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Matérias / Europa

O Grande Fedor: quando o cheiro de esgoto tomou Londres

Diante do mau cheiro do lixo, dos excrementos e dos efluentes humanos depositados no Rio Tâmisa, Joseph Bazalgette fez um verdadeiro milagre

André Nogueira Publicado em 23/03/2020, às 08h00

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Ilustração do episódio em Londres - Divulgação
Ilustração do episódio em Londres - Divulgação

O Grande Fedor de Londres foi um evento desgostoso ocorrido no verão de 1858. Nesse ano, o calor absurdo fez potencializar o mau cheiro do lixo, dos excrementos e dos efluentes humanos depositados no Rio Tâmisa.

Durante anos, os resíduos eram depositados nas margens do rio. Entretanto, naquele aquele ano, os efeitos da negligência tomaram a cidade.

Era uma época em que Londres crescia exponencialmente. Entre 1801 e 1861, a cidade aumentou de 950 mil pessoas para 2,8 milhões. E foi somente em 1853 que nasceu o primeiro órgão responsável por obras públicas na capital (o Metropolitan Board of Works).

O problema dos dejetos humanos era resolvido com fossas (mais de 200 mil pela cidade) que transbordavam corriqueiramente. A parte pobre da cidade lançava os dejetos nas ruas e rios. Mesmo as redes de esgotos existentes não eram como as contemporâneas - elas eram projetadas para impedir alagamentos em Londres, não para a distribuição saudável da água suja.

Dirty Father Thames, personificação do Grande Fedor / Crédito: Wikimedia Commons

E todos os afluentes dessa rede desembocavam no Rio Tâmisa, que corta Londres. Em pouco tempo, com o crescimento desenfreado da cidade, o rio se tornou uma poça de esterco. Quando ele estava caudaloso, os excrementos eram deslocados de um lado para o outro, ao passo que quando não chovia, as águas ficavam paradas e os resíduos, boiando.

Ao mesmo tempo, o século 19 marcou o crescimento do uso do vaso sanitário, que aumentou a pressão exercida sobre esse sistema de esgotos, pois exigiam muita água. Rapidamente, o efeito foi o de agravamento da situação fétida do Rio. Meses antes do Grande Fedor, houve um surto de cólera que foi diretamente atribuída à questão do lixo depositado e ao cheiro de podridão.

O mau cheiro e as ameaças à saúde dos londrinos fizeram com que as autoridades locais focassem a situação como questão pública. Iniciou-se uma busca por soluções para aquele quadro nojento, que foi encontrada no plano de revitalização da rede de esgotos de Joseph Bazalgette.

 Joseph Bazalgette / Crédito: Getty Images

Bazalgette tinha uma estratégia de aproveitar a topografia de Londres para criar um sistema de vias subterrâneas para o escoamento dos dejetos. Como Londres foi construída na encosta de um vale, há uma região mais alta que possibilitava a criação de um fluxo controlável para os esgotos.

Esse plano possibilitou que a rede de Londres pudesse interceptar as águas canalizadas e acompanhar o fluxo do Tâmisa, para que, assim, se lançasse os excrementos para fora da cidade. Nos cruzamentos para onde as vias convergiam, foram construídas estações de tratamento da água. Quando a correnteza rio para a foz era mais intensa, as comportas da rede eram abertas e a água suja era facilmente lançada para fora do perímetro urbano.

Obras no centro de Londres / Crédito: Reprodução

A experiência londrina com o Grande Fedor, que culminou na solução de Bazalgette, fundamentou o que hoje entendemos como Planejamento Urbano, que não era incentivado como prática governamental até a metade do século 19.

O engenheiro criou bases sólidas para o argumento de que uma boa cidade funcional passa pela administração e a construção racional de uma infraestrutura decente.