Busca
Facebook Aventuras na HistóriaTwitter Aventuras na HistóriaInstagram Aventuras na HistóriaYoutube Aventuras na HistóriaTiktok Aventuras na HistóriaSpotify Aventuras na História
Matérias / Personagem

Hassan Al-Kontar, o homem que viveu 7 meses num aeroporto

Sem visto para permanecer em algum país, o homem teve de sobreviver em meio a inúmeros passageiros diariamente

Wallacy Ferrari, sob supervisão de Thiago Lincolins Publicado em 09/10/2021, às 08h00

WhatsAppFacebookTwitterFlipboardGmail
Hassan em frente a bancada de check-in - Divulgação / Hassan Al Kontar
Hassan em frente a bancada de check-in - Divulgação / Hassan Al Kontar

Em 2018, um homem sírio, de nome Hassan Al Kontar, foi capaz de protagonizar manchetes de diversos veículos de imprensa internacionais após iniciar a divulgação de sua trajetória ao longo dos últimos meses; sem dinheiro, documentação e suporte estatal, o homem tinha um teto para dormir, mas tratava-se do Aeroporto Internacional de Kuala Lampur, na Malásia.

Dormindo em cadeiras e até mesmo embaixo da escada rolante, ele chegou no local em 7 de março de 2018 e teve de se instalar até o primeiro dia de outubro daquele ano.

Seus banhos e protocolos de higiene pessoal eram realizados em um banheiro de deficientes, além de conseguir comer apenas quando recebia doações de funcionários do aeroporto, que já conheciam sua história, conforme revelado pela BBC.

Diariamente, ele compartilhava a rotina diária utilizando a conexão de internet via wi-fi disponibilizada aos viajantes, publicando atualizações sobre a vida preso em um aeroporto, sem poder sair de lá por estar em um “limbo legal”, termo empregado a pessoas que não conseguem sair de locais como consulados, aeroportos e fronteiras.

Hassan tira foto em ponto do aeroporto / Crédito: Divulgação / Hassan Al Kontar

Como tudo começou

Hassan nasceu em Al-Suweida, na Síria, e por lá ficou até o início da vida adulta, quando conseguiu uma autorização para trabalhar como agente de marketing de seguros nos Emirados Árabes Unidos, em 2006.

5 anos depois, em 2011, a licença de trabalho do rapaz, que permitia sua permanência no país, expirou juntamente com o início da Guerra Civil Síria. Optou por se instalar ilegalmente no país que trabalhava pelo medo de ser convocado as Forças Armadas da Síria durante a guerra.  

Ao retomar o pedido de um novo passaporte sírio, em 2017, acabou sendo descoberto entre as duas embaixadas e preso por autoridades dos Emirados, que ainda o deportaram para a Malásia para regularizar sua autorização de trabalho, visto que o país é um dos poucos onde sírios não precisam de visto para entrar.

Porém, sem conseguir renovar, sua permissão de visitante de 90 dias expirou, gastando então todas suas economias em uma passagem para Quito, no Equador, contudo, foi impedido de entrar no voo por problemas com a regularização do passaporte.

Novamente, buscou uma alternativa e conseguiu embarcar para Phnom Penh, capital do Camboja, todavia, não conseguiu entrar no país pela confusão anterior de licenças, sendo enviado de volta ao aeroporto.

Sem nenhuma licença válida para se estabelecer em algum lugar, a zona de embarque e desembarque era o único local onde ele poderia continuar vivendo até uma resolução. Por lá, ficaria até 1 de outubro de 2018, quando foi preso por acessar uma área restrita do aeroporto.

Hassan tira foto de avião em pista de decolagem / Crédito: Divulgação / Hassan Al Kontar

Resolução do caso

Já conhecido internacionalmente pelo imbróglio de vistos, o caso chamou atenção de pessoas no Canadá, que decidiram o patrocinar do próprio bolso para se refugiar no país.

Com o auxílio de uma família, que disponibilizou a casa, e de Laurie Cooper, diretora da Whistler Imigration, recebeu asilo para compartilhar sua história em eventos sobre direitos humanos.

A chegada se deu em 26 de novembro de 2018, quando esteve no último aeroporto, o Internacional de Vancouver, sendo admitido como residente após solicitação aceita pelo governo local.

Chegou ainda a trabalhar num restaurante brevemente, enquanto escrevia seu livro, Man at the Airport ("Homem no aeroporto", em tradução livro). Hoje, Hassan trabalha para a filial local da Cruz Vermelha, auxiliando outros refugiados para repetir o trâmite legal que o salvou da vida no aeroporto.