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Matérias / Personagem

Esporo: a saga do amante de Nero

Durante seus 20 anos de vida, o rapaz foi obrigado a viver como Poppaea Sabina e foi usado como troféu pelos poderosos romanos

Vanessa Centamori Publicado em 24/03/2020, às 10h00 - Atualizado em 24/10/2023, às 19h55

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Busto de Nero, imperador - Domínio Público
Busto de Nero, imperador - Domínio Público

O imperador Nero foi um dos mais comentados da História. Em uma de suas histórias, o soberano também castrou um dos homens com quem se relacionou.

Esse homem era um jovem chamado Esporo, que foi escravo desde a infância. Ele tinha uma beleza muito notável e por isso foi escolhido para ser um puer delicatus — assim eram chamados os escravos dos cidadãos romanos mais importantes. 

Paixão inusitada 

Quando Nero conheceu Esporo, se apaixonou, foi amor à primeira vista. Mas os motivos daquela paixão não eram românticos. A questão que atraiu o imperador foi que, na verdade, ele lembrava sua ex-esposa, como registrado pela obra Nero Por Edward Champlin.

Obra Os Remorsos de Nero após matar sua mãe, por John William Waterhouse, 1878 / Crédito: Wikimedia Commons 

Entre as narrativas que existem, registradas pelos escritores Suetônio, Tácito e Cássio Dio, ela teria sido morta em um ato de violência cometido pelo próprio Nero. E para piorar as coisas, a mulher ainda estava grávida quando teria sido agredida brutalmente. No entanto, vale destacar que historiadores modernos apontam o exagero nos registros antigos e alegam que a esposa do imperador pode ter falecido diante de complicações fatais de aborto espontâneo ou até mesmo no parto.

Mas voltemos à Esporo. Quando Nero se encantou pelo moço, ele foi de certa forma alforriado da sua condição de escravo, mas, por outro lado, isso não significava que ele teve liberdade. A começar pela identidade do rapaz: ele não mais foi chamado de Esporo, mas passou a responder pelo mesmo nome da antiga companheira de Nero. 

O ator Hans Matheson, como Nero, no filme Imperium: Nero, de 2004 / Crédito: Divulgação 

Em 'A vida dos doze césares', Suetônio diz que o jovem foi castrado e também teve que casar com Nero em uma cerimônia tradicional. A celebração incluiu um véu nupcial e até um dote pela mão do ex-escravo foi incluso. 

"Ele castrou o menino Sporus e realmente tentou fazer dele uma mulher; e ele o casou com todas as cerimônias usuais, incluindo um dote e um véu de noiva, levou-o para sua casa acompanhado por uma grande multidão e o tratou como sua esposa", escreveu ele. 

Busto de Nero, em detalhes / Crédito: Wikimedia Commons 

Um relato que diz o que ocorreu após a morte do imperador. Esporo colocou no cadáver de Nero um anel com um enfeite que representava a deusa Proserpina. 

Segundo a mitologia grega, essa deusa foi forçada por Plutão, o deus do submundo, a viver com ele como sua esposa. De certa forma era isso que Esporo sentia: estaria ele aliviando toda a sua angústia por meio do simbolismo do anel?  

De mão em mão 

Esporo foi obrigado novamente a servir outro homem, dessa vez Ninfídio Sabino, comandante da guarda imperial romana. Sabino também tratou Esporo como sua esposa. 

Tal passo, além disso, era um modo de começar a ter o seu desejo atendido de ser o próximo imperador romano. Os planos de Sabino, no entanto, fracassaram. Quem assumiu foi na verdade o primeiro marido de Sabino, Otão, que governou por três meses, de 15 de janeiro de 69, a 16 de abril do mesmo ano. 

O imperador romano Otão / Crédito: Wikimedia Commons 

O governo de Otão acabou rápido, pois ele cometeu suicídio, durante a rebelião do exército de Vitélio (seu sucessor). O novo imperador também se relacionou com Esporo. Só que em vez de fazer do jovem sua esposa, ele optou por algo muito pior. 

Vitélio tentou ridicularizar Esporo em público, para que servisse de exemplo à população. A sua ideia era fazê-lo participar de uma apresentação que encenaria a lenda do rapto de Proserpina — um ato que envolvia violência e estupro. Para evitar se expôr, Esporo se matou.