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Matérias / Japão

Massacre de Nanquim: o brutal episódio do Japão Imperial

A cruel morte de 300 mil chineses e a tomada de 20 mil mulheres como escravas sexuais foram uma das piores facetas do passado do país — gerando polêmica até os dias atuais

Paula Lepinski Publicado em 04/09/2020, às 10h00

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Soldados japoneses durante a guerra em foto colorizada - Wikimedia Commons
Soldados japoneses durante a guerra em foto colorizada - Wikimedia Commons

Desde o fim da Segunda Guerra Mundial, entidades chinesas e coreanas vêm exigindo que o Japão reconheça e peça desculpas formais pelos crimes de guerra cometidos durante a Segunda Guerra Sino-Japonesa (1937-1945).

E um dos maiores desses crimes é o Massacre de Nanquim, que aconteceu entre 13 de dezembro de 1937 a fevereiro de 1938. Centenas de milhares de civis e soldados chineses foram submetidos a torturas, estupros e mortes violentas pelo Exército Imperial Japonês. Estima-se que 20 mil mulheres e crianças teriam sido feitas de escravas sexuais - ao ponto de a ação também ser chamada de O Estupro de Nanquim.

Em julho de 1937, o Japão se lançou em campanha expansionista contra a China e deu início à Segunda Guerra Sino-Japonesa, que só terminaria com a derrota japonesa contra os Aliados.

Após a conquista de Xangai pelo exército japonês em novembro de 1937, era uma questão de tempo até que Nanquim caísse.  Localizada perto do mar, era um alvo fácil. O governo chinês, consciente disso, decidiu deixar à ex-capital do país durante a primeira semana de dezembro e encarregou o general Tang Shengzhi na defesa de Nanquim.

 O plano de defesa, porém, foi por água abaixo. Ao ver as tropas chinesas evacuando áreas nos arredores de Nanquim para fugir do Exército Imperial Japonês, os 100 mil soldados encarregados de defender os muros da cidade entraram em pânico. O presidente Chiang Kai-shek ordenou que Tang atirasse em qualquer um que desobedecesse as suas ordens, mas havia milhares de tropas em campo aberto que não podiam ser controladas.

Nanquim foi invadida pelo Exército Imperial Japonês em 1937 / Crédito: Wikimedia Commons

Após dois dias defendendo Nanquim de um exército com uma esmagadora superioridade numérica e munido de artilharia pesada e bombas aéreas, Tang decidiu bater em retirada. Era 12 de dezembro e havia uma única rota de fuga. O que deveria ser uma evacuação organizada logo se tornou uma fuga caótica de militares e civis. Muitos comandantes simplesmente abandonaram as suas tropas sem dar ordens de retirada - o próprio Tang escapou da cidade sem dar um anúncio oficial.

No dia seguinte, em 13 de dezembro de 1937, o Exército Imperial Japonês, sob as ordens do general Asaka Yasuhiko, invadiu Nanquim e começou a matar todos no caminho, independente de idade e gênero. Foram seis semanas de massacre sistemático, o que incluía torturas e estupros de adolescentes e mulheres.

As atrocidades cometidas foram registradas em documentos oficiais e narradas pelos sobreviventes. Há relatos de chineses sendo enterrados vivos ou decapitados em praça pública.

No documentário Nanking (2007), um sobrevivente conta como viu a sua mãe ser morta a facadas e o seu irmão, apenas um bebê, atravessado por uma baioneta e atirado em um canto de sua casa. Outra sobrevivente narra como mulheres eram recrutadas para servirem como mulheres de conforto - as escravas sexuais que os japoneses dizem não terem existido.

Profunda desonra

Essa é a versão internacional. No Japão, é um pouco diferente.

Ainda que o país tenha reconhecido oficialmente o massacre e ele esteja nos livros didáticos, a opinião pública japonesa sempre esteve dividida quanto a seu papel de vilão na Segunda Guerra.

O maior símbolo dessa ambiguidade é o Santuário Yasukuni, celebrando os militares mortos no país desde 1868. Lá militares japoneses condenados por crimes contra a Humanidade continuam a ser celebrados como heróis, recebendo ocasionais visitas de autoridades do Estado.

Na visão oficial da época do Império - e de nacionalistas ainda hoje - os japoneses eram os libertadores da Ásia contra imperialistas ocidentais. Seu exército se inspirava na tradição do bushido, o código de conduta dos samurais, pelo qual a brutal infâmia do Massacre e do estupro seria inaceitável.

Sob pressão dos nacionalistas, em 1982, o Ministério da Educação chegou a censurar a sua menção ao Massacre em livros didáticos. Hoje ele aparece, e são citados os números oficiais dos aliados, mas não há qualquer menção aos estupros.

Celebração da vitória / Crédito: Wikimedia Commons

E a memória seletiva é quase oficial. No aniversário do fim da Segunda Guerra, em 2015, o presidente Shinzo Abe manifestou profundo remorso pelas ações do país. Mas, frustrando aos que exigem uma reparação mais formal, disse que não caberia às próximas gerações estarem predestinadas a se desculparem eternamente.

No ano seguinte, o Japão se negou a pagar a sua parte do financiamento da Unesco em resposta à inclusão de documentos do Massacre de Nanquim no Registro de Memória do Mundo.

Após décadas de protestos, os chineses parecem dispostos a perdoar - ou esquecer. O silêncio do Presidente foi acompanhado por uma declaração de Yu Zhengsheng, Presidente da Conferência Consultiva Política do Povo Chinês - um cargo decorativo, mas prestigiado.

Ele afirmou que os dois países deveriam investir em uma “cooperação pacífica e amigável” e “transmitir amizade para as próximas gerações”.

Do Japão, nada.


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