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Matérias / Ditadura Militar

Atentado do Riocentro: o frustrado plano dos militares durante a ditadura militar brasileira

Tentando culpar a esquerda pelos violentos atos, membros do Exército explodiram duas bombas no Rio de Janeiro para frear a reabertura política do país

Isabela Barreiros Publicado em 08/05/2020, às 10h09

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O carro em que estavam o sargento do Exército Guilherme Pereira do Rosário e o capitão Wilson Dias Machado - IPM via Comissão Nacional da Verdade (CNV)
O carro em que estavam o sargento do Exército Guilherme Pereira do Rosário e o capitão Wilson Dias Machado - IPM via Comissão Nacional da Verdade (CNV)

A abertura política da ditadura militar, iniciada por Geisel até 1979, tinha sua trajetória continuada pelo seu sucessor, João Figueiredo. O procedimento, no entanto, não agradava a todos os militares — e alguns deles resolveram agir, no intuito de frear a instauração de uma democracia no Brasil, que vinha sendo o projeto político desde o começo da década de 1980.

Durante um evento que comemorava o Dia do Trabalhador, na noite de 30 de abril de 1981, duas bombas explodiram no Centro de Convenções do Riocentro, na capital do Rio de Janeiro. Naquele dia, placas de trânsito ainda foram pichadas com VPR (Vanguarda Popular Revolucionária), nome de um grupo de esquerda que não existia desde 1973. O relatório do DOI-Codi alegou que as fotos tiradas pelos militares foram “para aproveitamento na imprensa”.

O atentado ficou conhecido como Atentado do Riocentro. Mesmo que frustrada, a ação tinha como intuito culpabilizar a esquerda armada pela violência que atingia o país, paralisando, assim, a reabertura política do Brasil. Tentando criar pânico no público, as bombas foram explodidas, mas não tiveram o efeito planejado na comemoração.

João Figueiredo / Crédito: Wikimedia Commons

O sargento do Exército Guilherme Pereira do Rosário e o capitão Wilson Dias Machado, agentes do DOI-Codi do 1° Exército, manejavam um dos explosivos dentro de um carro esportivo civil Puma GTE no estacionamento do Riocentro. Acidentalmente, eles ativaram o dispositivo, fazendo com que o sargento morresse e o capitão ficasse gravemente ferido. A primeira parte do plano havia sido frustrada.

Segundo testemunhas da Comissão Nacional da Verdade, os dispositivos deveriam ter sido colocados embaixo do palco principal do local, que, durante o evento, abrigava mais de 20 mil pessoas que assistiam shows em homenagem aos trabalhadores brasileiros. Isso, porém, não aconteceu.

A segunda bomba artesanal foi explodida em uma pequena estação elétrica, localizada a alguns quilômetros de distância do local e responsável pela energia do estabelecimento. Lançada por cima do muro por militares do Exército, o artefato não foi capaz de cortar a eletricidade destinada ao Riocentro. Assim, a segunda ação do atentado terrorista também não havia resultado em nenhuma sequela aos presentes.

O acidente dentro do carro aconteceu por volta das 21h20. Apenas alguns minutos depois, ocorria a detonação na casa de força. Gonzaguinha, cantor que performava no palco ao final do evento, ainda informou ao público: “pessoas contra a democracia jogaram bombas lá fora para nos amedrontar”.

O sargento Guilherme Pereira do Rosário após acidentalmente ativar a bomba / Crédito: Wikimedia Commons

Foi apenas em 1999 que o caso foi reaberto pela procuradora da República Gilda Berer. O sargento Guilherme Pereira do Rosário e o capitão Wilson Dias Machado, o ex-chefe da Agência Central do SNI, general Newton Cruz, e o ex-chefe da agência do SNI no Rio, coronel Freddie Perdigão, foram responsabilizados pelo crime. 

O Superior Tribunal Militar, no entanto, fez com que o caso fosse, novamente, arquivado, considerando que a decisão anterior decidiu por enquadrar o atentado à Lei da Anistia. Como consequência disso, os envolvidos não sofreram com nenhuma punição. 

O caso foi movido pelo Ministério Público Federal e novamente paralisado pelo Tribunal Regional Federal da 2ª Região, em 2014. Naquele ano, o jornal O Globo também publicou um documento que mostrava que o presidente João Figueiredo e o general Danilo Venturini, chefe do Gabinete Militar da Presidência já sabiam do plano um mês antes dele acontecer. 

Mas a movimentação não parou por aí. Neste ano, em 28 de agosto, o ministro Rogério Schietti votou por sua reabertura. Mas, em 25 de setembro, por 5 votos a 2, a 3ª Seção do Superior Tribunal de Justiça decidiu negar a solicitação, fazendo com que o caso permaneça indefinido e os responsáveis não julgados pelo atentado.


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