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Matérias / Brasil

Estradas, agricultura e pouca caça: A surpreendente cidade perdida de Kuhikugu, na Amazônia

Com população próxima à de Lisboa, a cidade indígena não desapareceu completamente e seu estilo de vida é diferente do que se imagina

Redação Publicado em 27/12/2019, às 14h00 - Atualizado às 16h00

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Foto do alto de Kuhukugu - Divulgação
Foto do alto de Kuhukugu - Divulgação

Popularmente, imagina-se que os indígenas brasileiros chegaram aqui no Paleolítico e nele permaneceram até hoje. Diferentemente do que aconteceu na América Central e nos Andes, onde os invasores europeus toparam com cidades maiores que as da Europa, imaginava-se a vida por aqui simples, da floresta para a boca.

Mas essa imagem foi quebrada na década de 1990, quando a tecnologia de mapeamento por satélites revelou um incrível assentamento no Alto Xingu. O local, também conhecido como X11, foi batizado de Kuhukugu por causa de uma aldeia kuikuro próxima.

Em vez de vilas minúsculas como as de hoje, onde algumas dezenas de indígenas vivem de caça, coleta e agricultura em pequena escala, o que havia ali era uma densa malha urbana. Tudo era conectado por estradas, canais e pontes, vivendo de grandes fazendas, inclusive fazendas de peixes.

Enfim, um povo urbano, que não dependia extensivamente da floresta. Sua população chegava a 50 mil — o que era mais ou menos o mesmo tamanho de Lisboa na época.

Esse grande povo não foi completamente extinto. Nem conquistado. No século 16, doenças trazidas da Europa chegaram à região, dizimaram a população e acabaram com o modo de vida antigo.

Os kuikuros não têm mais grandes cidades, mas preservam a língua e hábitos desse antigo povo. A agricultura de mandioca e a falta de interesse pela caça foram alguns das heranas mantidas.

As 20 aldeias eram distribuídas de forma radial, ligadas por estradas retas, a partir da principal. O complexo ocupava uma área total de 20 mil km². O Lago Lamakuka provia a aldeia com peixes, que eram a principal fonte de proteína na dieta dos kuikuros.

Mas eles não só pescavam: praticavam a piscicultura, escolhendo as espécies e incentivando sua reprodução. Esse é um hábito praticado ainda hoje por diversos grupos indígenas.

A população indígena não era concentrada em uma grande aglomeração, como os astecas e maias, mas em múltiplas aldeias interligadas, que formavam uma entidade política. A maior delas, provavelmente a capital, tinha cinco mil habitantes. Era cercada por paliçadas de madeira para evitar ataques inimigos.

Algumas áreas da floresta eram mantidas intocadas, provendo os índios com ocasional caça e frutas silvestres. Isso era uma das razões pelas quais uma população relativamente grande não causava o estrago ambiental que uma cidade moderna similar causaria. Quando a população definhou, a floresta tomou conta de tudo.

Os kuikuros eram um povo agrícola que tinha a mandioca como a principal cultura. Era plantada extensivamente dentro e fora das aldeias. Para isso, usavam sistemas de irrigação por canais e a famosa terra preta — um adubo feito de carvão, ossos e esterco. Ela foi a primeira indicação arqueológica de que havia algo extraordinário na região.

Além de mandioca, os kuikuros plantavam árvores. A principal fruta cultivada era o pequi, que ainda hoje é popular no Brasil central — a fruta é famosa por seu sabor intenso e também pelos espinhos, que exigem cuidado especial. Pode ser consumida in natura ou usada em pratos, e a semente também é comestível.

As longas estradas de terra batida, únicas na Amazônia, são a realização arquitetônica mais impressionante dos kuikuros, e ainda hoje aparecem por satélite. Elas ligavam todas as aldeias, no que formava uma malha urbana, mais ou menos como a região metropolitana das capitais. Em algumas delas, canais corriam ao lado, permitindo o tráfego de canoas.


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