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Matérias / Guerra Fria

Mathias Rust e os 32 anos da invasão de Moscou

Neste dia, em 1987, o piloto adolescente enganou a defesa aérea soviética e aterrissou na Praça Vermelha. Gerando um incidente internacional

Letícia Yazbek Publicado em 28/05/2019, às 15h30

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Mathias Rust: O jovem que enganou a força aérea soviética - Reprodução
Mathias Rust: O jovem que enganou a força aérea soviética - Reprodução

Era 28 de maio de 1987 quando um piloto amador, o alemão Mathias Rust, de apenas 19 anos, voou de Helsinque, na Finlândia, até Moscou, em um pequeno avião Cessna 172B. O jovem conseguiu driblar a defesa aérea soviética e completar o que era considerado uma missão suicida.

Àquela altura da Guerra Fria, as expectativas internacionais eram de que o processo de desarmamento nuclear avançasse. Reagan e Gorbachev só assinariam o tratado de redução dos arsenais nucleares em dezembro de 1987.

Enquanto isso, o clima de tensão continuava, e as duas potências se orgulhavam de suas forças aéreas implacáveis. Moscou era considerada uma das cidades mais bem defendidas do mundo contra um ataque aéreo direto. Para os próprios militares estadunidenses, a possibilidade de missões contra alvos soviéticos específicos significava um perigo mortal.

Mas a defesa aérea soviética não era infalível. E prova disso é que um civil, operando uma aeronave simples, conseguiu pousar no coração da cidade.

Rust em 3 de agosto de 1988, enquanto voltava à Alemanha / Crédito: Reprodução

Aos 19 anos, Mathias Rust era um piloto inexperiente: tinha apenas 50 horas de voo comprovadas. Sua aventura começou em 13 de maio de 1987, quando deixou o Aeroporto de Uetersen, próximo a Hamburgo, e se lançou em uma jornada pelo norte da Europa. Passou pelas Ilhas Faroé, a Islândia, a Noruega e a Finlândia.

Em 28 de maio, em Helsinque, Rust disse ao controle de tráfego aéreo que estava indo para Estocolmo, na Suécia. Depois de seu último contato com o controle, desligou todos os equipamentos de comunicação e posicionou o avião no sentido contrário – em direção a Moscou. A aeronave sumiu dos radares finlandeses e foi considerada desaparecida.  

O piloto voou de Helsinque até Moscou em um avião Cessna 172B / Crédito: Reprodução

Às 14 horas e 29 minutos do horário local, o Cessna 172B foi interceptado pelos radares da defesa aérea soviética, que chegou a preparar mísseis antiaéreos, mas não obteve autorização superior para dispará-los. Depois disso, a força aérea perdeu contato com Rust. Quando o avião foi avistado novamente, próximo à cidade de Pskov, foi confundido com aeronaves russas que eram utilizadas no local como treinamento.

Quando sobrevoava a cidade de Torzhok, a aeronave de Rust foi confundida novamente, dessa vez com um dos helicópteros que buscavam os destroços de um acidente que havia acontecido um dia antes. Assim, o jovem piloto seguiu seu voo sem ser incomodado.

Por volta das 19 horas, Rust sobrevoou a Praça Vermelha até encontrar um local para pousar, ao lado da Catedral de São Basílio. Desligou o motor e desceu do avião. Depois de ser cumprimentado pelas pessoas que passavam pela praça, foi preso pela polícia russa.

Durante o julgamento, em setembro de 1987 / Crédito: Reprodução

Rust foi julgado em 2 de setembro de 1987 e condenado a quatro anos de prisão por infração às regras de tráfego aéreo e invasão de fronteira. Mas não chegou a cumprir toda a pena. Depois de passar 432 dias na prisão Lefortovo, em Moscou, foi deportado para a Alemanha, onde desembarcou em 3 de agosto de 1988.

O voo de Rust, que mais parecia uma risada na cara dos poderosos políticos, criou uma ponte entre o Oriente e o Ocidente, como se fizesse uma promessa de mudança e paz. Foi mais ou menos o que aconteceu.

O incidente, que desmoralizou os militares russos, veio em boa hora para Gorbachev, que defendia a abertura do regime soviético. Demitiu o Ministro da Defesa Soviético, Serguei Sokolov, e o Chefe de Defesa Aérea, Alexander Koldunov, além de outros oficiais. Com isso, o líder soviético conseguiu implantar as reformas que queria – que acabaram culminando no fim da Guerra Fria e na dissolução da União Soviética.