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Matérias / Ditadura Militar

Caso Para-Sar: quando um militar disse "não" a um atentado terrorista arquitetado pelo próprio Exército

Sérgio Macaco foi responsável por impedir que o Rio de Janeiro se tornasse palco de um grande plano terrorista que, com explosivos, mataria mais de 100 mil pessoas

Isabela Barreiros Publicado em 06/01/2020, às 18h13

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Imagem meramente ilustrativa de arquivos confidenciais - Getty Images
Imagem meramente ilustrativa de arquivos confidenciais - Getty Images

A ditadura militar no Brasil endurecia-se cada vez mais. 1968 foi um dos mais duros e longos anos do país, entrando para a História como a época em que o mais terrível dos Atos Institucionais — o AI-5 — foi instaurado, causando inúmeras torturas e mortes à mando do Estado.

Naquele ano, um plano sangrento também estava sendo arquitetado por alguns militares do Exército Brasileiro. O brigadeiro João Paulo Burnier planejou o que ficou conhecido como Caso Para-Sar, ou ainda Atentado ao Gasômetro, um ataque terrorista que seria realizado pelo esquadrão de resgate Para-Sar e falsamente atribuído a grupos de esquerda.

O militar tinha como objetivo reprimir ainda mais qualquer pessoa que se opusesse à ditadura e organizou a terrível ação com o intuito de fortalecer ainda mais a perseguição à esquerda e seus militantes. Com a desculpa de que iria “salvar o Brasil do comunismo”, eles não se importariam com a morte de milhares de pessoas durante a decorrência de seu plano, possibilitando o início de uma verdadeira “caça às bruxas”.

O brigadeiro João Paulo Burnier à direita / Crédito: Wikimedia Commons

A proposta era colocar explosivos em diversos locais públicos do Rio de Janeiro. A loja de departamentos Sears, o Citibank e a embaixada estadunidense no país eram os principais alvos dos militares envolvidos.

A segunda parte do esquema envolvia o sequestro de pelo menos quarenta figuras importantes da política brasileira, que seriam lançados de um avião no meio do oceano. Carlos Lacerda, Juscelino Kubitschek, Jânio Quadros e o líder do movimento estudantil Vladimir Palmeira estavam nomeados na lista. Os militares acreditavam que o caos gerado pelo primeiro segmento do plano poderia encobertar as polêmicas mortes.

Para completar o atentado, eles explodiriam o Gasômetro do Rio de Janeiro, que era o principal responsável pelo fornecimento de gás para a capital fluminense. Além dele, a represa de Ribeirão das Lajes, que fornecia energia elétrica para a cidade, seria o segundo alvo.

O Gasômetro de São Cristóvão / Crédito: Wikimedia Commons

Segundo as estimativas levantadas pelo brigadeiro, por volta de 100 mil pessoas morreriam se eles tivessem conseguido executar o plano — o que não aconteceu graças a um oficial da do esquadrão Para-Sar, da Força Aérea Brasileira (FAB).

No dia 12 de junho de 1968, João Paulo Burnier teria informado o militar Sérgio Ribeiro Miranda de Carvalho, também conhecido como Capitão Sérgio Macaco, sobre a sangrenta proposta. Ele, no entanto, se recusou a cumprir tais ordens e denunciou o brigadeiro por sua tentativa de instaurar o caos no Rio de Janeiro assassinando milhares de pessoas.

Ao denunciá-lo para as autoridades, Sérgio Macaco sofreu inúmeras retaliações. Durante a sindicância resultante aberta para investigar o caso, 37 pessoas participaram como testemunhas para comprovar a acusação. Ainda assim, Burnier continuou negando a autoria do plano.

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O militar Capitão Sérgio Macaco à esquerda / Crédito: Wikimedia Commons

O oficial permaneceu preso por quase um mês, respondeu a inúmeros inquéritos, como na FAB e no Ministério da Justiça, foi processado por Burnier e ainda reformado pelo AI-5.

Quando a Lei da Anistia foi sancionada em 1979, ele se negou a solicitar o benefício — não seria perdoado por um crime que alegava não ter cometido. Assim, continuou aguardando sua reintegração às Forças Armadas, o que não aconteceu.

Sérgio Macaco foi acometido por um câncer de estômago e faleceu no dia 5 de fevereiro de 1994, seis dias depois do decreto que devolvia seus direitos militares ser assinado pelo então presidente da República Itamar Franco. Sua família recebeu os valores atribuídos a ele em 1997.


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