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Matérias / Brasil

A rivalidade entre Dadá e Maria Bonita

Esposas dos dois maiores cangaceiros do sertão nordestino, essas mulheres viveram curiosos episódios

Pamela Malva Publicado em 24/03/2020, às 13h00 - Atualizado em 31/01/2023, às 13h03

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Dadá, Lampião e Maria Bonita, respectivamente - Wikimedia Commons
Dadá, Lampião e Maria Bonita, respectivamente - Wikimedia Commons

O dia no sertão nordestino raiava, e Sérgia Ribeiro da Silva, a Dadá, de 13 anos, vivia sua infância como podia. Morava na casa de dona Vitalina, sua mãe, e tinha certa convivência com indígenas — até o dia em que Corisco resolveu fazer uma visita.

Gigantesco perto da menina indefesa, o cangaceiro Cristino Gomes da Silva Cleto a violentou, tirando sua virgindade da pior forma. Ela sangrou por dias e foi raptada pelo homem, obrigada a viver a vida do cangaço.

Como se não bastasse, pouco tempo depois, uma novata entrou no bando de cabeça em pé, cheia de si e o pior: por vontade própria. Maria de Déa veio ao lado de Lampião, o Rei do Cangaço, quando ainda tinha 15 anos e chacoalhou a história. Tornou-se a primeira mulher cangaceira do Brasil.

Com a chegada da forasteira, outras mulheres começaram a fazer parte do grupo. Mas nunca porque queriam, como era o caso de Dadá. O fato de ter sido obrigada a ter relações com Corisco, no entanto, não influenciou seus sentimentos por ele.

Maria Bonita e Lampião (esquerda) e Dadá e Corisco (direita) / Crédito: Wikimedia Commons

Em pouco tempo, Dadá se apaixonou, disse que o amava e casou-se com ele. Dessa relação nasceu Josafá, loiro como o pai, primeiro filho da jovem. Como a tradição do cangaço mandava, todavia, o bebê foi arrancado dos braços da mãe ainda pequeno.

Como diria anos depois, a cangaceira sentiu a maior dor do mundo e, meses mais tarde, descobriu que Josafá não sobrevivera à vida no sertão. Dadá perdeu seu filho para um fazendeiro, assim como Maria de Déa.

Todos os infortúnios aumentaram seu desgosto por Maria Bonita, uma mulher expansiva, de risada alta. Para Dadá, a esposa do Rei do Cangaço, sua rival, não passava de “abusada, ranzinza, orgulhosa, metida a besta, barulhenta e arrumadinha feito uma boneca”, como ela mesma veio a descrever.

A verdade é que existiu uma rivalidade entre Maria Bonita e Dadá, como destacado por Adriana Negreiros, autora de Maria Bonita: Sexo, violência e mulheres no cangaço, em matéria para a Piauí. Dadá não gostava do fato de que Maria Bonita mandava e desmandava no cangaço. Por mais que fosse a rainha do subgrupo de cangaceiros de seu marido, Corisco, Dadá não tinha a mesma autoridade que Maria.

Certa vez, a cangaceira referiu-se ao comportamento de Maria de Déa como “Bacana que só ela, só quer ser mais”. O sentimento, pelo menos, era recíproco. Um dia, durante uma das travessais do grupo pelo sertão, Maria de Déa cavalgava sobre um burro de personalidade forte, chamado Velocípede. Ele estava tendo um dia daqueles e demonstrava certa resistência nas mãos da Rainha do Cangaço.

Dadá com suas roupas de cangaceira / Crédito: Reprodução/Pinterest

Ao seu lado, com graça, vinha Dadá, sobre um cavalo magro, mas tranquilo. Maria não teve dúvidas: exigiu que a rival descesse da montaria e trocasse com ela. Contrariada, Dadá obedeceu, subiu no burro, mas decidiu que iria se vingar.

Determinou, no mesmo segundo, que selaria sua amizade com Lampião. Vale ressaltar que a traição dos cangaceiros NUNCA foi confirmada, mas é conhecido que, naquela mesma noite, o Rei do Cangaço chegou à casa de Corisco com uma melancia em mãos para presentear o casal.

Dadá riu e disse que não tinha o que dar em troca do presente tão generoso e os dois ficaram juntos na cabana, numa “risadaria dos pecados”. 

Tudo acabou quando Maria de Déa foi morta, junto de seu marido, em uma emboscada policial, em 1938. Dadá e Corisco não estavam com o bando e escaparam. A mulher morreu apenas em 1994, já com 78 anos, na Bahia, onde passou grande parte da vida.