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Matérias / União Soviética

Lenin teria sido brutalmente assassinado por Stalin?

Em 1924, o revolucionário socialista morreu supostamente de arteriosclerose cerebral - com meros 53 anos. Suspeito? É o que acham alguns historiadores

Thiago Lincolins Publicado em 21/01/2020, às 09h00

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Lenin e Stalin - Getty Images
Lenin e Stalin - Getty Images

"Sonhos, acredite neles.” Parece uma frase num poster motivacional na sala do dentista, mas quem a falou foi o sisudo fundador do marxismo como forma de governo. E o seu sonho era que Marx estava errado.

Lenin foi quem defendeu que, contrário ao que Karl Marx havia dito, a ditadura do proletariado não chegaria sozinha, uma mera e inevitável consequência da evolução histórica. Seria preciso líderes, na forma de um partido de vanguarda inflexível, disposto a usar de violência. Também discordava de Marx em que a revolução aconteceria necessariamente no país capitalista mais avançado do mundo.

O pai fundador da União Soviética mal teve tempo de implementar sua visão. Em maio de 1922, antes mesmo do fim da Guerra Civil e a confirmação dos bolcheviques no poder, ele sofreu um derrame. Ao qual se sucederiam mais dois. Ele terminaria em coma, em 21 de janeiro de 1924, morrendo ao fim do dia.

Lenin em seus dias finais
Lenin em seus dias finais / Wikimedia Commons

A autópsia revelou arteriosclerose cerebral, o entupimento e endurecimento das artérias no cérebro por colesterol. Tão duras estavam suas artérias que os médicos falaram que tiniam ao ser tocadas por um fórceps. Não foi então testado por qualquer tipo de veneno. O jovem país entrou em comoção e milhões foram ver seu corpo embalsamado - contra sua expressa vontade - na Praça Vermelha. Mas alguém tinha, ao menos secretamente, um motivo para comemorar: o secretário do partido Josef Stalin.

Duas visões

Em seu período de enfermidade, Lenin teve lucidez o bastante para escrever sua carta-testamento. Nela recomendava explicitamente que Stalin fosse sacado de sua posição e que no lugar fosse posto seu favorito, Lev Trostky. Com o apoio de Lenin, Trostky discordava de Stalin numa questão extremamente crucial para o jovem país: se a revolução devia ser exportada para o resto do mundo ou se a União Soviética poderia sobreviver como uma nação entre as outras.

Stalin achava que tentar exportar a revolução seria suicídio, convidar todo o mundo capitalista a declarar guerra à União Soviética. Trotsky achava que a União Soviética não sobreviveria sozinha. A morte de Lenin, assim, foi suspeitamente conveniente para aquele que terminaria por mandar para baixo da terra, Trotsky inclusive, a todos os que discordaram de suas ideias nesse momento. Teria Lenin sido o primeiro deles?

Conspiração levada a sério

A dúvida sempre esteve nas franjas, na margem entre o que é História e o que é teoria da conspiração. Mas algumas figuras de peso ainda hoje a defendem. Em 2012, a conferência anual da Faculdade de Medicina da Universidade de Maryland, nos Estados Unidos, dedicou-se a essa questão. Lev Lurie, historiador russo e editor chefe da revista Kvartalny Nadziratel ("O Contramestre"), lembrou que, no inicio do ano em que faleceu, o revolucionário havia se recuperado dos três derrames – a ponto de ter celebrado a virada do ano e caçado. E ele não teve outro derrame.

Ao lado de Stalin / Wikimedia Commons
Ao lado de Stalin / Wikimedia Commons

Outro médico afirmou que o que houve não bate com o que se esperaria de seu registro médico. "Número um, ele era muito jovem e número dois, ele não tem nenhum dos fatores de risco importantes", disse Dr. Philip Mackowiak, que organizou o evento.

Lurie concluiu que Stalin teria "acelerado" a morte do líder da Revolução Russa ao envenená-lo. Lenin não era fumante – e muito menos gostava de fumantes por perto, além disso, também não estava acima do peso. Mackowiak ainda explica que os resultados da autopsia não apontaram evidência de hipertensão arterial.

Segundo Harry Vinters, neurologista da Universidade da Califórnia em Los Angeles, que também participou da convenção, durante a autópsia não foram realizados textos de toxicologia, que podem revelar possíveis intoxicações. Os relatórios da época também mostram que Lenin estava ativo horas antes de sua morte. "E então ele passou por uma série de convulsões realmente ruins, o que é bastante incomum para alguém que tenha um acidente vascular cerebral", afirmou.

Doença genética?

Há quase 100 anos, o corpo de Lenin se encontra exibição púbica em um mausoléu da Praça Vermelha, em Moscou. Tratado com uma forma inovadora de embalsamamento, não é muito provável que essa carne tão quimicamente modificada possa ainda conter um veneno identificável, condenando ou absolvendo definitivamente Stalin. E, mesmo que pudesse, é algo que vai absolutamente contra os interesses do regime Putin, que está tentando resgatar a figura de Stalin como um símbolo patriótico.

Antes mesmo da convenção que discutiu o assassinato, outra pesquisa médica lançou adiante a ideia de que a narrativa tradicional está certa, no fim das contas. Em 2011, o trabalho Dra. Cynthia de St. Hillaire, da Universidade de Baltimore (EUA) levantou a possibilidade de uma mutação do gene NT5E ter causado a morte precoce, ainda que contra todo o perfil do paciente. O pai de Lenin também havia morrido cedo. 


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