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Matérias / Estados Unidos

A chocante história por trás da mais famosa foto da luta pelos direitos dos negros nos EUA

Em 1957, Elizabeth Eckford foi impedida de entrar em uma escola só para brancos, sofrendo insultos raciais e supremacistas de diversas pessoas, entre elas, Hazel Bryan

Fabio Previdelli Publicado em 10/11/2020, às 16h20

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Elizabeth Eckford caminhando para Little Rock Central High School, enquanto Hazel Bryan está atrás dela gritando - Wikimedia Commons
Elizabeth Eckford caminhando para Little Rock Central High School, enquanto Hazel Bryan está atrás dela gritando - Wikimedia Commons

No final do século 19 e início do século 20, o Sul dos Estados Unidos adotou os chamados Black Codes, uma maneira de colocar os negros em servidão contratada e retirar todos seus direitos. Com a implantação das leis Jim Crow, os afro-americanos viveram um verdadeiro Apartheid na América.  

A luta por uma sociedade igualitária sem distinção de cor só conquistada, ‘em partes’, em 1964, quando o então presidente Lyndon B. Johnson assinou a Lei dos Direitos Civis.

Elizabeth Eckford no dia 4 de setembro de 1957 / Crédito: Divulgação

Porém, antes disso, uma icônica foto do movimento americano pelos direitos civis, tirada pelo fotógrafo Will Counts, estamparia as capas de jornais e livros de história pelos próximos 50 anos. Nela, estão presentes duas figuras importantes nessa discussão: Hazel Bryan e Elizabeth Eckford

O contexto 

Na manhã de 4 de setembro de 1957, Eckford se juntou a outros oito alunos negros — o grupo, mais tarde, passaria a ser conhecido como Little Rock Nine — que seriam os primeiros alunos negros a se matricularem na Little Rock Center High School, uma escola frequentada apenas por brancos.  

Como não tinha telefone em casa, Elizabeth nunca recebeu um telefonema de Daisy Bates, membro da NAACP (“National Association for the Advancement of Colored People”, ou “Associação Nacional para o Progresso das Pessoas de Cor”, em tradução livre), pedindo para os estudantes ficarem em casa antes de irem para a escola.  

Assim, Eckford foi sozinha até o Little Rock Center. Uma vez no local, ela encontrou uma multidão de pessoas brancas ensandecidas, além da Guarda Nacional do Arkansas, montada pelo governador Orval Faubus para impedir que alunos negros entrassem na escola.  

Com isso, a jovem 'encarou' sozinha uma multidão racista que gritava e mostrava todo seu ódio supremacista. Atrás de Elizabeth estava Hazel Bryan que foi registrada com seu rosto vociferando insultos. Logo, Bryan se tornou um símbolo da segregação no Sul.  

Quando o resto do grupo chegou, eles também foram expulsos da escola. A situação só mudou em 24 de setembro, quando o presidente Dwight Eisenhower enviou a 101ª Divisão Aerotransportada do Exército dos Estados Unidos para acompanhá-los dentro do prédio, permitindo com que os nove alunos pudessem ser formalmente matriculados e começassem a frequentar as aulas.  

A repercussão e o destino das jovens 

Com a recém integração na Central High School, os pais de Hazel a tiraram de lá e a matricularam em uma escola rural mais próxima de sua casa. No entanto, a jovem desistiu dos estudos para se casar um ano depois.  

Com sua imagem se tornando um símbolo notório do ódio branco, Bryan passou a carregar em si a face da intolerância. Contudo, com o passar dos anos, ela passou por um despertar intelectual após o colégio. Grande parte disso, segundo ela, se deu ao assistir a luta de Martin Luther King e outros ativistas negros na televisão. 

Elizabeth Eckford em foto mais recente / Crédito: Divulgação/Youtube

Ela passou a sentir remorso pela maneira como tratara Eckford, e passou a ser assombrada pelo fato de que um dia seus filhos pudessem vê-la na infame foto. Para tentar apagar — ou retratar — seu passado racista, Hazel procurou Elizabeth, em 1963, e ligou para ela se desculpando. As desculpas foram aceitas, todavia, a conversa foi curta e as duas não se falaram novamente por anos.  

Já Eckford, por sua vez, viveu com os traumas da discriminação. Sofrendo com a depressão ao longe de sua vida, frequentou várias faculdades e depois ingressou no Exército, onde passou por bases em todo o país, de Indiana à Geórgia e Alabama, antes de finalmente retornar a Little Rock em 1974.

Lá, voltou para a mesma casa em que cresceu, onde criou dois filhos sozinha e sobreviveu, em grande parte, com cheques de invalidez. Elizabeth nunca se casou. 

Tanto Elizabeth quanto Hazel tiveram vidas relativamente tranquilas, com Eckford dando entrevistas ocasionais, mas optando por ficar de fora dos holofotes como membro do Little Rock Nine. Ao longo dos anos, Bryan trabalhou para compensar seu comportamento anterior, envolvendo-se com organizações que ajudavam estudantes de grupos minoritários e mães solteiras. 

Reencontro e as polêmicas  

O ano de 1997 marcou o 40º aniversário da integração da Little Rock Central High School. O então presidente natural do Arkansas, Bill Clinton, queria uma grande cerimônia para comemorar o evento. Então, Will Counts, responsável pela foto original, perguntou a Eckford e Bryan se elas estariam dispostas a posar novamente para uma segunda foto. Ambas concordaram com a proposta.  

Reconciliadas depois de quarenta anos, as duas perceberam que tinham muito em comum, incluindo os filhos e o gosto por flores e brechós. Elas fizeram uma amizade improvável e começaram a frequentar eventos juntas. Também deram palestras em escolas para falar com as crianças sobre questões raciais e tolerância. 

As duas receberam críticas por seu relacionamento: Eckford foi acusada de ser ingênua; enquanto Bryan foi acusada de ser uma falsa oportunista. Ela recebeu críticas, especialmente de brancos, que se ressentiam por ela ser o rosto da reconciliação depois de todos aqueles anos sendo o rosto da segregação

Registro do reencontro entre Hazel Bryan e Elizabeth Eckford / Crédito: Divulgação/ YouTube

Além disso, a relação delas passou a ser minada por outros motivos, fazendo com que Elizabeth acreditasse que Hazel não fosse tão bem resolvida com seu passado quanto deveria, e começou a suspeitar que ela buscava muita atenção.  

As duas jamais foram capazes de consertar o clima de tensão e a amizade entrou em declínio. Apesar de não se falarem desde 2001, a fotografia tirada em 1997 que mostram Eckford e Bryan juntas ainda é vendida como pôster no centro de visitantes perto da Central High School, agora um Sítio Histórico Nacional. 

Na parte inferior do pôster, no entanto, há um adesivo dourado que diz: "A verdadeira reconciliação só pode ocorrer quando reconhecemos honestamente nosso passado doloroso, mas compartilhado”.


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