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História no Paint: A página que usa memes para explicar fatos históricos

Em entrevista ao site Aventuras, Leandro Marin Santos defende o uso da linguagem na educação: “Quando o professor usa o meme em sala de aula, ele está se comunicando com o aluno na linguagem dele”

Fabio Previdelli | @fabioprevidelli_ Publicado em 01/08/2021, às 00h00 - Atualizado em 02/08/2021, às 09h30

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Meme da página 'História no Paint' sobe a Revolta da Vacina - Divulgação/História no Paint
Meme da página 'História no Paint' sobe a Revolta da Vacina - Divulgação/História no Paint

Fonte inesgotável de conteúdo, a internet também se tornou a casa dos memes. Isso mesmo memes. Agora você pode até estar fazendo a 'Nazaré confusa', mas com toda certeza já enviou ou recebeu aquela imagem ou vídeo com uma mensagem engraçadinha que todo mundo já viu nas redes sociais.  

O termo nasceu em 1976, cunhado pelo zoólogo Richard Dawkins em ‘O Gene egoísta’, onde usava a palavra para fazer uma comparação com o conceito de gene. Assim, em suas palavras, o meme seria "uma unidade de transmissão cultural, ou de imitação".  

Em uma linguagem mais simplista, seria algo que é transmitido através da repetição dentro de uma determinada cultura, como hábitos ou costumes. Ou, num contexto mais atual, tudo aquilo que está inserido dentro da cultura da internet e que acaba atingindo um grande número de pessoas através do compartilhamento.  

Apesar de seu conceito mais atual existir desde o início dos anos 2000, a popularização dos memes por aqui começou a cerca de uma década, impulsionada pelo ingresso das pessoas em redes sociais e a maior viabilidade para se ter um aparelho celular.  

Mas engana-se quem pense que os memes são apenas mensagens usadas para conseguir apenas algumas risadas bobas. Afinal, nos últimos anos, eles também se tornaram uma maneira de aprendizado.  

Um dos grandes exemplos disso é a página História do Paint, criada por Leandro Marin Santos, graduando em História pela UFRRJ no sétimo período, que possui mais de um milhão de seguidores em suas redes sociais. 

Além de Leandro, o História no Paint também é feito por um grupo de pessoas: Patrícia Vougo, formada em jornalismo, que cuida do gerenciamento das redes; Diego das Neves, historiador com mestrado em educação, que atua como avaliador pedagógico dos memes; Igor Ribeiro, graduando em História pela UFRRJ, o responsável por apurar os memes nas fontes de pesquisa; e Idevarte Aredes, graduando em Geografia, que é responsável por fazer uma avaliação geral dos memes antes de serem postados.

Em entrevista exclusiva à equipe do site Aventuras na História, Leandro conta como começou com o projeto. “Durante boa parte da minha vida escolar eu odiei estudar História. Na verdade, eu não gostava de estudar nenhuma matéria. Não conseguia entender a importância de estudar aquilo. Eu pensava 'por que estudar coisas que aconteceram centenas de anos atrás?'”. 

Sua relação com a ciência só começou a mudar na transição do ensino fundamental para o médio, quando Santos explica que passou uma fase mais questionadora em sua vida.

Leandro Marin Santos, criador da página História no Paint / Crédito: Arquivo Pessoal

“Uma grande pergunta na minha mente era questionar porquê existem guerras, porquê as pessoas passam fome e porquê umas tem mais dinheiro que outras. Comecei a buscar respostas para essas perguntas na História. E o que me surpreendeu é que as respostas levavam a mais perguntas, que às vezes eram respondidas por outras matérias”, conta.

Roi, História no Paint né? 

A partir daí, a história passou a fazer parte de sua vida de uma maneira mais natural. Já a relação com os memes começou pouco depois. “A página surgiu quando estava fazendo um cursinho online de pré-vestibular, em 2016. Tive um contato com um estilo de ensino que nunca tive antes: uma educação mais leve, no qual os professores sempre buscavam deixar as aulas descontraídas”.  

Com essas piadas e analogias usadas em sala de aula, Leandro explica que sua relação com os assuntos passou a ser muito mais fácil, o que lhe surpreendeu de forma positiva. “Nessa época, os memes estavam começando a fazer muito sucesso no Brasil. Quando eu percebi, estava fazendo memes das matérias que aprendia nas aulas para os meus amigos”.  

Devido ao apoio de seus colegas, ele criou o ‘História no Paint’, que faz referência ao programa que ele usava para criar seus memes. “Eu nunca imaginei que a página chegaria nessa dimensão. Até porque a História geralmente era vista como uma matéria chata, mas em menos de quatro meses a página chegou a 100.000 curtidas. Aquilo pra mim foi um espanto. Hoje em dia a História No Paint é uma das maiores páginas de memes no país”. 

Ui, eles vão ensinar através de memes 

Apesar de hoje ser graduando em História, a vida acadêmica de Leandro quase tomou outros rumos. Como conta, ele começou a estudar economia na Universidade Federal Fluminense, mas acabou trancando o curso e mudou para sua área atual, embora não tivesse certeza que se havia feito a escolha certa.  

“No mesmo dia, eu vi a primeira foto de um meme meu sendo usado em sala de aula. O professor Aminom de Souza mandou uma foto dele com a turma com um meme no slide da aula. Ele disse que ele e a turma amavam os memes. Aquilo me deixou espantado e alegre. Nunca pensei que isso poderia acontecer”, conta orgulhoso. 

Desde então, Santos conta que passou a receber diversas imagens de professores que usam seus memes em sala de aula. “Quando o professor usa o meme em sala de aula, ele está se comunicando com o aluno na linguagem dele, que ele usa no dia a dia. Além de chamar a atenção do aluno, o aluno vai sentir uma catarse com o professor. Já existem diversos trabalhos de doutorado sobre isso”. 

Um dos estudos citados por ele foi escrito pela professora e historiadora Alessandra Andrade: ‘Memes históricos: uma ferramenta didática nas aulas de História’. Em sua tese, Alessandra explica que quando começou a usar memes em sala de aula, a dinâmica com sua turma não só melhorou, como o desempenho escolar de seus alunos cresceu.  

“Ela conta que começou a ser abordada pelos alunos antes mesmo de entrar na escola, no estacionamento da escola. Eles a procuravam para mostrar se os memes que eles fizeram estavam corretos. Ela começou a fazer competições de memes na turma, onde os alunos criavam memes com a matéria e se autoavaliavam”, explica Leandro

Já outro trabalho, ‘Também com memes se ensina e se aprende história: uma proposta didático-histórica para o Ensino Fundamental II’, fez a educadora Cintia Benak ganhar uma menção honrosa concedida pelo programa ProfHistoria da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ).

Em seu estudo, Benak entrevistou 218 profissionais de todos o Brasil: 74% do grupo já usava memes em sala de aula; sendo que 85% dos que começaram a usar, declaram ter tido uma experiência positiva. Já o interesse dos alunos pelas aulas aumentou em 89%. 

“Na pandemia o uso dos memes em aulas aumentou de uma maneira gigantesca. Muitos professores me procuram dizendo que os memes salvam a aula deles, pois ao dar aula pelo ensino remoto o professor compete a atenção do aluno com tudo que está na internet. O meme foi uma forma de prender a atenção deles na aula”, conta Santos.  

Em sua opinião, esse interesse maior pelos estudantes se dá pela forma como o conteúdo é passado. “Às vezes matérias como História, Filosofia e afins podem ser difíceis de entender, mas quando você muda a forma como fala sobre esses conteúdos as pessoas se sentem empoderadas e percebem que podem aprender também”. 

Coincidência? Acho que não 

Leandro explica que, durante esses anos que administra o ‘História no Paint’, percebeu que seu público não só é formado por pessoas que amam história, mas também por aqueles que desejam aprender sobre o assunto ou até mesmo pelos mais curiosos.  

Com isso, passou a enxergar ainda importância que os memes tem na educação das pessoas. “Já recebi vários depoimentos de pessoas que não só começaram a gostar de História, mas decidiram cursar História por conta da página”.  

“É muito legal ver que também tem pessoas que vê um meme sobre o assunto, não entende e vai pesquisar mais sobre a questão para poder voltar e dar gargalhadas. A pessoa não percebe, mas acaba fazendo um trabalho de pesquisa para poder rir de um meme. Isso é maravilhoso!”. 

Isso, segundo ele mesmo diz, é a grande intenção de seu trabalho: atrair as pessoas como memes e fazê-las irem além dele. “Por mais que seja um recurso maravilhoso, um meme não pode dizer com precisão quem foi Getúlio Vargas. E foi assim que surgiu meu podcast. Eu postava um meme sobre Vargas e recomendava que a pessoa escutasse o podcast para aprender mais”. 

Em uma nova plataforma, que usa muito menos o recurso visual, Leandro passou a expandir o conteúdo que leva até sua página. Para isso, o ‘História no Cast’ sempre recebe doutores/professores para falar sobre os temas. “Meu objetivo é divulgar o trabalho de pesquisa feito dentro das universidades e fazer com que as pessoas conheçam mais sobre a história do nosso país”.  

Me solta, preciso estudar História 

Se por um lado a presença de memes ajudou a aumentar o interesse no ensino da História, por outro, a continuidade do ensino da ciência não é mais uma certeza para a grade curricular dos estudantes.  

Afinal, em 2016, o então presidente Michel Temer sancionou a Medida Provisória nº748/2016. Após mais de 567 emendas, como explica matéria do Brasil Escola, a medida virou a Lei nº 13.415/2017, que alterou as Diretrizes e Bases da Educação Nacional, popularmente conhecido como a lei do Novo Ensino Médio.  

A primeira parte da adequação da Base Nacional Comum Curricular (BNCC) foi concluída em 2020 e a completa implementação deverá acontecer até o fim de 2022. Sendo assim a carga horária dos estudantes será aumentada de 800 horas anuais para mil horas.  

Além disso, na base curricular, apenas três disciplinas constam como obrigatórias: Matemática, Língua Portuguesa e Inglês. O restante poderá ser escolhido pelos próprios alunos, seguindo suas áreas de interesse.  

Como mostra matéria da Veja, 376 mil alunos já responderam ao questionário com opções de aprofundamento curricular. O primeiro curso mais escolhido foi linguagens e ciências humanas (que recebeu o nome de ‘cultura em movimento: diferentes formas de narrar a experiência humana’), que teve por volta de 99 mil interessados.  

Completando o top 3 temos linguagens e suas tecnologias (‘#SeLigaNaMídia’) e matemática e suas tecnologias (‘matemática conectada’). E você deve estar se perguntando: e a História? Tanto essa ciência quanto a Geografia não são obrigatórias, o que gerou enorme apreensão entre os educadores, como mostra matéria do O Globo de 2017. 

O sentimento é compartilhado por Leandro. “Isso é um absurdo completo. Como pode ser opcional saber o que foi a Ditadura Militar no Brasil? Todos deveriam saber que pessoas morreram e foram torturadas nesse período. O que vivemos hoje no período político do Brasil está ligado ao passado da ditadura, algo que nunca foi enterrado”.  

“Parece que o governo não quer formar cidadãos, apenas mão de obra para o mercado. É dever de todo cidadão saber o mínimo da História do seu país. Não só os indivíduos serão afetados por essa mudança, mas a sociedade como um todo”, conclui.

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