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Matérias / Brasil

Por que os guerrilheiros brasileiros foram derrotados pela ditadura militar?

Saiba como 1.400 pessoas desafiaram o regime militar com sequestros e atentados

Tiago Cordeiro Publicado em 16/11/2019, às 12h48

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Carlos Marighella foi um dos maiores nomes entre os grupos de esquerda durante a ditadura militar brasileira - Domínio Público
Carlos Marighella foi um dos maiores nomes entre os grupos de esquerda durante a ditadura militar brasileira - Domínio Público

Aeroporto dos Guararapes, Recife, manhã de 25 de julho de 1966. No saguão, dezenas de pessoas aguardam a chegada do general Costa e Silva, candidato do governo à presidência. Às 8h50, uma maleta é encontrada em uma banca de jornal, a poucos metros do aeroporto.

O jornaleiro pede que um guarda civil a leve para a seção de achados e perdidos. O agente dá alguns passos e o objeto explode. Dentro dele havia uma bomba-relógio. O guarda perdeu uma perna e o secretário de Segurança de Pernambuco ficou sem quatro dedos da mão esquerda.

O almirante da reserva Nélson Gomes Fernandes e o jornalista Edson Régis de Carvalho morreram na hora. Outras 12 pessoas ficaram feridas. Costa e Silva, que seria escolhido presidente indiretamente em outubro, não estava lá (uma pane fez a aeronave em que ele viajava descer no aeroporto de João Pessoa). Começou assim, com um atentado desastrado e jamais assumido por qualquer organização, uma espécie de guerra civil não-declarada no Brasil. De um lado, as Forças Armadas. De outro, homens e mulheres que não aceitavam o governo dos militares.

O conflito durou oito anos, de 1966 a 1974. Apenas 1416 civis pegaram em armas, mas sua ousadia fez a ditadura tremer. No auge dos embates, entre 1968 e 1971, eles assaltaram 154 bancos e carros-fortes. Durante toda a luta, roubaram 3,8 milhões de dólares – valor que fez da guerrilha brasileira a mais rica do mundo na época. Também realizaram cerca de 40 atentados a bomba, seqüestraram oito aviões comerciais e quatro diplomatas (nunca antes, nem depois, um embaixador seria sequestrado no Brasil). Um foco de guerrilha fez o Exército levar para a região do Araguaia, no atual Tocantins, 3.200 homens em uma única operação. Foi o maior movimento de tropas em território nacional desde a Guerra de Canudos, no fim do século 19.

Nas grandes cidades, a guerra não era visível — não havia batalhões nas ruas. Mas o conflito vinha à tona com frequência. Assaltos e atentados atribuídos a terroristas apareciam em manchetes de jornal, assim como fotos de militantes procurados pela polícia. Qualquer cidadão de classe média podia ser vizinho de aparelhos – o nome dado a residências que serviam de abrigo para os guerrilheiros. Cedo ou tarde, esses locais acabavam cercados pelas autoridades e invadidos com diferentes graus de violência. As barreiras policiais, os tiroteios nas ruas e as perseguições de automóveis eram comuns. Por mais que a ditadura se empenhasse em esconder o que estava acontecendo, o cheiro de pólvora estava no ar.

Cenário

A primeira grande iniciativa armada contra a ditadura partiu do ex-governador gaúcho Leonel Brizola. Após o golpe militar, em 1º de abril de 1964, ele se exilou no Uruguai. Estabeleceu uma conexão estreita com o líder cubano Fidel Castro e criou o Movimento Nacionalista Revolucionário. Mandou guerrilheiros para treinar em Cuba e iniciou um plano de tomada do poder.

Em março de 1965, uma coluna organizada pelo ex-coronel Jefferson Cardim partiu da cidade gaúcha de Três Passos rumo ao Mato Grosso. Depois de três dias, chegaram a Cascavel, no Paraná, onde foram dispersados a tiros pelo Exército. Em 1967, Brizola apoiou mais duas iniciativas. Na primeira, na serra do Caparaó, em Minas Gerais, todos os 22 guerrilheiros se renderam sem lutar, em abril. Já no Bico do Papagaio, no atual Tocantins, os 20 militantes debandaram em agosto, quando o organizador do movimento, o jornalista Flávio Tavares, foi preso.

Brizola desistiu de tomar o poder. O vácuo deixado por ele foi preenchido por organizações que haviam nascido do Partido Comunista Brasileiro (PCB). Enquanto o “Partidão”, clandestino desde 1947, defendia o combate pacífico à ditadura, a maioria das dissidências queria pegar em armas para iniciar uma revolução.

“Todas elas queriam o socialismo”, diz Flávio Tavares, que voltou para a luta armada em 1969. Inspirados nas revoluções chinesa e cubana (e na canseira que as tropas americanas estavam levando nos campos do Vietnã), os grupos armados queriam montar guerrilhas rurais, sustentadas pelo dinheiro adquirido em “expropriações” nas cidades.

Nesse contexto cresceram as 19 organizações que partiram para o confronto direto, como a Ação Libertadora Nacional (ALN), a Vanguarda Popular Revolucionária (VPR), o Partido Comunista do Brasil (PCdoB) e o MR-8 (Movimento Revolucionário 8 de Outubro). A ALN era a maior delas, com 250 membros.

Carlos Lamarca ensina a atirar / Crédito: Reprodução

Enquanto grupos armados começavam a agir, as vias pacíficas para combater a ditadura se esgotavam. Na primeira metade de 1968, houve grandes manifestações estudantis, reprimidas com violência. Greves também provocaram fortes reações — em Osasco, na Grande São Paulo, a paralisação durou seis dias e a cidade ficou sitiada pelos militares. “Quando a greve terminou, mergulhei na luta armada. Não havia liberdade nem espaço para o diálogo. O jeito era buscar o caminho da violência”, diz José Ibrahim, então presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Osasco, que se filiou à VPR.

Quando, na sexta-feira 13 de dezembro de 1968, o presidente Costa e Silva aprovou o Ato Institucional número 5, acabando com o que restava dos direitos civis e dando carta branca à repressão, muitos jovens ganharam o motivo que faltava para pegar em armas. “A partir desse momento, a luta armada se apresentou como uma alternativa razoável”, afirma a historiadora Beatriz Kushnir, diretora do Arquivo Geral da Cidade do Rio de Janeiro. “O golpe de 64 me despertou para a política. E o AI-5 me levou para a luta armada”, resume o fotógrafo carioca Paulo Jabur, que entrou para o MR-8 em 1969.

Ataque

No momento em que o AI-5 entrou em vigor, os grupos de esquerda acumulavam meses de ações bem-sucedidas. Em 1967, Carlos Marighella, militante comunista ativo desde a época de Getúlio Vargas, fundou a ALN. Durante um ano, a organização confundiu a ditadura, agindo sem assumir a autoria de assaltos e atentados. O mistério acabou após o roubo de um carregamento de 31 mil dólares do Instituto de Previdência da Guanabara. Um dos envolvidos foi preso e contou o que sabia. Dias depois, a revista Veja de 20 de novembro de 1968 anunciava: “Procura-se Marighella, chefe comunista, crítico de futebol em Copacabana, fã de cantadores de feira, assaltante de bancos, guerrilheiro, grande apreciador de batidas de limão”.

Ao lado da ALN, a VPR se consolidou como um dos principais grupos de resistência à ditadura. Seu sucesso, em grande parte, se devia à liderança de um ex-capitão do Exército, Carlos Lamarca. Em janeiro de 1968, Lamarca abandonou o 4º Regimento de Infantaria, em Osasco, levando uma Kombi com 63 fuzis e três metralhadoras. A ALN fez assassinatos seletivos de militares, assaltou o Hospital Militar do Cambuci, em São Paulo, e arremessou um carro-bomba contra o quartel-general do 2º Exército, no bairro paulistano do Ibirapuera .

Carlos Marighella / Crédito: Reprodução

Em maio de 1969, um comando de 13 militantes, agindo sob as ordens de Lamarca, dirigiu-se até o morro de Santa Teresa, no Rio de Janeiro. Lá vivia um irmão de Ana Capriglioni, amante do ex-governador paulista Adhemar de Barros, morto dois meses antes. Vestidos de agentes da Polícia Federal, os membros da VPR pediram para revistar o local em busca de “material subversivo”. Levaram dali um cofre que havia pertencido a Adhemar.

Em um aparelho no bairro de Jacarepaguá, usando um maçarico, um militante abriu um pequeno buraco no cofre e o encheu de água, para evitar que o dinheiro fosse queimado durante o corte do metal. Quando todas as notas foram retiradas e penduradas para secar, a VPR tinha nada menos que 2,6 milhões de dólares. Nunca no mundo um grupo guerrilheiro tinha levantado tanto dinheiro em uma única ação.

Mas o ato mais impressionante da guerrilha urbana ainda estava por vir. Membros da Dissidência Universitária da Guanabara, os jovens Franklin Martins (ex-ministro-chefe da Secretaria de Comunicação Social do governo Lula) e Cid de Queiroz Benjamin planejaram o seqüestro de Charles Burke Elbrick, embaixador americano no Brasil.

Sem condições de rea­lizar uma ação desse porte, os militantes pediram a ajuda da ALN. A organização destacou Virgílio Gomes da Silva, que já tinha feito treinamento de guerrilha em Cuba, e Joaquim Câmara Ferreira, braço-direito de Marighela. Na manhã de 4 de setembro, Elbrick foi interceptado em seu Cadillac e levado para uma casa na rua Barão de Petrópolis, no Rio de Janeiro.

O embaixador foi solto dois dias depois. Antes disso, os militares tiveram que se curvar a duas grandes exigências. Aceitaram que os meios de comunicação, então submetidos a censura, divulgassem um comunicado criticando o regime militar. Além disso, o governo libertou 15 presos políticos e os enviou ao México. Entre eles estavam Flávio Tavares e José Ibrahim. “Desembarquei no México e, depois, fui morar em Cuba. Fomos recebidos pessoalmente por Fidel Castro. Foi emocionante. Ele era uma figura lendária para todos nós”, diz Ibrahim.

Aliás, os dois Carlos, Lamarca e Mariguella, não se entendiam bem. Quando fundou a ALN, em 1967, o baiano Carlos Marighella era um carismático líder de 55 anos que gostava de escrever poemas. Tinha passado nove anos preso e outros 21 na clandestinidade. “Encontrei com ele uma vez, durante uma feijoada”, conta a ex-militante Maria do Amparo Araújo. “Ele era corajoso, mas não tomava cuidado. Nas reuniões que fizemos juntos, eu ia armado e ele não”, diz outro ex-militante, o jornalista Flávio Tavares.

Já o carioca Carlos Lamarca, 26 anos mais novo, era mais disciplinado. Depois de ser reprovado duas vezes, entrou para a escola de cadetes, onde se tornou exímio atirador. Na clandestinidade, manteve a atitude de militar. “Era extremamente prudente e tinha uma conduta muito rígida”, conta Zenaide Machado de Oliveira, que militou na VPR na mesma época. “Nunca fez o que outros dirigentes faziam, como ir para a rua com frequência”.

Juntos, o líder carismático e o soldado aplicado poderiam ter feito uma parceria e tanto. Eles chegaram a manter contato — foi Marighella quem ajudou Lamarca a enviar sua mulher e os dois filhos para Cuba, dias antes de o capitão entrar para a guerrilha. Mas um episódio marcaria o rompimento entre os dois. Quando abandonou seu quartel em uma Kombi carregada de armas, Lamarca as deixou com a ALN. Dias depois, já integrado à VPR, Lamarca quis os fuzis de volta. Marighella avisou que ia ficar com eles. Lamarca respondeu que, naquele caso, faria uma ação contra a ALN para recuperá-los. Depois de três meses, Marighella acabou com a tensão e devolveu os fuzis — mas só metade. Lamarca nunca mais confiaria no xará.

Contra-ataque

No início, as ações armadas foram um sucesso. A confiança dos grupos de esquerda chegou a ser tão grande que, em 1968, um militante entrou em um banco paulistano com uma maçã nas mãos e disse: “Assalto outra vez! Todo mundo para o banheiro!” Os militares demoraram a reagir. “Até março de 1969 não havia estrutura montada para a repressão”, afirma um oficial, ativo na época, que não quis se identificar. “Os militantes não assumiam a autoria do que faziam, nem a gente acreditava que eles pudessem estar fazendo aquilo.”

A resposta da ditadura foi levada a cabo por três entidades: o Centro de Informações do Exército (CIE) e o da Marinha (Cenimar) e o Núcleo do Serviço de Informações de Segurança da Aeronáutica (N-Sisa). Coordenadas pelo Serviço Nacional de Informações (SNI), todas funcionavam com independência do resto das Forças Armadas. Eram chamadas pelos militares de “comunidade de informação”.

Para combater os guerrilheiros civis, o governo havia montado sua própria guerrilha. “O quartel tinha uma clara divisão”, diz outro militar, que serviu durante os 21 anos da ditadura. Ele conta que, enquanto cuidava das tarefas cotidianas do Exército ao lado dos colegas, observava à distância a movimentação dos membros da “comunidade de informação”. “Eles eram fechados, não participavam do nosso dia-a-dia. Andavam barbados, sem uniforme. Eram os que agiam contra os militantes e se infiltravam em organizações”, afirma.

O grande contra-ataque dos militares ocorreu após o seqüestro de Charles Elbrick. “Essa ação foi nosso fracasso triunfal”, diz Flávio Tavares. “Não estávamos preparados para a reação que veio depois.” Em 4 de novembro de 1969, Marighella foi morto a tiros no bairro dos Jardins, em São Paulo. De setembro de 1969 a janeiro de 1970, 66 aparelhos foram descobertos, 320 pessoas foram presas e 300 armas foram apreendidas. A guerrilha nunca mais seria a mesma. “Da explosão da bomba no aeroporto dos Guararapes ao seqüestro de Elbrick, as organizações armadas têm uma narrativa de ações. Depois da morte de Marighela, começou uma crônica de cadáveres”, diz o jornalista Elio Gaspari em seu livro A Ditadura Escancarada.

Recorrendo à tortura para conseguir informações dos prisioneiros, os agentes da ditadura começaram a desmontar a estrutura do inimigo. O ex-militante Renato Tapajós conta que, a partir do momento da prisão, uma corrida contra o tempo começava: “Tínhamos que resistir 48 horas, até que os companheiros percebessem que tínhamos desaparecido e tivessem condições de abandonar todos os lugares que eu pudesse indicar”.

Encurralada, a guerrilha limitou-se a sobreviver. Em vez de grandes assaltos a banco, os alvos agora eram caixas de supermercado e drogarias. Dois sequestros de diplomatas, o embaixador alemão Ehrenfried von Holleben e o cônsul japonês Nobuo Okuchi, foram feitos às pressas, para libertar militantes que tinham acabado de ser presos. Em dezembro de 1970, quando o embaixador suíço Giovanni Bucher foi sequestrado no Rio de Janeiro, o governo se recusou a soltar presos da lista apresentada. Depois de 40 dias, os militantes quiseram matar Bucher. Lamarca, que liderava a ação, recusou-se a interromper as negociações com o governo e conseguiu chegar a uma lista do agrado das duas partes. Foi a última ação desse tipo no Brasil.

Com a morte de Marighela, Lamarca havia assumido a posição de líder mítico que sustentava a esperança na vitória da esquerda. A ditadura sabia disso. Cansado da vida reclusa nos aparelhos, ele havia tentado montar, em 1970, um campo de treinamento de guerrilheiros no Vale do Ribeira, em São Paulo. O governo descobriu, mas Lamarca conseguiu escapar. Em 1971, ele chegou ao sertão da Bahia. Depoimentos de militantes presos em Salvador levaram o Exército até o povoado de Pintada, onde Lamarca foi morto a tiros em 17 de setembro de 1971.

Para escapar do cerco da ditadura, os grupos de esquerda ainda tinham um último recurso: o sequestro de aviões comerciais. A idéia era simples. Militantes tomavam o controle da aeronave e obrigavam o piloto a desviar para outro país, onde pudessem se exilar — entre o fim de 1969 e o começo de 1971, quatro desses aviões, vindos do Brasil, foram forçados a aterrissar em Cuba.

Mas essas ações também começaram a falhar. Em 30 de maio de 1972, o ex-marinheiro Grenaldo de Jesus Silva, do Movimento de Libertação Popular (Molipo), anunciou o sequestro de um avião da Varig que decolou de São Paulo. Silva queria ir para o Uruguai, mas o piloto conseguiu voltar ao aeroporto de Congonhas. A polícia invadiu a aeronave e matou o militante com um tiro na nuca.

Quando Lamarca tombou no sertão, o número de militantes presos e vivendo fora do país já era bem maior do que os que ainda estavam em ação. Os cerca de 100 que restavam eram pegos um após o outro. Em alguns casos, com a ajuda de ex-militantes que, depois de presos, aderiam ao Exército e viravam agentes duplos. O mais famoso foi José Anselmo dos Santos, o Cabo Anselmo. Em 1973, no Recife, ele conduziu militares a um encontro da VPR. Os seis líderes do grupo que estavam lá morreram, incluindo a paraguaia Soledad Barret Viedma, companheira de Anselmo, que estava grávida.

Na mesma época, alguns militantes começaram a matar seus próprios colegas. Entre 1972 e 1973, pelo menos nove guerrilheiros quiseram abandonar as armas e, sob a acusação de traição, foram mortos pelos próprios companheiros — eram os chamados justiçamentos. Em 1974, a ALN só teria três membros vivos e soltos. “Fui para o Rio de Janeiro e fiquei trabalhando por lá, como datilógrafa, secretária, sempre usando nomes falsos”, conta Maria do Amparo Araújo, que conseguiu escapar dos militares.

A resistência armada nas cidades acabou sem formar uma alternativa de tomada de poder. Enquanto isso, só um grupo, o PCdoB, conseguira estruturar uma guerrilha rural. Em 1971, os comunistas ocupavam três áreas na região do rio Araguaia, em uma extensão de 130 quilômetros. O objetivo era fazer um trabalho lento de conscientização e mobilização dos agricultores locais.

Um dos primeiros líderes a chegar, em 1966, foi Osvaldo Orlando da Costa, o Osvaldão. Ex-boxeador, com 1,98 metro de altura, ele foi caçador e garimpeiro para se integrar à comunidade. Como escapou de várias emboscadas, os moradores da região passaram a garantir que, ao entrar no mato, Osvaldão virava lobo, cachorro ou borboleta. Morto em 4 de fevereiro de 1974, teve seu corpo içado por um helicóptero e exibido na região. Naquele momento, já não havia mais resistência nas cidades nem no campo.

Oito anos depois do atentado em Recife, os militares tinham vencido. Mas por que a esquerda do Brasil não foi capaz de repetir o sucesso de Cuba, por exemplo? Os próprios militantes levantam algumas hipóteses. A falta de cooperação é uma delas. “A política é um jogo de vaidades, e até na resistência armada as vaidades pessoais se impõem. Foi impossível estabelecer a unidade entre os grupos, e isso explica muito do fracasso da luta”, diz Flávio Tavares.

Outra justificativa é que a esquerda não conseguiu criar um contato real com a sociedade. Mesmo no Araguaia, depois de cinco anos de trabalho com a população local, ninguém entendia o que aqueles “paulistas” faziam ali – uns achavam que eles eram padres missionários, outros que eram grileiros.

Para os que sobreviveram, acima da análise sobre a derrota da luta armada, há a dura memória dos anos de chumbo. “Não adianta ser humanista. A história come gente”, diz Paulo Jabur. “Os melhores de nós morreram, e isso foi uma perda”, afirma Flávio Tavares. “Apesar de todos os nossos erros, foi uma geração que se doou. Fomos um exemplo de doação.”


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