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Matérias / Brasil

"Proibição de drogas foi pauta histórica de esquerda e direita", afirma historiador da USP

Professor Henrique Carneiro, do Departamento de História (FFLCH USP), é especialista em História das Drogas e do proibicionismo mundial

Jânio de Oliveira Freime Publicado em 09/05/2019, às 08h00

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Cocaína e Whisky, que foram por um tempo proibidos nos EUA e na URSS - Reprodução
Cocaína e Whisky, que foram por um tempo proibidos nos EUA e na URSS - Reprodução

Em entrevista concedida à Folha de São Paulo, o professor titular de História Moderna da Universidade de São Paulo, Henrique Carneiro, afirmou que as políticas proibicionistas do século passado, responsáveis pela proibição e o combate às drogas, como a maconha e a cocaína, eram demandas políticas tanto da esquerda quanto da direita.

Carneiro é especialista em História da Alimentação, do uso de drogas e do proibicionismo, coordenador do LEHDA (Laboratório de Estudos Históricos das Drogas e da Alimentação) e autor do livro “Drogas – A história do proibicionismo”.

Guardas despejam wisky contrabandeado / Crédito: Reprodução

Segundo o historiador, a proibição do álcool aparece em diversos momentos da História, entre eles no mundo islâmico, que não tinha a mesma aceitação que o mundo cristão do vinho como incorporação para consumo do corpo da divindade.

No século 20, nos países ocidentais, com foco na Lei Seca dos EUA, onde a guerra contra o álcool teve uma ligação direta com o ascender de movimentos sociais, como o feminismo e o movimento negro, como forma de retaliação por parte do governo. A guerra contra às drogas era e ainda é um projeto político.

Nos governos autoritários de esquerda, como o da URSS e de Cuba, também aconteceu projetos políticos de Estado que visavam a proibição do uso e da produção de drogas, mesclando argumentos moralistas e políticos.

Carneiro aponta que as forças militares russas estavam bastante debilitadas pelo consumo demasiado de álcool pelos soldados. Lênin e Trotsky apontavam que a proibição do álcool era uma das bases condicionantes para a “emancipação dos trabalhadores”. 

Cartaz russo da proibição do álcool / Crédito: Reprodução

Ao mesmo tempo, regimes de direita, como os EUA ou a Prússia, e de extrema-direita, como no caso da Alemanha de Hitler e a Espanha de Franco possuíam políticas extremamente contundentes, de combate ao consumo de álcool e tabaco.

"Proibição de drogas foi pauta histórica de esquerda e direita", disse Carneiro. Durante a História, houve perseguição na produção e no consumo, que era absolutamente comum (e, portanto, o ataque de cidadãos comuns, incluindo pais e mães de família). Drogas como tabaco, álcool, maconha, ópio, coca e heroína foram alvo de desautorização.

A tese de Carneiro em relação à maconha é ainda mais profunda. Segundo ele, a maconha tem origens não europeias e está diretamente associada a ritos, símbolos e práticas do mundo afro-asiático. No mundo ocidental cristão, a base para a proibição da maconha seria o conflito dessas culturas com a associação da planta à símbolos do mundo africano negro e árabe, pois até hoje não há argumentos contundentes da saúde ou da economia para a proibição.

Policiais matam plantas de Cannabis / Crédito: Reprodução

O professor ainda aponta que, além da proibição, essas políticas geram consequências relevantes em termos de transposição de locais de convivência por outros espaços de consumo. Como é o caso do café, nas comunidades mais abastadas, e a taverna para a população comum.