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Curiosidades / Egito

Canibalismo medicinal: por um erro de tradução, múmias egípcias foram usadas como remédio

Na Europa, corpos foram triturados e transformados em poções e pílulas. O bizarro hábito só acabou no século 20

Redação Publicado em 19/04/2020, às 09h00

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Representação de uma múmia egípcia - Divulgação
Representação de uma múmia egípcia - Divulgação

Enquanto os europeus teciam coloridos relatos das temíveis tribos antropófagas do Novo Mundo, estavam consumindo restos mortais humanos em casa. Sob a desculpa de ser por razões medicinais. 

Tudo vem do princípio do igual cura igual, que é bem mais antigo que a homeopatia que o prega. Hipócrates já tratava doentes mentais com alucinógenos. Se igual cura igual, o melhor remédio viria dos mortos – a morte, afinal, é a pior doença.

Assim, por séculos, corpos humanos foram administrados como remédios. Valia tudo: ninguém menos que Paracelso (1493-1541) recomendou sangue humano. Durante execuções, o povo se juntava em torno do condenado para tentar beber seu sangue.

“O carrasco era visto como um grande curandeiro em países germânicos”, afirma Richard Sugg, da Universidade de Durham (Reino Unido), em Mummies, Cannibals and Vampires. “A questão nunca foi: Você deve comer carne humana, mas que tipo de carne humana você pode comer?”

O mais poderoso dos remédios de defunto, recomendado também por Paracelso, era a chamada mummia, cujo nome não dá margem para dúvidas.

Múmias egípcias eram compradas de comerciantes árabes, moídas e transformadas em poções e pílulas. A mummia foi a droga porta de entrada para o canibalismo europeu. Depois dela, além do sangue dos condenados, também vieram coisas como gordura humana (servia para passar na pele) e caveira em pó (bom para dor de cabeça). 

E tudo começou por um erro de tradução medieval. Mumiya em árabe quer dizer betume ou asfalto, um produto natural vindo do solo e usado então para tratar uma enorme lista de aflições. A mesma palavra era usada para as múmias egípcias porque elas eram embalsamadas com betume. Confundindo ingrediente e produto final, os europeus passaram a comprar múmias e consumi-las.

O rei Francisco I da França (1494-1547) sempre carregava uma bolsinha de mummia para consumir como se fosse rapé, ao menor sinal de problemas. Ninguém menos que o criador da química moderna, Robert Boyle (1627-1691), ainda dizia maravilhas sobre o tétrico medicamento. 

Obviamente, não havia como o Egito dar conta da demanda europeia por múmias. Vez por outra, governantes tentavam encerrar o comércio, porque canibalismo é proibido pela sharia (que já então os europeus deviam achar excessivamente rígida). A Bíblia, por incrível que pareça, não proíbe explicitamente o canibalismo, apesar de tratá-lo como um escândalo e maldição ocasionalmente imposta por Deus. 

Charlatões então saíam em busca de corpos recentes, principalmente de condenados, e os dissecavam em fornos, criando uma falsificação do produto inútil. A mummia continuaria nas prateleiras até, incrivelmente, o começo do século 20, quando a indústria farmacêutica começou a ser, finalmente, fiscalizada.

O canibalismo europeu seria eternizado na arte. Um pigmento renascentista chamado marrom múmia ainda adorna grandes clássicos em museus pelo mundo. Como este acima.


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