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Matérias / Portugal

A Revolta dos Cravos: a população pede o fim da ditadura de Salazar em 1974

O movimento militar que derrubou o governo salazarista completa hoje 45 anos

André Nogueira Publicado em 25/04/2019, às 12h00 - Atualizado às 13h00

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Povo nas ruas de Lisboa - Reprodução
Povo nas ruas de Lisboa - Reprodução

Hoje é comemorado em Portugal um dos mais importantes marcos de sua História: o dia que reformulou toda a ordem nacional e mudou diversas dinâmicas políticas e econômicas desse pequeno país do extremo-oeste da Europa. Trata-se da “Revolução dos Cravos”, grande movimento civil-militar responsável pelo golpe que derrubou Marcelo Caetano e deu fim à ditadura fascista, conhecida como Estado Novo.

A estrutura derrubada em 1974 remonta ao ano de 1926, no qual a “Revolução Nacional” derrubou a República implantada em 1910 — que não tinha uma forte tradição que a sustentasse, afinal, nesse ano foi derrubada a monarquia dos Bragança, que existia há pelo menos 270 anos —  e implantou uma ditadura.

Dentro da cúpula oficial da ditadura, o nome de Antônio de Oliveira Salazar se destacava, em 1932, o político se tornou primeiro-ministro das Finanças (de uma naçãos quebrada) e ditador do país. Salazar implementa assim o programa do Estado Novo, ditadura centralizada e nacionalista inspirada na experiência italiana de Mussolini. Outorga-se uma Constituição e criam-se diversos órgãos de repressão política.

Militares vitoriósos em 1926/Wikimedia Commons

Com a Constituição de 1933, os movimentos sociais e a livre manifestação civil foram suprimidos e as políticas de assistência social foram suplantadas. O governo assumiu a bandeira corporativista e implantou uma ordem vertical econômica que visava a retomada das finanças do país e o retorno do desenvolvimento, associado a uma cúpula de empresários, industriais e líderes de empreendimentos coloniais que, associados ao Estado, comandavam a economia local.

As colônias em África foram abertas a investimento estrangeiro, possibilitando maior estabilidade do domínio territorial, motivo este que causou a atrasada independência das colônias portuguesas. A tentativa de retomada econômica teve um sucesso iniciail, mas nunca conseguiu manter-se estruturadamente e Portugal se afundou num cenário de desestabilidade e pobreza.

Movimentos internos de Portugal praticavam a oposição para com a ditadura extremamente autoritária. A derrubada de Salazar era um objetivo político de diversos grupos desde os anos 1940, mas o apoio internacional do bloco estadunidense ao governo de Salazar, responsável pela perseguição sistemática do Partido Comunista Português e responsável por conter o avanço da esquerda no mundo ibérico junto a Franco, sustentou seu poder até os anos 1970.

Propaganda nacionalista de Salazar

O grande catalisador das revoltas que culminarão na queda do Estado Novo foi as guerras coloniais travadas pelas forças militares ultramarinas desde os anos 1960. Revoltas em Angola, Moçambique e Guiné Bissau e Cabo Verde exigiam a independência nacional e, como o sistema de extravio colonial era a principal fonte de renda de Portugal, foram dedicados muitos esforços para a contenção dos movimentos de independência. A partir de 1961, as forças de Portugal começam a travar guerras em território africano, o que enfraqueceu a ditadura, política e economicamente.

Em 1968, Salazar é afastado do governo por um derrame e assume Marcelo Caetano, em um cenário de desestabilidade militar e completo caos econômico, além do desgaste social causado por mais de 30 anos de repressão contra a sociedade. As bases de Caetano eram cada vez mais frágeis e, como estopim, o desregramento situacional das Forças Armadas culminou na quebra de suas bases políticas mais fortes.

A Revolta dos Cravos

Dessa dissidência do governo, nasce o Movimento das Forças Armadas (MFA), grupo de oposição que defendia a derrubada do governo salazarista e era diretamente influenciado pelo PCP. Em 1974, o movimento social desencadeou uma revolução: à meia-noite, organizadamente, o povo foi convocado pela manifestação da Rádio Renascença, que tocava a música Grândula Vila Morena, de Zeca Afonso, considerada subversiva e proibida pela censura. Essa convocação fez com que tomassem as ruas de Lisboa contra Marcelo Caetano. O MFA assume a liderança e depõe o presidente, que foge para o Brasil, fazendo assumir a Junta de Salvação Nacional, que elenca António de Spínola como presidente.

Com a vitória do golpe do MFA, a população sai às ruas para comemorar, todos em posse de um cravo, flor símbolo da nação portuguesa, para entregar aos militares como agradecimento. Por esse motivo, o dia ficou conhecido como “Revolução dos Cravos”.

O governo recém-assumido declara inválida a Constituição de 1933, legaliza todos os partidos políticos e extingue a Polícia Internacional de Proteção do Estado, principal responsável pela repressão nos tempos de ditadura. Spínola, que tinha como compromisso reestabelecer a ordem democrática e econômica, contendo também o avanço da força política e militar dos movimentos de esquerda, falha completamente, renunciando em  setembro do mesmo ano.

Os militares tomam as ruas para derrubar Caetano 

Assume então, um governo do Movimento das Forças Armadas, com um plano de regime baseado na nacionalização da indústria e retomada da economia. Ao mesmo tempo, as colônias de Moçambique, Angola, Cabo Verde e São Tomé e Príncipe assumem a independência política e se tornam Estados autônomos. Portugal, sem colônias, tem que assumir uma reformulação das bases econômicas, que não foram completamente reestruturadas até hoje.

Em 1975, Spínola tenta sem sucesso assumir o poder por um golpe de Estado. Assume a junta militar composta por Costa Gomes, Otelo Saraiva de Carvalho e Vasco Gonçalves, que iniciam o projeto nacional de estatização dos bancos e nacionalização das terras e da indústria.

 Os comunistas também falham numa tentativa de golpe, mas o Partido Socialista assume posição de destaque na Assembleia Constituinte, algo que possibilitou a formulação de uma constituição que contemplasse as demandas populares. Em 1976, nasce a nova Constituição, que torna as nacionalizações e a Reforma Agrária legalmente irreversíveis. Desde então, Portugal é uma república democrática tentando voltar à sustentabilidade econômica.