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Matérias / Unidade 731

Unidade 731: O antro japonês de experimentos em humanos durante a 2ª Guerra

Cerca de 300 mil pessoas morreram em alguns dos experimentos mais cruéis e repulsivos já conhecidos pela Humanidade

Fabio Previdelli

por Fabio Previdelli

fprevidelli_colab@caras.com.br

Publicado em 23/10/2020, às 15h00 - Atualizado em 30/06/2023, às 14h42

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Um dos prédios da Unidade 731 - Akiyoshi Matsuoka via Wikimedia Commons
Um dos prédios da Unidade 731 - Akiyoshi Matsuoka via Wikimedia Commons

Durante a Segunda Guerra Sino-Japonesa (1937—1945) e a Segunda Guerra Mundial (1939—1945), o Exército Imperial Japonês se envolveu nos mais brutais experimentos humanos através da Unidade 731.

Conhecida oficialmente como o Departamento de Prevenção de Epidemia e Purificação da Água, a 731 era uma unidade secreta de experimentos para pesquisa e desenvolvimento de guerra biológica e química — comandada pelo general Shiro Ishii.

General Shiro Ishii / Crédito: Getty Images

Estima-se que a Unidade 731 tenha matado entre 200.000 e 300.000 pessoas durante o período. Mesmo assim, seus responsáveis saíram praticamente impunes por praticarem alguns dos atos mais repulsivos já conhecidos pela Humanidade. Saiba mais sobre as práticas da Unidade 731.

Testes de congelamento

Um projeto especial da Unidade 731, de codinome Maruta, usou seres humanos para experimentos cruéis. Alguns destes foi conduzido pelo fisiologista Yoshimura Hisato, que tinha um interesse singular pelos efeitos da hipotermia e congelamento.

Desta forma, em várias ocasiões, Hisato pedia para que as cobaias humanas fossem submersas em banheiras com água cheia de gelo, mantendo os presos lá até que seus braços e pernas estivessem congelados. Assim, ele as golpeava como um bastão.

Uma parte da Unidade 731 / Crédito: Akiyoshi Matsuoka via Wikimedia Commons

Segundo uma matéria do The New York Times, uma testemunha ocular dos testes descreveu que os membros da cobaia "emitiam um som semelhante ao de uma prancha de madeira quando atingida por uma bengala".

Hisato também tentava diferentes métodos para o reaquecimento rápido dos membros congelados. Às vezes, ele fazia isso molhando o membro com água quente ou segurando-o perto de uma fogueira. Em casos mais brutais, deixava a vítima sem tratamento e abandonada durante a noite apenas para ver quanto tempo levava para o próprio sangue da pessoa descongelar.

Por conta disso, passou a ser descrito como "um demônio científico" e um "animal de sangue-frio".


Vivissecção

Inicialmente, a Unidade 731 começou como uma unidade de pesquisa para investigar os efeitos de doenças e ferimentos em combatentes de uma força armada. Mas, aos poucos, o projeto Maruta levou os testes além da ética médica.

Logo, os pacientes voluntários pararam de aparecer e a Unidade 731 começou seus experimentos em prisioneiros de guerra e em civis chineses. Uma das práticas mais cruéis era a de vivissecção — onde os 'pesquisadores' mutilavam corpos humanos sem anestesia. Tudo isso para estudarem o funcionamento de sistemas vivos.

O NYT relata que milhares de homens, mulheres, crianças e bebês internados em campos de prisioneiros de guerra foram submetidos à vivissecção.

Sala de experimentos de dissecação humana/ Crédito: X20106301 via Wikimedia Commons

Algumas das vítimas eram infectadas com doenças como cólera ou peste. Posteriormente, elas tiveram seus órgãos retirados para exames — tudo isso antes de morrerem; visto que os responsáveis pela Unidade 731 queriam analisar os efeitos da doença antes do processo de decomposição.

Outras cobaias humanas tiveram seus membros amputados e recolocados no outro lado do corpo. Também eram comuns casos de pessoas que tiveram a circulação cortada de seus membros para que fosse analisado o progresso da gangrena.

Por fim, quando o corpo de um prisioneiro estava totalmente esgotado, eles, normalmente, eram baleados ou mortos por injeção letal, embora alguns possam ter sido enterrados vivos.

"O sujeito sabia que estava acabado para ele, então ele não lutou quando o levaram para o quarto e o amarraram, mas quando peguei o bisturi, foi quando ele começou a gritar", disse outra testemunha ao NYT.

Eu o cortei do peito ao estômago, e ele gritou terrivelmente, e seu rosto estava todo contorcido em agonia. Ele fez um som inimaginável, ele estava gritando tão horrivelmente. Mas finalmente ele parou. Isso tudo foi um dia de trabalho para os cirurgiões, mas realmente me impressionou porque foi a minha primeira vez."

Teste de armas

Por conta da vigência dos conflitos já citados, o Exército japonês tinha o interesse óbvio de determinar a eficiência de suas várias armas. Assim, a Unidade 731 reuniu prisioneiros em um campo de tiros e resolveu fazer isso. Diversas armas japonesas foram testadas das mais diferentes distâncias, como rifles de ferrolho, pistolas de 8 milímetros, metralhadoras e até mesmo granadas.

"Para determinar o melhor curso de tratamento para vários graus de ferimentos por estilhaços sofridos no campo por soldados japoneses, os prisioneiros chineses foram expostos a explosões diretas de bombas", detalha William Lawrence Neuman em 'Understanding Research'.

Eles foram amarrados, desprotegidos, a pranchas de madeira que foram cravadas no chão a distâncias crescentes em torno de uma bomba que foi então detonada. Foi cirurgia para a maioria, autópsias para o resto", continua.

Armas biológicas e a sífilis

A Unidade 731 também trabalhou em parceria com outros destacamentos, como a Unidade 1644 e a Unidade 100, quando estiveram envolvidos na pesquisa, desenvolvimento e implantação de armas biológicas para ataques epidêmicos contra a população chinesa — militares ou civis — durante a Segunda Guerra Mundial.

Para isso, pulgas infectadas com peste bubônica foram criadas nos laboratórios da Unidade 731 e Unidade 1644. Arquivos da CIA apontam que a doença foi espalhada por aviões voando baixo sobre cidades chinesas, incluindo a costa de Ningbo e Changde, província de Hunan, em 1940 e 1941.

Tais operações foram responsáveis por matar dezenas de milhares de pessoas com epidemias de peste bubônica. Além disso, expedição a Nanjing espalhou germes tifoides e paratifoides em poços, pântanos e casas da cidade. Epidemias estouraram logo depois, para alegria de muitos pesquisadores, que concluíram que a febre paratifoide era "o mais eficaz" dos patógenos.

Os pesquisadores da Unidade 731 também tinha o interesse por saber mais sobre os sintomas e tratamentos da sífilis. Para isso, orquestraram atos sexuais forçados entre presos infectados e não infectados.

"A infecção de doenças venéreas por injeção foi abandonada e os pesquisadores começaram a forçar os prisioneiros a praticar atos sexuais entre si", diz uma testemunha conforme relatado por Hal Gold em Unit 731: Testimony.

Um homem e uma mulher, um infectado com sífilis, seriam colocados juntos em uma cela e forçados a fazer sexo um com o outro. Ficou claro que qualquer um que resistisse seria fuzilado", finaliza.

O fim da Unidade 731

A Unidade 731 recebeu generoso apoio do governo japonês até o período do fim da Segunda Guerra Mundial, em 1945. Mas quando os 'pesquisadores' foram capturados pelos soviéticos, eles foram enviados para os Julgamentos de crimes de guerra de Khabarovsk, em dezembro de 1949.

Entretanto, os capturados pelos Estados Unidos receberam imunidade secreta em troca dos dados coletados durante seus experimentos humanos, aponta Hal Gold. Os norte-americanos cooptaram as informações e experiências de armas biológicas dos pesquisadores para uso em seu próprio programa de guerra biológica, muito parecido com o que havia sido feito com os pesquisadores alemães nazistas na Operação Paperclip.

Foto aproximada do "edifício quadrado" principal da Unidade 731/ Crédito: Aising via Wikimedia Commons

Por fim, no dia 28 de agosto de 2002, o Tribunal Distrital de Tóquio decidiu que o Japão havia cometido guerra biológica na China e, consequentemente, massacrado muitos residentes.