra Civil que aconteceu nos EUA (1861-1865) foi o período mais sangrento ocorrido entre cidadãos estadunidenses na História e, junto às Guerras Napoleônicas e as Guerras de Independência na América Latina, funda uma nova forma de batalha, uma guerra moderna, não mais travada limitadamente entre exércitos em campos determinados, onde os guerreiros não são mais nobres, mas contingentes massivos dos membros do povo. A Guerra é marco importante da unificação dos EUA como Estado-nação e abalou diretamente à geopolítica e os circuitos econômicos mundiais na época. Entenda o estopim deste evento, ocorrido há 158 anos.

Entre 12 e 13 de abril de 1861, houve o famoso e memorado bombardeio ao Fort Sumter, na Carolina do Sul, pelo exército confederado. O ato, antes de uma declaração de guerra, era uma tentativa dos sulistas de tomarem um arsenal bastante relevante de artefatos militares, que significa um importante adendo às forças de resistência ao projeto vertical e imposto de unificação nacional que quebrava com a lógica federativa defendida pelos conservadores. Entender essa batalha passa por pensá-la como o estouro resultado de um acúmulo de intrigas criadas no processo de ocupação da América do Norte e não pode ser resumida ao conflito maniqueísta entre territórios de “colonização de exploração” e “colonização de povoamento”.

O primeiro aspecto a ser elencado é a questão da escravidão. Essa instituição estava presente em toda a América até o fim do século XVIII e somente com as independências foi possível que se revertesse o quaro. Porém, essa reversão não enquadrou todos os países ao mesmo tempo, pois países – notoriamente EUA e Brasil – abordam o assunto tardiamente.  Será somente no meio da Guerra Civil (enquadrando também, mas não somente, como uma inteligente estratégia militar de Lincoln para superar os exércitos confederados) que a abolição da escravatura será promulgada. Antes disso, a instituição ocorria pelo território nacional, com ênfase maior nos estados do Sul.

Quadro de John Gast é representação da visão nortista da Marcha (Wikimedia Commons)

Porém, muitos estados que foram sendo criados no decorrer do século XIX não se enquadravam necessariamente como “Sul” ou “Norte”. Isso porque o país passava pela famosa Marcha para o Oeste, que criava novos territórios delimitados e expandia territorialmente o poder de mando da lei americana. Porém, como a federação dos estados prevê autonomia legal entre os estados, novos territórios exigem leis a se elencar, o que corresponde muito às pessoas que ocuparam esses territórios. Ou seja, a Marcha cria um dilema legal e moral inevitável: os novos estados permitem o estatuto da escravidão? Ou o projeto das elites urbanas nortenhas de substituição da mão-de-obra escravizada para o trabalho (mal) assalariado já poderia ser aplicado nesses novos estados? Como regulamentar, ou se é válido regulamentar, o mundo do trabalho, da ocupação fundiária e da propriedade da terra? Isso gera uma incompatibilidade que desencadeia o atrito.

Como a capital convencionada da união era Washington, associada a uma rede urbana no Nordeste do país (Filadélfia, Maryland, New York, etc.) e a ela respondia o exército  a política internacional, o Norte possuía um poder de mando mais destacado e o projeto de industrialização capitalista e modernizador proposto pelos deputados do Partido Republicano tentava tramitar em termos práticos. Este poder a nível federal será catalizador de mais um atrito entre Washington e os estados do Sul, que começa com protestos, mas culminam em projetos ou mesmo movimentos práticos de separatismo.

Todo esse mar de confusões e disputas políticas leva a 1860, ano em que os EUA passam pelo processo de eleições do presidente da república. Após um conturbado momento de brigas políticas, acusações, ameaças e balburdia, quem é eleito é o candidato abolicionista do Partido Republicano, o deputado do Kentucky e projetista de uma política de integração nacional unificadora Abraham Lincoln.

A proposta republicana era a de substituir drasticamente o sistema econômico e político do país, largando os traços coloniais e rurais (centro da economia da maioria das regiões do país) para o desenvolvimento industrial, urbano, infraestrutura e comercial que articulasse toda a rede produtiva do país e que focasse no crescimento das fábricas e no fortalecimento de um Estado nacional e forte, que alçasse os EUA como potência capitalista moderna em competição com a Europa industrializada e imperialista.

Abraham Lincoln (Wikimedia Commons)

A vitória de Lincoln nas urnas gera uma revolta nos estados do Sul, que não se viam representados e declaravam o projeto abolicionista como incabível e anticonstitucional. Então, Alabama, Carolina do Sul, Flórida, Geórgia, Louisiana e Mississipi se unem, em apoio aos governantes dos “territórios indígenas” ainda em ocupação, e, na voz do autodeclarado presidente Jefferson Davis, proclamam a independência dos “Estados Confederados da América”, em contraposição aos Estados Unidos da América. Nasce oficialmente a intriga entre a Confederação e a União.

Jefferson Davis (wikimedia commons)

Ao assumir o cargo em março de 1861, Lincoln declara ilegal a Confederação e decreta seu território como parte dos EUA, sujeitos a sua lei. Jefferson Davis mantem a posição e declara que as ordens de Lincoln não valiam em território confederado, mas que a Confederação deveria ir atrás de recursos que faltavam aos seus exércitos (afinal, a distribuição feita pela União nunca foi igual), buscar o enfraquecimento dos unionistas “opressores” e batalhar pela manutenção do projeto escravista agrário.

Então, as tropas confederadas começam a se deslocar em direção à Carolina do Sul, pois era lá uma região rica em bases militares bem equipadas e ponto estratégico entre os estados do continente. No dia 9 de abril, o general Beauregard recebe a ordem do presidente Davis de atacar o Fort Sumter, que era muito bem equipado, protegido e oficialmente pertencente ao exército da União. Porém, Davis declara necessário que o Sul chegasse ao forte antes das tropas de Lincoln. E assim seguem, com pouca oposição.

Às 3h do dia 12 de abril, os confederados enviam um telegrama aos nortistas do forte que o Sul iria bombardear o Forte se não fosse desocupado. O exército da União se nega a largar o forte, mesmo sabendo que, depois disso, as tropas do Sul cercariam o batalhão e impediriam a entrada de recursos como comida e água. A rendição parecia clara, mas com o levantar do Sol no dia 12, os bombardeios começaram.

Esquematização geográfica do forte no primeiro dia de batalha (Wikimedia Commons)

Três dias se passaram. A União perdia recursos enquanto os confederados insistiam na ofensiva. No dia 14 de abril, mesmo com um baixo número de mortos, os confederados ocupam o forte e içam a sua bandeira. As tropas unionistas retornam, derrotadas, mas Lincoln insiste na questão, e passa os próximos meses tentando negociar uma trégua, enquanto recrutava mais soldados e fortalecia a artilharia da Federação. O conflito das tropas confederadas e unionistas, não se encerrando, desencadeou quatro anos de batalhas entre Norte e Sul, período conhecido como Guerra Civil Americana.