Busca
Facebook Aventuras na HistóriaTwitter Aventuras na HistóriaInstagram Aventuras na HistóriaYoutube Aventuras na HistóriaTiktok Aventuras na HistóriaSpotify Aventuras na História
Matérias / Coluna

De mãe para filha: As virtudes da Imperatriz Teresa Cristina e da Princesa Isabel

Antes de embarcar para o exílio, a imperatriz teria dito: “Que mal fizemos nós ao Brasil? Nunca mais verei o meu Brasil”, então Tereza Cristina, aos 67 anos de idade, ajoelhou-se e beijou o chão

M.R. Terci Publicado em 19/01/2020, às 09h00

WhatsAppFacebookTwitterFlipboardGmail
Dom Pedro II, Tereza Cristina e as filhas do casal em pintura oficial - Wikimedia Commons
Dom Pedro II, Tereza Cristina e as filhas do casal em pintura oficial - Wikimedia Commons

Sensível e tão humilde a ponto de fazer qualquer brasileiro se sentir parte da família, assim poderíamos descrever tanto a imperatriz Teresa Cristina de Bourbon como sua filha, a Princesa Isabel de Bragança.

Tereza Cristina, nasceu em Nápoles, Itália. Era filha de Francisco Bourbon, príncipe herdeiro e mais tarde Rei Francisco I do Reino das Duas Sicílias. Chegou ao Brasil em data de 3 de setembro de 1843, acompanhada de uma comitiva formada por vários intelectuais, cientistas, artistas e artesãos italianos.

No dia seguinte, desembarcou no Rio de Janeiro, onde Dom Pedro II, sua irmã e todo ministério aguardavam. Um enorme cortejo percorreu as ruas enfeitadas. A cidade estava toda enfeitada, a população a saudava calorosamente e o cortejo a acompanhou até a capela real do Paço onde foi celebrada a união do casal real.

A imperatriz Tereza Cristina cozinhava as refeições diárias da Família Imperial, apenas com a ajuda de uma empregada, que fazia questão de remunerar com salário. Fim de sua biografia.

Inobstante o desinteresse das historiografias italiana e brasileira pela imperatriz, cujo foco e deferência constantes se voltavam para Dom Pedro II, Tereza Cristina viria a validar a assertiva de que por trás de um grande homem, há sempre uma grande mulher.

Suas ações, realizadas sem alarde, prestaram inestimáveis serviços à cultura brasileira e às relações entre a sua pátria de nascimento e a de adoção. A imprensa brasileira pouco falou da imperatriz, cuja vida pública permaneceu à sombra do marido. O comportamento discreto de Tereza Cristina, natural em uma princesa europeia elevada à imperatriz dos Trópicos, sugere o injusto esquecimento de sua atividade cultural, digna da maior atenção.

Nascida numa região rica em sítios arqueológicos, desde jovem a princesa do ramo Bourbon dedicou-se ao estudo da história e arqueologia.

Três anos depois, nascia Isabel de Bragança, a segunda de quatro filhos, mas a primeira menina, do imperador Pedro II e sua esposa a imperatriz Tereza Cristina. Como herdeira do Império do Brasil, ela recebeu o título de princesa.

A personalidade de Isabel viria a distanciá-la da política, achegando-se, assim, à vida doméstica. Contudo, como sua educação foi bem ampla, enquanto seu pai viajava pelo exterior, a princesa serviu três vezes como regente do Império. Na terceira, em 1888, assinou a Lei Áurea, ação que se mostrou amplamente popular e lhe garantiu a alcunha de “A Redentora”.

Sua condição de mulher, seu forte catolicismo e seu casamento com um estrangeiro – o Conde D’Eu, príncipe francês – renderam forte oposição contra eventual sucessão ao trono, o que me parece uma grande injustiça. A princesa Isabel teria sido uma rainha digna, íntegra, uma governante tão ou ainda mais competente que Dom Pedro II.

Da parte de alguns nobres e dos jornais da época, mãe e filha seria razão de chacota por conta da simplicidade e falta de capricho de seus trajes. A imperatriz, por exemplo, nunca usou as joias da coroa e, no mesmo ano em a filha assinava a Lei do Ventre, Tereza viria a doar todas as suas joias pessoais para a causa abolicionista o que enfureceu a elite escravocrata.

A princesa recebia, com frequência, amigos negros em seu palácio em Laranjeiras para saraus e pequenas festas. Antes do advento da Lei Áurea, Isabel escondia escravos fugidos na casa de veraneio da família, em Petrópolis, e arrecadava fundos para alforriá-los.

A imperatriz Tereza Cristina, por seu turno, apesar do empenho de nobres e imprensa em desacreditá-la como medíocre, conduziu trabalhos em sítios etruscos ao norte de Roma e graças ao seu empenho, a coleção Greco-Romana do Museu Nacional da Quinta da Boa Vista incluía peças recuperadas de escavações em Herculano e Pompeia, acervo que continuou sendo enriquecido até seu marido ser deposto pelo golpe militar de 1889. Herança arqueológica com mais de setecentas peças que se perderam no incêndio de 2018.

Além de inspirar as primeiras pesquisas arqueológicas brasileiras, a imperatriz foi conselheira de Dom Pedro II na área da música, aconselhando-o a financiar bolsas de estudos para diversos musicistas brasileiros na Europa, bem como trazer ao Brasil companhias de ópera mundialmente famosas. Tereza Cristina estimularia, ainda, a política de imigração italiana.

Antes de embarcar para o exílio, a imperatriz teria dito: “Que mal fizemos nós ao Brasil? Nunca mais verei o meu Brasil.” Então, numa atitude totalmente distinta daquela que Carlota Joaquina teve em 1821, Tereza Cristina, aos 67 anos de idade, ajoelhou-se e beijou o chão.

Em seu exílio, em 1904, Isabel foi perguntada por que a família não usava as joias imperiais do Brasil. Respondeu que tanto ela como a mãe sabia que aquelas joias não as pertenciam, que poderiam usa-las em qualquer ocasião, mas que simplesmente não o faziam porque se tratavam de “adornos grandes, pesados e de extrema arrogância com nosso povo”.


M.R. Terci é escritor e roteirista; criador de “Imperiais de Gran Abuelo” (2018), romance finalista no Prêmio Cubo de Ouro, que tem como cenário a Guerra Paraguai, e “Bairro da Cripta” (2019), ambientado na Belle Époque brasileira, ambos publicados pela Editora Pandorga.


**A seção 'Coluna' não represente, necessariamente, a opinião do site Aventuras na História.