Busca
Facebook Aventuras na HistóriaTwitter Aventuras na HistóriaInstagram Aventuras na HistóriaYoutube Aventuras na HistóriaTiktok Aventuras na HistóriaSpotify Aventuras na História
Matérias / Primeira Guerra

Batalha do Somme: Um dos mais duradouros conflitos da Primeira Guerra Mundial

Relembre como aconteceu um dos mais duradouros conflitos da guerra

Redação Publicado em 01/07/2019, às 05h00 - Atualizado em 30/06/2023, às 09h43

WhatsAppFacebookTwitterFlipboardGmail
Guerra do Somme - Wikimedia Commons
Guerra do Somme - Wikimedia Commons

Ao longo de dois anos, a Primeira Grande Guerra já havia mostrado para soldados, oficiais e estrategistas tratar-se de um conflito totalmente diferente de tudo o que havia ocorrido até então na história das guerras. O ritual cavalheiresco de tropas marchando em campo aberto para o combate, como se fossem tomar parte em um duelo, cedera lugar às trincheiras e casamatas.

As planícies, propícias às cargas de cavalarias, eram ocupadas agora por quilômetros de linhas de arame farpado e campos minados, enquanto os sinais transmitidos por bandeiras coloridas cediam espaço às comunicações telefônicas, vitais para indicar as posições inimigas a serem castigadas pela artilharia.

No vale do Somme, em junho de 1916, o cenário não era muito diferente. Apesar de ser uma frente onde não ocorrera até então nenhuma batalha significativa, os dois lados envolvidos no confronto já haviam tratado de ocupar seus respectivos territórios com imensas trincheiras, estruturas de concreto, túneis e todas as demais parafernálias necessárias para o tipo de guerra que se travava na Europa naqueles dias. Qualquer ataque que se pretendesse definitivo precisaria primeiro eliminar todas essas barreiras.

Originalmente, o comandante da Força Expedicionária Britânica, general Douglas Haig, imaginava que, para desbaratar o esforço de guerra do império alemão, uma investida em campo aberto pela região dos Flandres seria mais eficaz. Convencido por seus pares franceses de que o Somme era o melhor lugar para isso, ordenara, a partir do mês de março daquele ano, que toda uma infra-estrutura logística com estradas de rodagem e de ferro, estações de água, hospitais e terminais de transporte fosse montada na retaguarda para servir de apoio à investida contra as posições alemãs naquele local.

O grande trunfo de ingleses e franceses para a eliminação das barreiras mencionadas anteriormente não era exatamente esta infra-estrutura, mas uma artilharia dotada de 2 513 canhões, o que dava aproximadamente uma peça para cada 14 metros de terreno em média, distribuída ao longo de um perímetro de ataque de quase 40 quilômetros. No total, eram três canhões anglo-franceses para cada canhão alemão. Em munição, a diferença era maior ainda: 10 para 1.

De acordo com uma concepção francesa, imaginada nos anos que antecederam a guerra, toda a rede de trincheiras inimiga e o trecho intermediário entre os exércitos combatentes, conhecido como “terra de ninguém”, deveriam ser fustigados por um intenso bombardeio que varreria as instalações defensivas e aniquilaria os infantes inimigos que teimassem em permanecer em suas posições.

Para isso, o apoio de balões de observação e da cada vez mais desenvolvida aviação militar teriam um papel muito importante. O desfecho seria um avanço tranquilo da infantaria sobre as posições calcinadas por toneladas de chumbo, aço e pólvora.

Crédito: Wikimedia Commons

Como os franceses estavam bastante ocupados com a defesa de Verdun, o grosso das ações e de tropas não seria mais exatamente uma combinação equilibrada entre os aliados, conforme havia sido combinado no final de 1915. Caberia aos ingleses arcar com uma maior quantidade de homens e armas para aliviar seus aliados na outra frente. Além disso, pela mesma razão, o ataque original, previsto para o mês de agosto, precisaria ser antecipado.

Na manhã do dia 24 de junho, logo após a troca das sentinelas, as operações no Somme tiveram início. Os alemães foram surpreendidos em seus abrigos por um ensurdecedor ribombar de canhões, seguido de intermináveis explosões que faziam tremer a “terra de ninguém” e, principalmente, a primeira das três linhas defensivas de trincheiras construídas pelos germânicos.

Com a forte chuva que caia naquela noite, as posições alemãs viriam a se encher de água, lama e obuses. A chuva exclusiva de bombas iria se repetir ininterruptamente por mais seis dias, ora com alternância da calibragem delas, ora com o uso de armas químicas.

Londres podia ouvir

Na época, segundo relatos de testemunhas, nos momentos em que o vento soprava em direção ao Canal da Mancha, as detonações podiam ser ouvidas nas cercanias de Londres, a mais de 200 quilômetros de distância.

Pouco antes das sete e meia da manhã do dia 1º de julho, os canhões finalmente silenciaram. Agora, a segunda parte do plano que antecedia o avanço da infantaria seria colocada em ação. Durante várias semanas, os engenheiros britânicos cavaram sob a “terra de ninguém” 17 túneis. No final de cada um, próximo às trincheiras e abrigos alemães, minas armadas com até 20 toneladas de explosivos foram programadas para explodir exatamente dois minutos antes do ataque.

A função delas era criar confusão e destruição entre os inimigos e permitir aos atacantes que tivessem alguns abrigos diante de alguma eventual resistência. A cereja do bolo programada por Haig seria o avanço da cavalaria, que teria a função de caçar os defensores em pânico e dividir suas linhas ao meio. Na teoria, um plano perfeito.

A certeza da vitória fácil era tamanha que a ordem de batalha escrita pelo comandante do 8º Batalhão de Infantaria Ligeira de Yorkshire dizia: “Quando vocês chegarem ao topo, poderão encostar suas armas, acender seus cachimbos e cigarros, e depois marchar todo o caminho para Pozieres antes de encontrar algum alemão vivo”. 

Exatamente às sete e meia da manhã, o breve silêncio que se seguiu às detonações das minas foi interrompido pelas centenas de apitos soprados por oficiais britânicos e franceses. Ao todo estavam envolvidos na operação da região do Somme 750 mil homens do 4º Exército britânico e integrantes do 6º Exército francês, posicionados mais ao sul de seus aliados.

Crédito: Wikimedia Commons

A proporção era de quatro britânicos para cada francês. O que todos esses homens não sabiam é que o bombardeio havia surtido um efeito mínimo na rede de arames farpados montada para detê-los e que, ainda pior, por causa de sua baixa qualidade, muitas granadas não haviam sequer explodido. Por fim, muitos alemães tinham escapado da chuva de bombas em abrigos reforçados. Enquanto muitas unidades britânicas avançavam cantando, periscópios postados no alto das trincheiras, onde supostamente só deveria haver cadáveres, observavam atentamente o avanço inimigo.

Quando o momento certo chegou, os homens do 2º Exército alemão, comandados pelo general Fritz von Below, iniciaram uma fuzilaria com suas metralhadoras, apanhando muitos dos atacantes completamente de surpresa. Homens presos em armações de arame farpado eram cortados ao meio pelas balas dessas armas mortíferas. Foguetes vermelhos lançados das trincheiras supostamente vazias avisavam aos artilheiros a hora de disparar os canhões sobre a “terra de ninguém”, dificultando a rota de fuga dos desesperados soldados britânicos, que também não podiam receber reforços.

A explicação para tal surpresa é simples. Ao longo da semana que precedeu o ataque, os alemães perceberam que uma ofensiva naquele setor era iminente e que a única coisa a fazer era diminuir o número de soldados na primeira linha de trincheiras, posicionando-os logo atrás para que pudessem reocupar seus lugares assim que o ataque da infantaria começasse. Deu certo.

À exceção do sucesso obtido pelas unidades francesas, mais experientes, expulsando os alemães da primeira linha de trincheiras, e de algumas outras que combateram próximas a elas, os britânicos de modo geral sofreram uma fragorosa derrota.

Surpresa e morte

Douglas Haig, que jamais esteve na linha de frente, não poderia imaginar que ao final daquele 1º de julho, dos 24 quilômetros do sistema de trincheiras inimigas, apenas 4,5 seriam ocupados. Muitos pontos conquistados foram retomados pelos alemães, após ferozes contra-ataques, e diversas unidades, ou mesmo soldados desgarrados de suas companhias, só puderam voltar para suas trincheiras sob a proteção do escuro da noite.

E a escuridão permitiu a corajosos enfermeiros recuperar muitos de seus camaradas feridos, abandonados na “terra de ninguém”. Essas ações na linha de frente lhes renderiam as mais altas condecorações distribuídas pelas Forças Armadas britânicas, como a Victoria Cross.

Mas o primeiro dia da Batalha do Somme entraria para a história britânica não só pela derrota ou pela entrega de altas condecorações. Nunca, em nenhuma outra guerra, eles haviam perdido tantos homens em um único dia. Oficialmente, as baixas chegaram a quase 58 mil homens, incluindo 21 mil mortos. Apenas para efeito de comparação, os alemães tinham 35 mil homens defendendo suas linhas de frente e sofreram aproximadamente 6 mil baixas, entre mortos e feridos.

A Batalha do Somme teria ainda quatro longos meses pela frente. Ao final do primeiro dia, porém, estava claro que as concepções do período pré-guerra, muitas delas forjadas ainda no século 19, não estavam à altura do tipo de combate que as tecnologias e táticas do novo século exigiam.