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Matérias / Oliver Cromwell

Neste dia, em 1658, Oliver Cromwell morria na Inglaterra

Mesmo depois do fim, o líder foi decapitado por monarquistas e, com isso, sua cabeça demorou para encontrar o repouso eterno

Vinícius Buono Publicado em 28/01/2020, às 14h00 - Atualizado em 03/09/2022, às 10h00

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Pintura de Oliver Cromwell - Domínio Público/ Creative Commons/ Wikimedia Commons
Pintura de Oliver Cromwell - Domínio Público/ Creative Commons/ Wikimedia Commons

Oliver Cromwell tornou-se o Lorde Protetor da Comunidade da Inglaterra, Escócia e Irlanda em meados de 1649. Naquele ano, ele instaurou a república após derrotar as forças do então rei Carlos I, sendo um dos signatários da execução do ex-monarca.

O domínio de Cromwell sobre todos os reinos das Ilhas Britânicas, contudo, durou pouco. Em 1658, o Lorde Protetor deixou esse mundo, possivelmente vítima da malária. Apesar de ter rejeitado a coroa e o título atado a ela, seu funeral teve a pompa e circunstância dos outros reis do país e, como outros monarcas, foi embalsamado e enterrado na Abadia de Westminster.

Apenas dois anos depois, sua experiência republicana também morreu. A monarquia foi restaurada sob a batuta de Carlos II, como se nada tivesse acontecido na década entre a morte do primeiro e a restituição do segundo.

Porém, para os monarquistas, Cromwell deveria pagar. Depois de ordenar a decapitação de Carlos I, Cromwell também perdeu sua cabeça. 

O corpo foi desovado sem cerimônia, mas a cabeça estava fadada a nunca mais ter descanso, ou pelo menos era a intenção dos monarquistas, que a espetaram numa longa estaca de madeira e deixaram-na pendendo sobre o telhado do Palácio de Westminster como uma gárgula, um perene e sombrio alerta do que acontecia àqueles que ousavam contestar a monarquia.

Por mais de 30 anos ela permaneceu ali, servindo de espantalho para os corvos e pombos londrinos. Até que, certo dia, uma tempestade quebrou a estaca e jogou-a nos pés de um dos guardas de Westminster. O homem então teve uma atitude inusitada: levou-a para casa e guardou, escondida, na chaminé.

Empreendeu-se uma caça por toda Inglaterra, e até uma recompensa foi oferecida para quem encontrasse a cabeça do Lorde Protetor. Com medo de ser punido, o guarda só revelou à sua própria filha a herança que lhe deixaria.

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Desenho do século 18 representando a cabeça de Cromwell / Crédito: Wikimedia Commons

Por algum tempo, ela sumiu de circulação. Especula-se que a moça a tenha vendido, afinal, entre uma boa quantia de dinheiro ou a cabeça semi-apodrecida e empalada de um homem morto, a escolha parece bastante óbvia.

Reapareceu por volta de 1710, no pequeno museu particular de Claudius Du Puy, um suíço que, dentre as curiosidades que colecionava, elegeu Cromwell como a mais intrigante de todas.

Em 1738, Du Puy morreu e a cabeça desapareceu por cerca de 40 anos até que James Cox, que também tinha sido dono de um museu particular, encontrou-a de posse de Samuel Russell, descrito por ele como um comediante fracassado e alcoólatra que alegava ser descendente do próprio Cromwell, e que ela vinha passando pelas gerações de sua família.

Ao que Russell se recusou a vendê-la para Cox, ele encontrou uma maneira mais perversa: aproveitando-se dos fracassos do homem, emprestou-lhe dinheiro até que não teve alternativa senão oferecer a cabeça como pagamento. 118 libras foi o valor acordado e, em 1799, Cox a revende por quase o dobro para três irmãos de sobrenome Hughes que, como Du Puy, também tinham a intenção de exibí-la em seu museu particular.

Dito e feito. Porém, o museu dos irmãos foi um fracasso e os três morreram praticamente em sequência, levantando boatos de que a cabeça estaria amaldiçoada. Não querendo pagar pra ver, a filha de um deles queria se livrar da mórbida relíquia o mais rápido possível.

Robert Jenkinson, primeiro-ministro da Inglaterra, cogitou comprá-la para expor em museus públicos e oficiais, mas achou que não seria bom tom tê-la exibida no estado em que se encontrava. Segue, então, sem descanso, condenada a vagar pela Inglaterra com seu único corpo sendo a estaca de madeira.

Em 1815, mudou de mãos novamente, dessa vez para a de Josiah Henry Wilkinson, em cuja família ela ficaria, de novo como relíquia, guardada numa pequena caixa de carvalho, até o descanso final. 

Porém, após tanto tempo, tanto misticismo e tantos donos, outras cabeças pela Inglaterra começaram a ser tidas como a de Cromwell, inclusive no Museu Ashmolean da Universidade de Oxford. Um professor de anatomia da própria instituição admitiu que aquela em sua posse era a verdadeira.

Quase um século depois, em 1911, o Instituto Real de Arqueologia pediu para analisar a peça a fim de determinar sua veracidade. Ainda de posse dos Wilkinson, dessa vez do neto de Josiah, eles foram atendidos.

O veredito foi de que a evidência documental era duvidosa, mas a física era extremamente forte. Na década de 30, dois cientistas, Karl Pearson e Geoffrey Morant se ofereceram para, enfim, acabar com o debate.

Focando, também, nas características físicas como o embalsamento, a comparação com bustos e estátuas e o estudo da estaca que rasgava o encéfalo, os dois chegaram à conclusão de que aquela era de fato a cabeça de Oliver Cromwell, inclusive com a famosa verruga acima do olho direito.

Sem dúvidas sobre a autenticidade, os Wilkinson mantiveram-na sob sua custódia por mais 30 anos. Em 1960, o então proprietário, Dr. Horace Norman Stanley Wilkinson, resolveu acabar com a história de uma vez por todas. Coordenando com o Sidney Sussex College, uma faculdade da Universidade de Cambridge frequentada pelo Lorde Protetor, um funeral foi organizado.

Se Oliver Cromwell teria odiado o gigantesco rebuliço que foi seu funeral, o de sua cabeça certamente o teria deixado mais contente. Apenas sete pessoas compareceram à cerimônia para vê-la ser enterrada próxima à capela da faculdade, ainda em sua caixinha de carvalho. Uma placa foi erigida no local. Três séculos depois, um dos homens mais relevantes da história da Inglaterra pôde, enfim, colocar a cabeça para descansar.


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