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Matérias / Nazismo

Bebê apontado como 'ariano ideal' em revista, era judeu

Em busca da criança ariana perfeita, o ministro de Hitler caiu em uma das maiores pegadinhas do século

Redação Publicado em 17/01/2020, às 11h50 - Atualizado em 21/01/2023, às 21h24

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A imagem transformou os nazistas em uma verdadeira piada - Museu do Holocausto
A imagem transformou os nazistas em uma verdadeira piada - Museu do Holocausto

Hessy tinha 6 meses quando sua mãe, Pauline Levinsons, a levou ao estúdio fotográfico de Hans Ballin, um notório fotógrafo de Berlim. A intenção era ter uma mera recordação.

Sete meses depois, a surpresa: uma empregada voltou para casa dizendo que havia visto Hessy numa banca de revistas. Pauline não acreditou e pediu a ela que trouxesse um exemplar para casa. E eis que lá estava ela, na Sonne ins Haus (Sol em Casa).

Capa da revista / Crédito: Wikimedia Commons

A publicação, editada por um amigo do líder de aviação nazista Hermann Goering,  demonstrava o modo de vida da família nazista. Havia sido selecionada como um perfeito exemplar da criança ariana.

Essa revista foi uma das poucas permitidas a circular na Alemanha da época, porque era uma revista nazista. No interior, havia fotos do Exército com homens usando suásticas. Há uma foto do próprio Führer revendo as tropas... Era uma revista de família”, disse Hessy  em 1990, durante uma visita ao Museu Memorial do Holocausto dos Estados Unidos.

O concurso

A foto veio de um concurso promovido pelo Departamento de Propaganda Nazista, liderado por Joseph Goebbels, que procurava o bebê perfeito. O vencedor estamparia  revistas e cartões-postais, pois a reprodução dos humanos perfeitos, baseada na eugenia nazista, era uma das prioridades do partido.

Mães alemãs de muitos filhos eram condecoradas com medalhas. O programa Lebensborn, lançado em 1935, sequestrava crianças estrangeiras e chegou a incentivar moças a terem filhos fora do casamento com oficiais da SS. 

O fotógrafo Ballin viu o concurso como uma chance de ridicularizar os nazistas. Ele sabia que a família era judia e decidiu submeter a foto de Hessy ao Departamento de Propaganda. O objetivo foi alcançado: a imagem da bebê — com olhos e cabelos castanhos — foi a vencedora entre outros inúmeros candidatos.

Os pais de Hessy nasceram na Letônia, mas se mudaram para Berlim em 1928, com o objetivo de seguir carreira na música clássica. Em 1935, quando a foto foi tirada, a pior fase da perseguição ainda não começara, mas os judeus tinham sido banidos do serviço público, das artes e da mídia.

Por sorte, o partido nunca descobriu a verdadeira identidade da menina. Quando procurado pelos Levinsons, o fotógrafo disse apenas que ficassem quietos. "Foi-me pedido que submetesse as minhas dez melhores imagens para um concurso de beleza dirigido pelos nazis. Assim como a outros dez fotógrafos de destaque na Alemanha. Então dez fotógrafos enviaram suas dez melhores fotos. E eu enviei a da sua bebê", disse ele à família.

Os Levinsons fugiram da Alemanha em 1938, após o pai de Hessy se envolver em problemas com a Gestapo. Foram para Paris, e em seguida para Cuba. A família só teve descanso em 1949, quando se mudou para os EUA, onde Hessy trabalha hoje como professora, em Nova York.