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Matérias / Personagem

Raul Seixas: Há 30 anos, o músico era enterrado após ter seu caixão roubado por fãs

Em 1989, o Trem das Sete chegou para o notório artista brasileiro. No entanto, seu enterro foi digno da maluquice que Raul se dedicou em vida

André Nogueira Publicado em 21/08/2019, às 11h30

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O Carimbador Maluco - Reprodução
O Carimbador Maluco - Reprodução

Raul Santos Seixas foi um dos mais importantes pioneiros e introdutores do Rock and Roll no país. O Maluco Beleza, como era conhecido, teve uma vasta e criativa produção musical, que somava a crítica social e política com misticismo, entusiasmo e aventura.

Nascido na Bahia, Raul foi encontrado morto em 1989, vítima de uma pancreatite aguda causada por abuso de bebidas. Raul subiu no Trem das Sete aos 44 anos, há exatos 30 anos, sendo seu corpo encontrado em um quarto na manhã seguinte. E, com isso, deixou a seguinte reflexão: Quem vai chorar, quem vai sorrir?

O enterro

"A Lei do Forte. Essa é a nossa Lei e a alegria do mundo. Faz o que tu queres, há de ser tudo da Lei: fazes isso e nenhum Outro dirá não. Pois não existe Deus se não o Homem!" Raul brandava essa máxima, vinda da Thelema que seguia.

Esta foi a lógica das quase 100 pessoas que invadiram o funeral do músico em uma capela na Bahia. De acordo com Marcelo Nova, amigo de Raulzito, que durante o velório, ouviu o barulho de uma multidão que, sem dó, entrou cantando Sociedade Alternativa e roubou o caixão do astro.

"Eles queriam levar o corpo de Raul pra passear, pra fumar maconha, pra enfiar baseado na boca dele! (risos). Eles gritavam: "Raul não morreu! Ele tá vivo! Vamos levar ele pra tomar uma!"", relatou Marcelo. Entretanto, em uma rápida conversa, a euforia da multidão baixou, para que todos pudessem homenagear a lenda que foi Raul Seixas.

Uma vida thelemita

Raul era um grande amigo de Paulo Coelho, com quem escreveu diversas obras. Juntos, afundaram no mundo do ocultismo e deram origem a obras como Gita, Novo Aeon, A Lei e Metamorfose Ambulante.

Uma das maiores influências de Raul Seixas, como filosofia de vida, era o ocultista britânico Aleister Crowley, homem que descobriu o Livro da Lei. Trata-se da Thelema, filosofia que preza a liberdade total e a lógica em que o indivíduo assume sua própria felicidade e busca o seu sentido da vida. A lógica thelemita é a da formação da Sociedade Alternativa. 

Raul e Paulo Coelho / Crédito: Reprodução

Uma das bases da lógica da Thelema é a autonomia de ser e de mudar. Ou seja, toda ação e opinião é necessariamente moldável. Para Raul, viver o presente e experimentar o desconhecido é muito mais importante do que o conhecimento e a certeza do funcionamento do mundo. 

Por isso, a maior parte da obra do Pai do Rock é composta por metáforas e figuras alegóricas, desde a Mosca na Sopa até mesmo Trem das Sete. Além disso, as referências diretas ao texto de Aleister Crowley faziam da obra de Raul uma coletânea de críticas à realidade com o pé bem fundado no chão, em que os desabafos pessoais se integravam na questão social, e vice-versa (talvez a melhor referência disso seja Ouro de Tolo).

Entre suas músicas mais conhecidas, pode-se destacar: Tente Outra Vez, Metamorfose Ambulante, Cowboy Fora-da-Lei, O Dia em Que a Terra Parou, Ouro de Tolo, Gita, Medo da Chuva, Meu Amigo Pedro, Sociedade Alternativa, Mosca na Sopa, Rock das Aranhas, A Lei, Anarkilópolis, Let me Sing, Carpinteiro do Universo, A Maçã, Sapato 36, Como Vovó já Dizia e, se destaca na situação de sua morte, Trem das Sete.

Raul Seixas / Crédito: O Pasquim

Gita

Uma importante referência de Raul Seixas ao misticismo e à vida está na música Gita, uma das primeiras do Brasil a ter um videoclipe. A obra é baseada numa épica indiana antiga chamada Bhagavad Gita, que conta a história do encontro do guerreiro Arjuna e Krishna, avatar de Vishnu, antes da guerra.

No texto, Krishna relata sua essência, mostrando a Arjuna que ele é absolutamente toda a realidade e o Ser. Ele é um e tudo ao mesmo tempo, é o corpo da realidade e que, por isso, sabe bem a razão e a importância de tudo, desde o mais reles individua até a guerra e a morte.

Arjuna e Krishna, do Bhagavad Gita / Crédito: Reprodução

Gita é a reprodução da fala do deus, onde diz que é o Início, o Fim e o Meio, que é uma reflexão sobre a necessidade da ação e a real integração com o mundo, a ponto de se abstrair a noção de indivíduo e de identidade, transcendendo o ego e se integrando ao corpo do mundo.

Assista ao videoclipe da música Gita.