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Matérias / União Soviética

Gulag: A tragédia da União Soviética

Os campos de trabalhos forçados soviéticos levaram milhões de prisioneiros à morte

Eduardo Sklarz Publicado em 22/12/2019, às 10h00 - Atualizado às 12h00

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Retrato de Stalin - Getty Images
Retrato de Stalin - Getty Images

Os soviéticos foram prodígios em criar siglas. Por trás de uma delas, Gulag (Glavnoe Upravlenie Lagerei, ou Administração Central dos Campos), escondia-se uma rede de campos de prisioneiros, onde condenados por crimes contra o Estado eram isolados e submetidos a trabalhos forçados. Embora fossem comuns no império dos czares — Pedro, o Grande, utilizou trabalhos forçados para construir São Petersburgo, por exemplo —, os campos soviéticos atingiram o inominável.

“No maior deles, em Kolyma, 3 milhões de pessoas morreram”, diz Applebaum, jornalista americana autora de Gulag — A History (Gulag — Uma História), vencedor do prestigiado prêmio Pulitzer de jornalismo, em 2003.

As primeiras levas de prisioneiros começaram a chegar durante a guerra civil, de 1918 a 1921, quando monarquistas e republicanos apoiados pelas potências estrangeiras tentaram derrubar o governo bolchevique. Mas, desde aquela época, nem só contra revolucionários acabavam hóspedes do Gulag.

A polícia secreta (cuja sigla mudaria de GPU, para OGPU, NKVD, e finalmente KGB) tratou de alimentar os campos com todo tipo de gente que pudesse ser minimamente resistente às novas regras: anarquistas, sionistas e descontentes em geral eram considerados espiões. Com o tempo e a ascensão de Stalin ao poder, o conceito de inimigo foi ficando cada vez mais amplo.

“Proprietários rurais que resistissem à coletivização de suas terras, por exemplo, acabavam presos. Entre 1930 e 1933, Stalin mandou 2 milhões deles para Sibéria”, afirma Applebaum. Nessa época, os Gulag se transformaram no motor do crescimento industrial da União Soviética.

Em turnos de até 30 horas, os prisioneiros construíram estradas, aeroportos e campos de petróleo. Segundo a jornalista, ex-correspondente da revista The Economist  na Roupa Oriental, foi em 1937, quando a repressão stalinista chegou ao ápice, que os Gulag se tornaram campos de execução.

Prisioneiros no Gulag / Crédito: Getty images

“Somente a ordem em número 00485 da NKVD, contra ‘desviantes e grupos de espionagem’, resultou na prisão de 350 mil pessoas, dos quais 247.157 foram fuzilados — entre eles, 110 mil poloneses”. O entra-e-sai nos campos era constante, já que tudo mudava com o humor volátil de Stalin e suas alianças. O carrasco de hoje podia ser a vítima de amanhã.

O próprio chefe da NKVD, Nikolai Yezhov, foi fuzilado num campo. As execuções eram feitas pelos próprios guardas. “Geralmente à noite, os prisioneiros eram levados para a floresta e mortos a tiros. Depois eram sepultados em valas coletivas”, diz Applebaum. O dia a dia nos campos era in suportável. Muita gente morria de fome e frio, vítima das péssimas condições de higiene e saúde.

Os prisioneiros eram impedidos de revelar o próprio nome. Para evitar que soubessem o nome dos vizinhos das outras celas, eram chamados por uma letra do alfabeto. O guarda gritava G, por exemplo, e todos que tivessem sobrenomes começando com essa letra deveriam se levantar para interrogatório.

A pressão psicológica era enorme e os suicídios, comuns. Em seu livro, Applebaum reproduz relatos de ex-prisioneiros que tentaram de se matar cortando as veias dos pulsos com os dentes. “Stalin usou o Gulag para manter a vida e a mente das pessoa sob controle total”, diz Natan Sharansky, ex-prisioneiro de um campo na Sibéria, acusado de colaborar com os americanos. “Em nome da igualdade, o regime pretendeu eliminar religiões, tradições, nacionalidades, tudo que dava ao ser humano a sensação de independência”, afirma.

Ao longo de sua história, a União Soviética criou pelo menos 476 grandes complexos prisionais e milhares de pequenos campos regionais. Não há consenso sobre o número do tal de presos e mortos. Applebaum afirma que houve 28,7 milhões de prisioneiros.

Contar os mortos, no entanto, é mais complicado. Segundo Tatiana Vorozheikina, professora da Escola de Ciências Economicas e Sociais de Moscou, a taxa de mortalidade nos campos girava em torno de 5%, chegando a 30% nos mais duros. “Muita gente sumiu sem deixar vestígio. Só escavações nos antigos campos poderiam chegar a um número mais próximo da verdade”.

Oficialmente, 2.749.163 milhões de pessoas morreram nos campos e no exílio. Os campos começaram a ser desmantelados após a morte de Stalin, em 1953, mas alguns resistiram até os anos 80. Só em 1987, Mikhail Gorbachev — netro de prisioneiros do Gulag — decidiu tirá-los do mapa.


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