Busca
Facebook Aventuras na HistóriaTwitter Aventuras na HistóriaInstagram Aventuras na HistóriaYoutube Aventuras na HistóriaTiktok Aventuras na HistóriaSpotify Aventuras na História
Matérias / Personagem

Ricardo Coração de Leão, o rei no campo de batalha

Reinou pouco e morreu relativamente jovem, mas sua reputação como guerreiro legendário é eterna

Ricardo Giassetti Publicado em 03/11/2019, às 08h00

WhatsAppFacebookTwitterFlipboardGmail
O grande monarca - Getty Images
O grande monarca - Getty Images

Quando o rei inglês Eduardo III declarou guerra ao monarca francês Filipe VI, em 1337, estava fazendo mais do que dar início à série de conflitos que seria chamada de Guerra dos Cem Anos. Ele sacramentava mais de 400 anos de ressentimentos entre França e Inglaterra.

A guerra mais significativa do período medieval, que trouxe mudanças que vão desde as armas e estratégias de batalha até a estrutura socioeconômica feudal  —propiciando o nascimento das nações europeias  —, tem raízes em 911.

Foi nesse ano que, após várias batalhas contra a tribo viking do gigante Rollo, o rei francês Carlos, o Simples, entendeu que os bárbaros do norte queriam apenas um lugar para viver. Concedeu a eles um território, que ficou conhecido como Normandia.

Em 150 anos, os normandos já haviam criado uma nação e ajudavam os ingleses do outro lado do canal contra outros vikings. Em 1066, os normandos se rebelaram e tomaram as ilhas sob o comando de Guilherme I, o Conquistador, autoproclamado rei da Inglaterra.

Por mais 150 anos, os anglo-normandos descendentes de Guilherme I reinaram tanto sobre a Normandia quanto sobre o solo inglês. Em 1216, porém, a Normandia voltou para mãos francesas, o que nunca mais seria esquecido pelos nobres ingleses.

Começava aí uma disputa de direitos e brios nacionalistas que culminaria na Guerra dos 100 Anos  — e, antes de ela começar, um nobre inglês seria o personagem principal da crise entre a Inglaterra e a França.

A história de Ricardo Coração de Leão é intricada, porém fascinante. Seu pai, Henrique II, foi rei inglês. Coroado em 1154, em seus 35 anos de reinado englobou nacos da Escócia e da Irlanda, herdou as províncias de Anjou e Normandia e ainda conquistou o coração e as terras de Eleanor de Aquitânia, antes casada com o rei Luís VII da França.

Além da rainha não ter deixado herdeiros ao rei francês, ainda levou seu dote, a Aquitânia (região do sudoeste da França), para as mãos de Henrique II. Terceiro filho do casal, Ricardo não tinha a menor perspectiva de se tornar rei, mas tinha uma vantagem: era o predileto da mãe. Em 1173, ela traiu o marido com o cérebro de uma conspiração que envolveu os três filhos mais velhos, Henrique, Ricardo e Geoffrey.

Eleanor queria derrubar o rei através de uma guerra civil. Não conseguiu. A rebelião destruiu a confiança de Henrique nos filhos, principalmente em Ricardo. O caçula, João, o único a não participar do plano, se tornou o favorito à sucessão. Eleanor terminou presa por ordem de Henrique.

Foi nesse período que Ricardo desenvolveu um forte vínculo com o jovem Filipe Augusto, o herdeiro que sua mãe não dera a Luís VII. Filipe era filho de Luís VII com a terceira esposa dele, Adèle de Champagne. Foi assim que, apesar de inglês, o jovem Ricardo foi viver na França.

Teve ironicamente uma educação francesa e cresceu aprendendo a chamar a França de lar. Essa amizade entre Filipe Augusto e Ricardo seria essencial em 1188, quando Henrique II tentou tomar a Aquitânia para o filho caçula, conhecido jocosamente como João sem Terras.

Ricardo, já um soldado e um nobre que sabia atuar como político, se aliou a Filipe com a promessa de lhe conceder a Normandia. Um ano depois, derrotado, Henrique II resignou-se e concedeu a Ricardo o título de herdeiro  — e morreu meses depois. Em 6 de julho de 1189, Ricardo se tornava rei da Inglaterra. Em 3 de setembro, foi coroado, na Abadia de Westminster, em Londres. Um dos primeiros atos do novo rei foi tirar sua mãe da prisão.

A coroação / Crédito: Wikimedia Commons

Ricardo não cumpriu a promessa com Filipe  — que nunca esqueceu o incidente. Em 1190, a convocação para libertar a Terra Santa de mãos muçulmanas na Terceira Cruzada juntou novamente Ricardo I, da Inglaterra, e o agora rei Filipe II, da França. A coragem do rei Ricardo como general nessa cruzada lhe valeu o título de Coração de Leão  — mas ele ganhou também a fama de matador de árabes.

[Colocar ALT]
Ricardo, Coração de Leão durante a cruzada / Crédito: Wikimedia Commons

Filipe via algo a mais que a Terra Santa em jogo. A historiadora austríaca Ulrike Kessler diz que Filipe tentava “tanto selar a derrota de Ricardo quanto evitar seu retorno.

Para ele, não havia motivo para tomar Jerusalém. Sabia que a vitória seria creditada somente a Ricardo”.

Castigado pela disenteria, o monarca francês abandonou a cruzada. “Filipe era ardiloso. Ele iniciou a desconstrução do reino e da imagem de Ricardo assim que voltou à França”, afirma Paul Halsall, professor de história medieval da Universidade Fordham, em Nova York.

Enquanto isso, a força de Eleanor de Aquitânia como regente começava a esmorecer diante do poder aliado de seu filho João sem Terras e de Filipe II.

No caminho de retorno da cruzada, Ricardo acabou capturado pelo duque Leopoldo V da Áustria, ficando prisioneiro do rei germânico Henrique VI. Ricardo só se libertou com o pagamento de 150 mil marcos, o equivalente a dois anos dos dividendos da coroa inglesa. Filipe e João se uniram para oferecer a mesma quantia para que Ricardo continuasse preso.

Não conseguiram deixá-lo encarcerado. De volta à Inglaterra, em 1194, Ricardo precisou apenas de algumas semanas para recuperar os castelos tomados por João. Dos dez anos de reinado, Ricardo não passou mais do que seis meses nas ilhas britânicas  — estava sempre em combate.

Em 1199, quando foi pessoalmente recuperar uma botija de ouro em uma rixa, levou uma flechada no ombro esquerdo de um jovem arqueiro de nome Peter Basil. Estava sem armadura e usava apenas capacete e escudo.

Morte

A falta de cuidados médicos condenou o rei guerreiro à morte aos 41 anos. Ricardo só teve tempo de ordenar a divisão de seu reino. Três quartos de suas terras ficariam para seu irmão João. O corpo embalsamado foi enterrado no Mosteiro de Fontevrauld, aos pés da tumba de seu pai.

Para a Inglaterra, o Leão não deixou nada, mas os ingleses entoariam suas façanhas para aumentar o sentimento patriótico na guerra que viria depois contra os franceses  — um conflito que teria como motivo as mesmas regiões disputadas entre Ricardo, João, sua mãe e Filipe.

A morte do rei / Crédito: Wikimedia Commons

A Guerra dos Cem Anos começou 123 anos após a morte de Coração de Leão. A lã inglesa foi o estopim. É que, por volta de 1320, a região de Flandres (atual Bélgica) era uma grande produtora de tecidos. Os comerciantes apoiavam os ingleses, de cuja lã dependiam.

O túmulo de Ricardo / Crédito: Wikimedia Commons

Mas o território estava sob vassalagem francesa e, em 1329, o rei francês Filipe VI decidiu intervir, levando o inglês Eduardo III a suspender a venda de lã para a região e a retirar o juramento de fidelidade ao monarca  — e ainda por cima exigir seu trono. Deu-se então o impasse que finalmente levou a Inglaterra, onde nasceu Ricardo Coração de Leão. 


Saiba mais sobre os Guerreiros de Deus:

1. Guerreiros de Deus: Ricardo Coração de Leão e Saladino na Terceira Cruzada, de James Reston Jr. (2002) - https://amzn.to/2PzOaOF

2. Davi- o guerreiro de Deus, de José Carlos Gomes de Lima - https://amzn.to/2N6VUpt

3. Guerreiros de Deus Ricardo Coração de Leão e Saladino, de James Reston Jr. (2004) - https://amzn.to/2WxbT3g

4. Prisioneiros do Amor. Guerreiros de Deus, de Fátima Braga Gusmão (2013) - https://amzn.to/2JHFwKa

Vale lembrar que os preços e a quantidade disponível dos produtos condizem com os da data da publicação deste post. Além disso, assinantes Amazon Prime recebem os produtos com mais rapidez e frete grátis, e a revista Aventuras na História pode ganhar uma parcela das vendas ou outro tipo de compensação pelos links nesta página. ​