Grande denunciador da violência dos Camisas Negras de Mussolini, Matteotti era uma ameaça para a nascente ditadura fascista na Itália
André Nogueira Publicado em 10/06/2020, às 08h00 - Atualizado em 03/01/2023, às 11h10
No dia 10 de junho de 1924, milicianos fascistas raptavam o deputado socialista Giacomo Matteotti, que comandava o Partido Socialista. O cadáver de Matteotti foi encontrado dois meses depois.
Mas foi somente no dia 3 de janeiro de 1925, há 98 anos, que o líder do Partido Fascista, Benito Mussolini, discursou no Parlamento e assumiu o mando do assassinato — embora nunca tenha sido provado seu envolvimento direto no crime.
Eu declaro perante a essa assembleia e perante a todo o povo italiano que assumo, eu sozinho, a responsabilidade política, moral e histórica de tudo o que aconteceu", disse Il Duce na ocasião.
Mussolini ainda aproveitaria a situação instável do país, e também o apoio do rei, para para instaurar concretamente um regime ditatorial fascista.
Giacomo foi um político italiano de grande relevância. Nascido no Veneto, ele estudou direito na Universidade de Bolonha e lá entrou no movimento socialista. Rapidamente, ganhou destaque político.
Durante a Primeira Guerra, se esforçou na defesa do Partido pela neutralidade do país. Por esse motivo, foi preso na Sicília. Giacomo ficou conhecido como 'A Tempestade', por sua impetuosidade.
Matteotti tinha grande influência na sociedade. Sua morte foi de grande abalo na credibilidade política, nacional e internacional de Benito Mussolini durante sua ascensão. O deputado era um dos principais nomes que denunciavam o autoritarismo fascista. Desde cedo, se opunha à violência dos Camisas Negras, acusando seus abusos e crimes.
Ao mesmo tempo, era um forte crítico da desunião da esquerda, que se rechaçava entre si, abrindo espaço para o crescimento da ameaça fascista.
Na Câmara dos Deputados da Itália, comandou o Partido Socialista Unitário como cabeça da oposição. Com o constante crescimento dos fascistas desde 1922, a ameaça de uma ditadura era grande e muitos políticos se converteram ao Partido Fascista para sobreviver. Mas Matteotti não o fez, seguiu denunciando os crimes contra a democracia.
Em 30 de maio de 1924, Matteotti subiu à tribuna da Câmara para uma fala em que analisou as eleições de 6 de abril, que compôs o Parlamento. Enquanto os fascistas berravam para abafá-lo, Mattotti pronunciou um discurso histórico em que minunciosamente apontou cada ilegalidade realizada pelas milícias fascistas e as ordens políticas que corromperam o sistema democrático em favor de Mussolini.
Giacomo acusou os fascistas de fraude eleitoral. Ovacionado pela esquerda, ele encerrou: “Já fiz o meu discurso, agora compete a vocês preparar o discurso fúnebre em meu enterro”.
Dito e feito: no dia 10, Matteotti foi sequestrado por militantes do Partido de Mussolini, em Roma, e, depois, assassinado. O corpo foi encontrado apenas em 16 de agosto, a mais de 20 km da capital.
Cinco nomes ligados à polícia secreta fascista (Amerigo Dumini, Giuseppe Viola, Albino Volpi, Augusto Malacria e Amleto Poveromo) foram presos e investigados. Dumini, Poveromo e Volpi foram condenados, mas logo receberam anistia do rei Victor Emmanuel III.
Nunca se provou que Mussolini tivesse ciência ou que tivesse ordenado o ato, mas suspeita-se que sim, pois era de conhecimento público que o Il Duce comentou ao chefe da polícia secreta fascista que o deputado não deveria “seguir em circulação” após o discurso de 30 de maio.
Antes de sua morte, Mattotti já havia sido sequestrado e torturado pelos Camisas Negras. Por experiência pessoal, sabia do potencial violento dos fascistas e nunca deixou de denunciá-lo.
Em homenagem ao excelente representante da esquerda que foi Giacomo Matteotti, as brigadas do Partido Socialista da Resistência italiana receberam o nome de Brigate Matteotti.
