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Matérias / Personagem

Um dos maiores crimes de homofobia: Há 28 anos, Allen R.Schindler era brutalmente assassinado em Nagasaki

Em 1992, a morte do radialista chocava o país. Schindler viraria o símbolo da luta LGBT nas forças armadas dos Estados Unidos

Fabio Previdelli Publicado em 27/10/2020, às 06h00

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Allen Schindler - Wikimedia Commons
Allen Schindler - Wikimedia Commons

Em 27 de outubro de 1992, Allen R. Schindler Jr., especialista em telecomunicações das forças armadas norte-americanas, foi vítima de um brutal assassinato por ser homossexual.

O caso se tornou um dos marcos no debate sobre políticas LGBT das forças armadas nos Estados Unidos, e culminou com a política americana do “Don’t ask, don’t tell”(não pergunte, não conte) — o que permitiu que militares homossexuais servissem abertamente em qualquer ramo das forças armadas.

Allen R. Schindler Jr. nasceu em 13 de dezembro de 1969, em Illinois, nos Estados Unidos. Oriundo de uma família com tradição militar, ele ingressou na marinha em 1991, onde serviu como radialista a bordo do porta-aviões Midway.

Apesar de sofrer certo preconceito por ser homossexual, o navio era considerado um local relativamente tolerante e Allen nunca sentiu a necessidade de esconder sua orientação. Porém, as coisas mudaram drasticamente quando ele foi transferido para o Belleau Wood — um navio com reputação extremamente negativa por conta de diversos casos agressivos que se faziam presentes na tripulação — em Sasebo, no Japão.

De acordo com seus amigos, Schindler havia se queixado repetidamente com seus superiores de perseguições que sofria por ser gay. As denúncias acontecerem entre março e abril de 1992, com o militar relatando diversos incidentes com a fechadura de seu armário e comentários preconceituosos como “Há um viad* neste navio, ele deveria morrer”.

Foto do porta-aviões USS Belleau Wood, usado em 1943 / Crédito: Wikimedia Commons

Allen chegou a entrar com um pedido formal para deixar a Marinha, entretanto, seus superiores insistiram para que ele permanecesse na embarcação até que o processo fosse concluído. Mesmo sabendo que sua segurança poderia estar em risco, ele acatou as ordens.

Crime

Após esse episódio, o militar participou de uma viagem que iria de San Diego, na Califórnia, para Sasebo, em Nagasaki. A unidade chegou à cidade japonesa na noite de 27 de outubro de 1992 — dia que também marca a brutal morte de Allen R. Schindler Jr.

Os responsáveis pelo assassinato foram dois de seus companheiros de navio, Terry Helvey e Charles Vins. A dupla havia comprado duas garrafas grandes de uísque, uma de vodca e um engradado de cerveja e foram beber num parque público.

Quando saíram da loja de bebidas, Helvey notou que Allen caminhava sozinho dez metros na frente da dupla. Eles, então, passaram a persegui-lo até que ele entrou em um banheiro público.

Durante seu testemunho, Charles Vins relatou: “Ao entramos no banheiro, pude ver que Schindler estava de costas para mim, urinando em um dos mictórios. Ao mesmo tempo, vi que Helvey estava de pé ao seu lado, fingindo que usaria o mictório. Mas ele estava se preparando para desferir um soco em Schindler, que parece ter percebido sua presença e olha em sua direção”.

“Assim que Schindler olhou na direção de Helvey, eu vi Helvey descer com força com o punho e bater na cara de Schindler, que caiu com força no chão imediatamente. Assim que Helvey bateu em Schindler, ele se inclinou sobre sua cabeça e o prendeu com uma trava na cabeça e segurou seu pescoço com força, sufocando-o ... Quando Helvey gritou, chutei Schindler na cabeça com a parte inferior do meu pé direito. Não sei exatamente onde o atingi, mas estava em algum lugar entre a testa e o topo da cabeça”.

Após sofrer fortes golpes, Schindler ainda estava consciente, apesar de estar com a guarda totalmente desfavorável. “Como ele não caiu para trás, acredito que o chutei da mesma maneira e no mesmo local mais duas vezes ... Depois do terceiro chute, ele caiu de costas”.

Helvey continuou a chutá-lo, como se fosse uma “bola de futebol”. Charles diz que Helvey chutou o lado direito de sua cabeça pelo menos cinco vezes, todas com extrema força e agressividade.  

“Sangue estava por todo lado. Seu rosto estava coberto de sangue. Helvey então desceu e começou a chutar e pisar no peito e no tronco de Schindler... Eu não sabia dizer quantas vezes ele chutou e bateu no peito, mas foram várias. Durou pelo menos trinta segundos”.

O ataque foi tão cruel que eles danificaram todos os órgãos do corpo de Schindler. Sua mãe, Dorothy Hadjys-Holman, só conseguiu identificar o corpo do filho por conta das tatuagens que ele tinha em seus braços.

Dorothy Hadjys-Holman, mãe de Schindler / Crédito: Getty Imagens

O médico legista comparou os ferimentos de Schindler aos sofridos por vítimas de um acidente fatal de avião ou de um acidente automobilístico de alta velocidade — todas, exceto duas costelas de Schindler, foram quebradas, seu pênis tinha marcas de corte e seu fígado continha buracos que permitiam ao patologista ver direto através dele.

O julgamento

Durante o julgamento, Helvey negou que o crime foi motivado pelo fato de Schindler ser homossexual. Porém, Kennon F. Privette, um investigador da Marinha, mostrou ao júri frases retiradas de um interrogatório de Helvey que foram colhidas no dia seguinte ao crime.

"Ele disse que odiava homossexuais. Ele estava com nojo deles”, disse Privette. Ao matar Schindler, Privette citou Helvey dizendo: "Não me arrependo. Faria novamente. ... Ele merecia."

Após o julgamento, Helvey foi condenado por assassinato e Douglas J. Bradt — o capitão que manteve o incidente em silêncio — foi rebaixado de posto e transferido para Florida. Helvey cumpre uma sentença de prisão perpétua no Centro Militar de detenção United States Disciplinary Barracks em Fort Leavenworth, no Estado do Kansas.

Por estatuto, ele recebe uma audiência de clemência todos os anos. O cúmplice de Helvey, Charles Vins, foi autorizado a negociar como culpado por outros crimes menores, incluindo a falha em relatar um crime grave e obstrução de justiça. Ele cumpriu uma sentença de 78 dias antes de receber uma dispensa geral da Marinha.

Barack Obama, em 2011, assinando a revogação do “Don’t ask, don’t tell” / Crédito: Wikimedia Commons

O caso se tornou um dos marcos no debate sobre políticas LGBT das forças armadas nos Estados Unidos, e culminou com a política americana do “Don’t ask, don’t tell”(não pergunte, não conte) — que permitia que militares homossexuais servissem abertamente em qualquer ramo das forças armadas.


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