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Matérias / Nazismo

Felice Schragenheim e Elisabeth Wust, um amor proibido no auge do Terceiro Reich

Atraídas intensamente, essas duas mulheres viveram um romance improvável: uma era judia, e a outra era casada com um soldado da SS

Joseane Pereira Publicado em 12/06/2020, às 07h00

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Cena do filme Aimée & Jaguar, que retrata a história de amor entre Felice Schragenheim e Elisabeth Wust - Getty Images
Cena do filme Aimée & Jaguar, que retrata a história de amor entre Felice Schragenheim e Elisabeth Wust - Getty Images

Diante dos horrores perpetrados pelo Nazismo, com seu ódio a judeus e homossexuais, a história de amor entre uma mulher judia e outra casada com oficial alemão parece obra de ficção. Mas ela aconteceu — e o casal conseguiu viver seu romance, mesmo que por pouco tempo.

Amor proibido

Felice Schragenheim, nascida em 9 de março de 1922 no seio de uma família judaica, trabalhava como jornalista em Berlim durante a ascensão do regime nazista. Atuando na Resistência contra o regime, ela fazia seus serviços em jornais nazistas com o nome falso de Felice Schrader, para conseguir informações secretas.

Felice Schragenheim / Crédito: Wikimedia Commons

No verão de 1942, quando contava com apenas 20 anos, Felice conheceu Elisabeth Wust através de uma colega, empregada doméstica na casa dos Wust. Elisabeth, ou Lilly, era casada com o soldado alemão Gunther Wust e mãe de quatro filhos. As duas acabam se apaixonando logo após se conhecerem, iniciando um relacionamento secreto e intenso.

Felice costumava tomar chá com ela frequentemente, levando flores e poemas, e as duas se correspondiam por cartas. "Houve uma atração imediata e flertamos escandalosamente. Comecei a me sentir viva como nunca antes. Ela era minha outra metade, literalmente meu reflexo, minha imagem no espelho", afirmou Lilly em entrevista para o jornal The Guardian em 2001.

Elisabeth Wust em 1943 / Crédito: Wikimedia Commons

Em 1942, após Lilly se separar legalmente do marido, as duas passaram a viver juntas. O romance durou até 1944, quando Felice foi denunciada para autoridades e acabou sendo capturada pela Gestapo, sendo levada para o campo de Theresienstadt, na atual Tchecoslováquia.

Antes que o casal pudesse se encontrar novamente, Felice foi enviada a Auschwitz. Acredita-se que ela tenha falecido em dezembro de 1944 no campo de Bergen-Belsen, mas a data e local ainda hoje são incertos. O que se sabe é que ela repentinamente parou de enviar suas cartas, desaparecendo completamente após essa data.

Memórias

Elisabeth Wust viveu mais 60 anos após a morte de sua amada. Na entrevista dada por ela em 2001, a alemã, que contava com 89 anos, comentou sua história da seguinte forma: “Era o amor mais terno que você poderia imaginar. Eu era bastante experiente com homens, mas com Felice cheguei a uma compreensão sexual mais profunda do que nunca. Encontrei pela primeira vez um amor esteticamente bonito e terno... Duas vezes desde que ela partiu, senti sua respiração e uma presença quente ao meu lado. Sonho que nos encontraremos novamente — vivo na esperança”, acrescentou ela.

Em 1994, Elisabeth cedeu suas memórias para a escritora britânica Erika Fisher, que escreveu o livro Aimée & Jaguar retratando essa história de amor — e a obra deu origem ao filme do mesmo nome. Após seu falecimento, em em março de 2006, uma lápide relembrando a relação de amor entre as duas foi colocada em seu túmulo.


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