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Matérias / Monarquia

Reis gays: A monarquia no armário

Assim como aconteceu com as bruxas, o castigo para a sodomia era a fogueira, para purificar o que era tido como maligno

Mauro Tracco Publicado em 14/11/2019, às 09h00

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A coroa concedia o privilégio de não ser perseguido - Wikimedia Commons
A coroa concedia o privilégio de não ser perseguido - Wikimedia Commons

Os moralistas da Idade Moderna definiram uma hierarquia para os pecados relacionados à luxúria. Do menos grave ao mais nefasto, a ordem era: simples fornicação, prostituição, estupro, adultério, incesto, sacrilégio com um sacerdote, sacrilégio com uma monja e, por último, o pecado que mais ofendia a Deus, a sodomia. 

Era o pecado contra natura, ato sexual que não tinha como único fim a procriação, considerado uma afronta direta ao Criador. Apesar disso, muitos dos monarcas que governaram amparados pelo Direito Divino não se adequavam aos papeis sexuais exigidos pela religião e sociedade.

Para o historiador Miguel Cabañas Agrela, autor do livro Reyes Sodomitas, além de casos notórios, como o de Jaime I da Inglaterra, existem vários documentos que sugerem que figuras como o francês Luís XIII e Frederico II, da Prússia também tiveram amores masculinos.

O Renascimento recuperou referências culturais e artísticas da antiguidade clássica. Isso não incluiu a tolerância deles ao amor entre o mesmo gênero. Paradoxalmente, “a Idade Moderna foi o período da história ocidental em que a sexualidade em geral, e a homossexualidade em particular, foram mais perseguidas pela Igreja e pelo Estado”, afirma Cabañas.

Na Idade Média o “pecado impronunciável” já era considerado um vício atroz, mas as leis para punir quem desafiasse a suposta ordem natural das coisas foram criadas só na Idade Moderna, quando a sodomia passou a ser um crime contra o Estado.  

Os reis, porém, tinham suas prerrogativas. Em tempos de absolutismo, quem teria poder para puni-los? Quem teria coragem de acusá-los? “Nenhum tribunal ousaria comprometer um rei por questões referentes à sua vida privada. Não faltavam fofocas, mas as acusações eram feitas na esfera privada”, diz Cabañas.

Outra razão porque ninguém denunciava os reis é porque um monarca gay podia ser uma oportunidade. Em uma sociedade de corte, criar vínculos com figuras do alto escalão era a principal estratégia de ascensão. E contar com o afeto do rei era como ganhar na loteria. Alguns soberanos adotaram essa política de promoção sem disfarçar o favorecimento a cortesãos jovens.

O historiador Matt Cook, da Universidade de Londres, ressalta que nessa época não existia o conceito de homossexualidade, que só surgiu no século 19. “Durante a Renascença, muitos homens faziam sexo entre si, sem que isso fosse visto como sinal de identidade diferenciada ou de uma subcultura. A maioria mantinha relações íntimas também com mulheres.” 

Independentemente do que acontecia entre as paredes dos aposentos reais, quase todos os monarcas foram à luta e honraram sua principal obrigação em vida: casar e gerar descendência. 

Conheça oito dos mais famosos monarcas gays.

1. Cristina da Suécia (1626-1689)

Crédito: Wikimedia Commons

O traço mais marcante da soberana foi a necessidade insaciável em ser diferente. Suas peculiaridades sexuais faziam parte desse afã em se distinguir dos demais. Culta e inquisitiva, Cristina nunca quis se casar para não estar sujeita a nenhum homem. Entre os muitos casos que teve estão um cardeal e uma bela cortesã chamada Ebba Sparre. 

2.  Luis XIII da França (1601-1643) 

Crédito: Wikimedia Commons

Não existem provas definitivas da preferência sexual de Luis XIII, que aparentava mais ser assexuado do que homossexual. Apesar de sua indiscutível retidão moral, era tímido e inseguro. Essa falta de confiança o levava a buscar refúgio na companhia de homens com personalidade forte. Ciente disso, o cardeal Richelieu tratou de arranjar amizades masculinas que mantivessem o rei distraído enquanto ele tomava as rédeas do governo francês. 

3. Frederico II da Prússia (1712-1786) 

Crédito: Wikimedia Commons

O rude Frederico Guilherme I se empenhou em transformar seu filho em um líder viril. Mas os soldados designados para ensinar o herdeiro acabaram tornando-se amigos muito mais próximos do que gostaria o pai. Em tempos de paz, Frederico II quase não saía do Templo da Amizade, palácio frequentado exclusivamente por homens. Exemplo de déspota esclarecido, aboliu a pena de morte para delitos de sodomia. 

4. Papa Júlio III (1487-1555) 

Crédito: Wikimedia Commons

Escandalizou o mundo católico ao nomear cardeal o seu cuidador de macacos, um jovem de 17 anos. Segundo relatos, a total falta de vocação sacerdotal do garoto contrastava com seus óbvios atributos físicos. A nomeação foi a forma encontrada por Júlio III para justificar a presença de seu favorito dentro dos muros sagrados do Vaticano. As más línguas chamavam o jovem cardeal de “o macaco do papa”. 

5. Jaime I da Inglaterra (1566-1625) 

Crédito: Wikimedia Commons

Quase nenhum historiador discute a homossexualidade de Jaime I. Aos 13 anos, teve um romance com seu tio, 24 anos mais velho. Idoso, preferia a companhia de rapazes. Foi visto em público aos beijos e abraços com outros homens e sobrepôs seus sentimentos aos interesses do reino. 

6. Henrique III de Valois (1551-1589) 

Crédito: Wikimedia Commons

Entrou para a história como o “rei dos mignons”, como era conhecido o bando de atraentes jovens que estavam sempre ao seu lado. Era entusiasta do transformismo e sua corte ficou conhecida como a mais refinada e libertina da Europa. 

8. Guilherme III da Inglaterra (1650-1702) 

Crédito: Wikimedia Commons

Criado pela avó, Guilherme de Orange teve ao longo da vida companheiros inseparáveis. Desde a adolescência, manteve uma relação especial com o nobre holandês Hans Bentinck. A amizade de 30 anos foi traída quando Guilherme fez do jovem Arnold van Keppel, de 18 anos, seu novo favorito. A revolta de Bentinck foi tão evidente que os fofoqueiros da corte não tardaram em apelidá-lo de “velho cornudo”.


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