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Matérias / Brasil

Filhote de Cruz-Credo: O Bebê-Diabo de São Paulo

Na década de 70, a notícia do nascimento de uma criança com chifres e rabo roubou as manchetes do ABC Pauslita

Vinícius Buono Publicado em 23/12/2019, às 08h00

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Capa do Notícias Populares de 1975 noticiando o nascimento do Bebê-Diabo - Divulgação
Capa do Notícias Populares de 1975 noticiando o nascimento do Bebê-Diabo - Divulgação

O jornal Notícias Populares, de circulação na capital paulista e em sua região metropolitana, ficou conhecido por suas manchetes sensacionalistas. Produzido pela Folha de São Paulo, o periódico durou de 1963 até 2001. Foi em 1975, no entanto, que o jornal viveu seu apogeu: em pleno domingo de dia das mães, a capa trazia a manchete Nasceu o Diabo em São Paulo — Bebê com Chifres, Rabo e Falando. 

A notícia falava sobre o nascimento do Bebê-Diabo em São Bernardo do Campo, no ABC paulista. O filho do Cramulhão teria nascido com chifres, pelo, rabo, falando e já xingando os médicos, enfermeiros e até a própria mãe.

A história gerou uma enorme e imediata comoção. Apenas oito exemplares, ao todo, restaram nas bancas no primeiro dia do que viria a ser a saga do Bebê-Diabo, que ocupou espaço entre as manchetes do Notícias Populares por 25 dias ininterruptos, e 37 dias no total como notícia. A tiragem do jornal, que costumava ficar na casa dos 80 mil exemplares, saltou para 200 mil. Um verdadeiro pacto com o Belzebu.

A manchete do jornal Notícias Populares / Crédito: Divulgação

As notícias contavam como o bebê teria nascido com, além de uma aparência peculiar, maléfica e muito semelhante à ideia de que temos do Coisa-Ruim, um temperamento vil e repulsivo. Segundo o relato, ele teria ameaçado de morte todos no recinto assim que foi retirado da barriga da mãe, pois a luz do dia, que entrava pela janela, o incomodava.

A segunda reportagem era sobre o desaparecimento do Bebê-Diabo. Depois de causar um verdadeiro inferno no hospital, ele fugiu praguejando enquanto saltava da janela do terceiro andar. Durante quase um mês, aparições foram relatadas pelo jornal e, também, pelo público. Num país religioso como o Brasil, a notícia causou furor principalmente entre as pessoas mais simples, que juravam ter visto o pequeno Satanás ou terem conhecido alguém que o fez e, por isso, enlouqueceu.

O aparecimento do Capeta mudou a rotina dos moradores do ABC. Por um breve período, quaisquer desavenças na região eram atribuídas a ele. Não se via mais crianças na rua e as portas eram trancadas mais cedo. Por isso, alguns fanáticos religiosos prometeram extinguir o Bebê-Diabo, principalmente porque eles eram seus alvos principais, já que o jornal contava histórias de como o Filhote de Cruz-Credo infernizou padres e arruinou um ritual de umbanda.

Procissões contra ele eram noticiadas, e sobrou até para o Zé do Caixão a incumbência de capturá-lo. Enquanto isso, o jornal também adicionava mais informações sobre o Tinhoso em si. Seu pai seria um fazendeiro de Marília, cidade no interior de São Paulo, que não tirava o chapéu por nada nesse mundo, pois esse lhe escondia os chifres.

A mãe seria a causadora do fato do bebê ser o Diabo. Segundo um suposto médico entrevistado pelo NP, ela teria se referido ao próprio bebê como o diabo algumas vezes durante a gestação, o que teria enviado uma descarga de energias negativas.

Algumas pessoas podem até se perguntar, ainda hoje, se o bebê de fato existiu. A história que serviu de base para a criação de toda essa histeria é sobre um dos repórteres indo apurar o fato de um bebê que realmente nasceu com chifres e rabo, ou seja, más formações na cabeça e na coluna que se assemelhavam a tais coisas, mas que foram consertadas imediatamente com cirurgias simples.

O problema é que dizer a verdade não atraía o interesse do público, enquanto o Filho do Capeta virou uma história tão gigantesca quanto lucrativa. O sobrenatural era um tema recorrente do NP, que já havia noticiado sobre O Vampiro de Osasco.

Depois de mais de um mês e inúmeras histórias tanto do jornal quanto do próprio povo (as pessoas juravam ter visto o bebê-domoníaco), a lenda enfim saturou. De qualquer maneira, o Bebê-Diabo deixou sua marca no imaginário do público paulista. Hoje, quase meio século mais tarde, ainda são poucas as pessoas que não conhecem o pequeno demônio e suas peripécias.


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