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Matérias / Império Romano

Dragões e palácios de vidro: Como os antigos chineses imaginavam o Império Romano

No manuscrito Weilue, do século 2, romanos tinham criações de dragões, soltavam fogo pela boca e criavam seda no mar. Mas há também vários acertos. E a parte estranha tem explicação

Thiago Lincolins Publicado em 28/06/2019, às 08h00

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Reprodução
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Romanos e Chineses da Antiguidade sabiam bem da existência uns dos outros, e sabiam que eram grandes impérios. Eram, afinal, o ponto final e inicial da Rota da Seda, que levava o precioso tecido da China para as cobiçosas mãos romanas.

Mas esse contato era indireto. Apesar de diversas tentativas, no caminho havia outros impérios, como os persas, que faziam questão de manterem seu trabalho de atravessadores e evitar que cliente achasse fornecedor. Muitas tentativas foram feitas de enviar embaixadores, mas não há nada 100% comprovado e detalhado, de alguém que foi e voltou.

Assim, as notícias chegavam ao estilo telefone de latinha. Graças ao Weilüe ("Uma Breve História de Wei"), texto chinês escrito entre 239 e 265, podemos saber o como os chineses do Século III imaginavam os romanos.

O autor é Yu Huan, um historiador chinês que viveu no império de Cao Wei, durante o período dos Três Reinos, e ouvia relatos de marinheiros chineses, em contato com persas e árabes, dificilmente romanos.

Apesar da obra ter sido perdida, alguns capítulos foram recuperados e publicados em 429. Eles detalham a organização da sociedade romana do século 3, os produtos que eram fabricados, as inúmeras roupas que eles usavam, os perigos encontrados no caminho e até instruções sobre como chegar em Da Qin – literalmente "China Maior".

Ainda hoje, historiadores debatem por que os chineses deram um nome tão improvável para um povo distante. Como aparecerá em algumas citações abaixo, eles consideravam os romanos seus semelhantes, a outra grande civilização.

O texto foi redigido em inglês por John E. Hill, da Universidade de Washington. "Embora o Weilüe nunca tenha sido classificado como uma história oficial ou "canônica", sempre foi estimado pelos estudiosos chineses como uma fonte única e preciosa de informações históricas e geográficas", diz Hill na tradução da obra.

A seguir, alguns do trechos com os relatos mais relevantes ou exóticos. As explicações vem dos comentários de John Hill na tradução.

A rota

“Basta atravessar o Oceano Índico, ir direto para o Egito, navegar pelo Mediterrâneo por cerca de seis dias, e você vai acabar diretamente no Império Romano”. Descrição correta do caminho.

A cidade

“O rei tem sua capital perto da foz de um rio. As paredes externas da cidade são feitas de pedra”. É uma boa descrição. Roma fica na foz do rio Tibre e tinha muralhas.

“As pessoas comuns escrevem em hu [alfabeto latino]. Eles tem edifícios de múltiplos andares, públicos e privados”. Certeiro. Roma era relativamente bem alfabetizada e a maioria dos romanos morava nas insulas, prédios de até 10 andares.

“Eles usam vidro para fazer pilares e utensílios de cozinha no palácio”. Provavelmente uma interpretação confusa dos mosaicos, que podiam ser feitos de vidro e cobrir paredes e pilares em palácios romanos.

Os romanos

“O governante deste país não é fixo. Quando desastres resultam de fenômenos incomuns, eles o substituem sem cerimônias, instalando um homem virtuoso como rei e liberando o velho, que não pode demonstrar ressentimento”. Quem conhece a história de Roma e seus césares assassinados entende o otimismo inocente por aqui.

“Não há bandidos ou ladrões, mas há tigres e leões ferozes que matam aqueles que viajam pela rota. Se você não está em um grupo, você não consegue passar”. Tigres e, sim, leões existiam no Sudeste Asiático, no meio caminho. Ainda hoje existem leões indianos, em extinção.

“Quando o rei faz um passeio, manda um homem segui-lo com um saco. Quem tem algo a dizer deixa sua petição no saco”. Novamente, uma fantasia sobre um império ideal.

“As pessoas comuns são altas e virtuosas como os chineses, mas usam roupas hu [ocidentais]. Eles dizem que originalmente vieram da China, mas a deixaram”.

Para o autor, os romanos são iguais dos chineses. Talvez para justificar a admiração surja essa exótica história de origem.

“Eles tem uma impressionante tradição de magia. Podem produzir fogo pela boca, amarrar a si próprios e escapar e fazer malabarismo com até 12 bolas ao mesmo tempo”.

Soa como um espetáculo atribuído a todos os romanos

Produtos romanos

“Eles produzem lindos brocados vindos do pelo das ovelhas d'água”.

Seda do mar existe. É produzido do bisso, os filamentos de sustentação, da ostra Pinna nobilis.

“Dizem que eles não só usam lã de ovelha, mas também cascos de árvores, ou a seda de casulos selvagens, para fazer tecidos de seda bordados com ouro e prata, tapetes e cortinas”.

Produtos [entre muitos]: ferro, ouro, prata, cobre, dez variedades de vidro, ursos negros, tartarugas divinas, rinocerontes, filhotes de dragão vermelhos e sem chifres

Os romanos chamavam à resina da Dracaena cinnabari de "sangue de dragão".