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Matérias / Crimes

Há 49 anos, Rubens Paiva era sequestrado e torturado pela ditadura militar brasileira

O então deputado do PTB teve sua casa invadida por agentes da repressão e foi levado para o quartel. Sua morte só seria esclarecida no século 21

André Nogueira Publicado em 20/01/2020, às 11h59

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Rubens Paiva, do PTB - Divulgação/Memórias da Ditadura
Rubens Paiva, do PTB - Divulgação/Memórias da Ditadura

Dando título à Comissão da Verdade do Estado de São Paulo, poucos nomes têm o tamanho de Rubens Paiva quando se trata da resistência à repressão ditatorial dos militares nos anos 1970. Engenheiro do Mackenzie, Rubens foi militante estudantil em São Paulo, antes de ser nomeado como deputado federal pelo Partido Trabalhista Brasileiro, o mesmo do então presidente João Goulart.

Quando o Exército Brasileiro tomou o Congresso Nacional, consumando o Golpe que derrubou Jango, Paiva fez um importante discurso onde convocava estudantes e trabalhadores à resistência, tornando-se, já nesse momento, alvo dos militares golpistas que instaurariam uma sangrenta ditadura no país. Foi cassado e se exilou na Iugoslávia, voltando um ano depois ao Rio de Janeiro.

Rubens se tornou símbolo da série de desaparecidos políticos que foram presos pelo governo e nunca mais voltaram, crime que era legitimado pelo AI-5. Assim como muitos militantes da oposição, seu corpo nunca foi encontrado, levando à agonia, ao mesmo tempo que a coragem, da família ao buscar justiça contra o malgrado da repressão.

Paiva / Crédito: Wikimedia Commons

Sua prisão ocorreu no dia 20 de Janeiro de 1971, quando a polícia invadiu sua casa, mesmo sem mandato, e ordenou que fosse levado à delegacia. Sem resistência, Rubens Paiva acalmou os invasores e pediu que embainhassem as armas, se trocou e acompanhou os militares até o estacionamento.

Paiva dirigia o próprio carro quando foi levado pelas autoridades. Quando a família conseguiu recuperar a máquina, nas dependências dos policiais, foi provado que o engenheiro havia sido preso (fato negado duramente pela repressão). Junto a Rubens, foram presas Eunice, sua esposa (por doze dias) e Eliana, sua filha (por um dia).

Do quartel, Rubens foi transferido para o DOI-CODI, onde foi interrogado, torturado e assassinado por militares do regime. No entanto, segundo a versão oficial do Exército, o militante de esquerda teria sido sequestrado por bandidos dois dias depois de sua prisão, e os militares teriam perdido sua localização.

Mesmo assim, com as investigações proporcionadas pela Comissão Nacional da Verdade foi catalogado o depoimento do coronel da Reserva Paulo Malhães, que confirmou a versão da família de que Rubens Paiva foi torturado até a morte por agentes do Estado. Seu corpo foi jogado em um rio na serra fluminense.

Busto homenageia Rubens Paiva em sala da câmara baixa do Congresso Nacional. Há também um busto do torturado em frente à antiga sede do DOI-CODI onde morreu / Crédito: Divulgação/Facebook

A investigação de 2014 comprovou o que havia sido revelado apenas em 2012, quando, com a divulgação de documentos da repressão, foi encontrada a única prova documental de que Rubens Paiva havia sido preso pelas Forças Armadas: estava provado oficialmente pelo Informe nº 70 do DOI-CODI do Rio, datado de 25 de janeiro de 1971, em que membros da CISA, órgão da inteligência da Aeronáutica, declaravam que Rubens "foi localizado, detido e levado para o QG da 3ª Zona Aérea".

A versão está de acordo com testemunhos relatados por Elio Gaspari que afirmam que, após as sessões de tortura de Paiva, um médico, Amílcar Lobo, teria sido convocado para analisar os ferimentos do engenheiro, encontrando o prisioneiro nu deitado na cela em posição fetal, olhos fechados e com marcas de espancamento e hemorragias internas. Já naquele momento, era claro que a causa da morte dele tinha sido a tortura.

Depois, o também coronel Reynaldo Campos declarou ao Ministério Público que o Exército articulou para simular provas de que o engenheiro havia fugido do DOI. Com isso, foi comprovada a falsidade da versão do Exército.


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