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Matérias / Idade Média

Idade Média: Quando a anorexia era sinal de santidade

Não comer nada e era tido por um sinal de comunhão com Deus. Entenda como um sério transtorno foi visto como santo

Álvaro Oppermann Publicado em 17/09/2019, às 07h00

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Santa Catarina de Sena - Wikimedia Commons
Santa Catarina de Sena - Wikimedia Commons

A grande questão é o padrão de beleza, disso ninguém pode discordar. Um assunto que nunca deixou de ser atual é a anorexia - doença em que o alvo predominante são as mulheres. Conheça algumas mulheres na história que já sofreram com esse problema.

A adolescente italiana Catarina Benincasa, filha de um artesão da Toscana, não conseguia mais comer. Magérrima e extremamente pálida, ingeria por dia um pedaço de pão com ervas cruas. Às vezes, o estômago não suportava nem esse pouco e ela vomitava.

Catarina não era obcecada por um corpo esbelto. Longe disso – estava se lixando para a beleza física. Mais tarde, ficou conhecida como Santa Catarina de Sena (1347-1380). E virou uma das jejuadoras mais ilustres da história.

Por toda a Idade Média, centenas de moças, como Catarina, deixaram de comer para sofrer como Jesus Cristo. Caso, por exemplo, das mulheres que ficaram conhecidas como Santa Clara de Assis (1193-1253) e Santa Rosa de Lima (1586-1617), esta última peruana. Só assim acreditavam entrar em comunhão com Deus.

Hoje, historiadores denominam esse tipo de comportamento de anorexia santa, que tem sintomas parecidos com os da atual anorexia nervosa. A doença, é considerada um transtorno do comportamento alimentar que se caracteriza por uma grave restrição de ingestão de alimentos, pela busca incessante da magreza, distorção da imagem corporal (a pessoa acha todo mundo magro, menos ela), medo mórbido de engordar e ausência de fluxo menstrual.

“Através dos séculos, os médicos depararam com sinais e sintomas similares, mas suas interpretações foram coloridas pelas crenças da sociedade em que viveram”, diz o médico inglês J.M. Lacey, autor de um artigo sobre o tema para o British Medical Journal.

O hábito de jejuar existe na história ocidental desde pelo menos o Egito antigo. Lá, quem quisesse ser iniciado nos mistérios dos deuses Ísis e Osíris tinha de passar antes uns bons dias sem comer. A Bíblia está repleta de casos de jejuns voluntários, praticados, por exemplo, por Moisés e Jesus Cristo.

Até no Oriente, reza a lenda que Sidharta Gautama, o Buda histórico, jejuou intensamente antes de atingir a iluminação. Mesmo quem desconhecia o jejum para fins místicos, como os gregos, o adotavam: Hipócrates (460-370 a.C.) o receitava como tratamento de doenças.

Segundo a psicanalista Cybelle Weinberg e o psiquiatra Táki Cordás, autores do livro Do Altar às Passarelas – Da Anorexia Santa à Anorexia Nervosa, depois da Idade Média a Igreja começou a ver com maus olhos os casos das santas jejuadoras – poderia ser possessão diabólica, e não santidade – e o hábito caiu em desuso. Nos conventos, bem entendido, porque o jejum migrou para as feiras populares.

No século 17, várias moças que, garantia-se, passavam semanas sem comer, se apresentavam para o povão. Eram as “virgens jejuadoras”. Uma delas, a inglesa Martha Taylor, de 19 anos, dizia ter jejuado por 13 meses. No século 19, outra virgem, Sara Jacobs, teve um fim trágico. Aos 10 anos, foi posta pelos pais como atração de circo nos Estados Unidos, mas acabou morrendo aos 12 de inanição. Os pais de Sara, considerados culpados de negligência, foram condenados a trabalhos forçados.

Greve de fome

Santa Vilgefortis

Crédito: Wikimedia Commons

Diz a tradição que, quando o pai a prometeu em casamento para um nobre dissoluto, a portuguesa Vilgefortis – que queria entrar para o convento – fez um jejum rigoroso. Pediu também para Deus que a enfeasse. Dito e feito. Pelos teriam começado a crescer em seu corpo cadavérico. O nobre, assustado, pulou fora.

Santa Clara de Assis

Crédito: Wikimedia Commons

A italiana não comia nada durante três dias da semana. Nos outros, passava quase sempre a pão e água. Para as irmãs da sua ordem, porém, recomendava moderação

Santa Rosa de Lima

Crédito: Wikimedia Commons

A peruana comia apenas três dias por semana. O cardápio nunca mudava: batatas com ervas amargas

Santa Verônica Giuliani

Crédito: Wikimedia Commons

Em toda sexta-feira, esta italiana só comia cinco sementes de laranja, em memória às cinco chagas de Cristo.

Santa Catarina de Sena

Crédito: Wikimedia Commons

Também italiana, a moça, além dos jejuns rigorosos que fazia, só dormia uma hora a cada dois dias.

Mary Stuart

Crédito: Wikimedia Commons

Herdeira do trono inglês, suspeita-se que teve anorexia – mas morreu executada, a mando da rainha Elizabeth I.

Katherine Anne Porter

Crédito: Reprodução

Escritora americana anoréxica, foi a primeira a tratar do tema na ficção, no romance Old Mortality, de 1937.

Juliette Greco

Crédito: Reprodução

A cantora francesa teve anorexia – dizem que após o falecido jazzista Miles Davis acabar um romance com ela, em 1949. Venceu a doença e passa bem atualmente com 91 anos de idade.

Jane Fonda

Crédito: Reprodução

A atriz americana lutou contra a anorexia dos 15 aos 40 anos.

Sally Field

Crédito: Reprodução

Quando a americana fazia A Noviça Voadora, nos anos 60, pesava 45 quilos para 1,70 metro.

Karen Carpenter

Crédito: Reprodução

A americana da dupla pop The Carpenters era gordinha na infância e ficou obcecada com a magreza ao se tornar famosa. Morreu em 1983, de anorexia.

Diana Spencer

Crédito: Reprodução

A falecida princesa de Gales já confessou que teve anorexia e bulimia (comia e provocava o vômito).

Ana Carolina Reston

Crédito: Reprodução

A modelo Ana Carolina Reston Macan morreu em novembro de 2006 por causa de problemas decorrentes da anorexia. Ela tinha 19 anos e pesava 42 quilos – e reacendeu a polêmica da ditadura da magreza