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Matérias / Coluna

Da história para ficção: Robert E. Howard e as Tribos Cimérias

Howard criou um mundo ficcional tão vasto, completo e complexo que em suas primeiras publicações os editores lhe pediram para emitir uma nota de esclarecimento onde deveria afiançar que se tratava apenas de um mundo imaginário

M. R. Terci Publicado em 29/10/2019, às 13h30

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Conan - Gerald Brom
Conan - Gerald Brom

A não ser pela criação de um dos personagens fantásticos mais populares de todos os tempos, o cimério Conan, o escritor e poeta texano Robert E. Howard é quase desconhecido no Brasil. A maior parte dos leitores brasileiros, preliminarmente, travariam contato com Conan – O Bárbaro, através do filme homônimo, estreado por Arnold Schwarzenegger em 1982, outros, ainda, pelas adaptações quadrinistas da obra de Howard, no formato HQ, feita pela Editora Abril ao longo de duas décadas (1982 – 2002).

Tentativas anteriores de disseminação de seus escritos através das publicações da Editora Minami e Cunha em 1972, Editora Royal em 1973 e Bloch em 1976, infelizmente não lograram hesito. Até 1982, portanto, Robert E. Howard era, nas terras tupiniquins, um escritor tão fantástico, trágico e obscuro quanto o mundo que criou.

OBRA ORIGINAL DE ROBERT E. HOWARD

Robert E. Howard é sem a menor sombra de dúvida, um dos maiores e mais prolíficos escritores do século 20. Considerado o pai do subgênero Espada & Feitiçaria, Howard flertou com a fantasia e a ficção e foi um dos maiores colaboradores de revistas pulp fiction nos Estados Unidos durante a Grande Depressão dos anos 1930.

Para hospedar sua criação, Howard inventou a Era Hiboriana, que se tratava da própria Terra, num passado pré-cataclismo do qual a história não guardava lembranças. Um mundo ficcional tão vasto, completo e complexo que em suas primeiras publicações, os editores lhe pediram para emitir uma nota de esclarecimento onde afirmava que se tratava apenas de um mundo imaginário e que sua pré-história era pura ficção.

O arcabouço histórico, geográfico, cultural e temporal da Era Hiboriana é bastante vasto; em termos de dimensão, divisão e estrutura rivaliza a Terra Média de Tolkien com todas suas fontes mitológicas, históricas, literárias e linguísticas.

Conan / Crédito: Wikimedia Commons

"O fogo e o vento vêm do céu, dos deuses do céu, mas Crom é o seu Deus. Crom vive dentro da terra. Os gigantes viviam dentro da terra, Conan. E na escuridão do caos, eles enganaram Crom e dele tomaram o enigma do aço. Crom zangou-se e a terra tremeu. O fogo e o vento derrubaram os gigantes e lançaram seus corpos na água. Mas, em sua ira, os deuses esqueceram-se do aço e o deixaram no campo da batalha. E nós, que o encontramos, somos apenas homens. Nem deuses, nem gigantes, homens apenas.” (trecho do filme Conan – O Bárbaro, 1982, dirigido por John Milius, com roteiro adaptado e co-escrito por Oliver Stone).

A submersão da mítica Atlântida era o marco zero de suas histórias e a temática Civilização versus Barbárie era recorrente. Em muitas de suas histórias, Howard buscava inspiração tanto na mitologia celta como na grega, mas também bebeu avidamente dos Mitos de Cthulhu, de seu amigo e também escritor de fantasia H. P. Lovecraft, com quem mantinha correspondência periódica. Em muitas de suas histórias, a Bíblia e a cosmovisão judeu-cristã também se tornaram fontes inusitadas de inspiração.

Em A filosofia em Conan, o Bárbaro, de Afrânio William Tegão, o personagem mais famoso de Howard é visto sob o prisma do ethos nietzscheano e transubstanciado no Super-Homem.

“Os cimérios nunca fazem o que você quer – um guderlandês disse uma vez – mas eles fazem o que dizem.” Apesar do penejar de Howard ter como característica o amplo e inegável traço histórico, cultural e linguístico dos povos antigos, bárbaros na Terra Antediluviana, os habitantes da Ciméria fictícia de Howard não devem ser confundidos com os cimérios históricos, que viviam na costa norte do Mar Negro nos séculos 8 e 7 a.C., linguisticamente classificados como iranianos ou trácios.

De acordo com Heródoto, em determinado ponto do passado, os cimérios foram expulsos das estepes pelos citas e parece certo que em sua fuga, seguiram para a Ásia e estabeleceram-se numa pequena ilha onde anteriormente se encontrava a cidade grega de Sínope.

Na ficção de Howard, a Ciméria era uma terra repleta de colinas e florestas sombrias, correspondendo as Ilhas Britânicas, que se separaram do continente após o cataclismo que teria moldado o mundo moderno.

Os cimérios, em sua concepção, eram descendentes dos antigos atlantes, sendo altos, de tez morena e possuíam cabelos negros e olhos azuis. Na ideia de Howard, talvez, fossem, os cimérios, ancestrais dos irlandeses e dos escoceses das montanhas – highlanders.

Crédito: Les Edwards

Mas, apesar dos cimérios de que se têm conhecimento – segundo os registros históricos – terem seu lugar na história por um curto espaço de tempo, diversos povos celtas – fonte constante dos escritos de Howard – e germânicos mantêm a tradição de serem descendentes dos cimérios ou citas e alguns de seus nomes étnicos corroboram essa crença.

Infelizmente, a respeito das origens do personagem e possível conexão histórica com o povo cimério que realmente existiu, quem antes poderia dirimir a dúvida teve sua vida trágica e prematuramente ceifada, aos 30 anos de idade, pela via do suicídio em data de 11 de junho de 1936. Ao longo de sua curta existência, Howard vendeu mais de cento e sessenta histórias e deixou outra centena incompleta ou sem vender.

Além de Conan, outros personagens célebres incluem o rei Kull, o aventureiro puritano Salomão Kane, e o picto Bran Mak Morn. Criou também as guerreiras Dark Agnes de la Fere e Red Sonya de Rogatino. Em sua máquina de escrever, Robert E. Howard deixou escrita suas últimas palavras: “Tudo feito e acabado, ergam-me até a pira. O festim acabou e a chama das lâmpadas expira”.


M.R. Terci é escritor e roteirista; criador de “Imperiais de Gran Abuelo” (2018), romance finalista no Prêmio Cubo de Ouro, que tem como cenário a Guerra Paraguai, e “Bairro da Cripta” (2019), ambientado na Belle Époque brasileira, ambos publicados pela Editora Pandorga.


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Conan, o Bárbaro e a Filha do Gigante de Gelo, Robert E. Howard (e-book)

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