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Matérias / Folclore

A identidade secreta da Cuca, personagem do Sítio do Picapau Amarelo

No Dia Nacional do Livro Infantil, entenda como lendas medievais deram origem a uma das figuras mais famosas da obra de Monteiro Lobato

Lucas Vasconcellos Publicado em 18/04/2019, às 07h00

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Reprodução
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Visual de jacaré e poder de transformar crianças em pedras. Foi assim que a Cuca apareceu pela primeira vez na obra de Monteiro Lobato – mais especificamente no livro O Saci, de 1921. Embora a criatura já existisse no folclore brasileiro como uma bruxa que só dorme a cada sete anos e persegue crianças respondonas, foi no trabalho do escritor que a Cuca entrou, de fato, no imaginário popular. E isso não foi uma criação nacional.

Seu nome deriva de Coca (pronuncia-se “côca”), o dragão que São Jorge derrotou – e que, por sua vez, se confunde com ainda outra entidade macabra: o Coco. Que daria nome à fruta.

Além de nomear a fruta descoberta pelos portugueses na viagem de Vasco da Gama ao território de Malabar (1497-1498), na Índia, o termo “coco” significava “caveira” ou “cabeça” no português da época. Pois é: chamar cabeça de “coco” vem antes da fruta, e “cuca-fresca” é um termo que seria entendido na Idade Média.

Em algumas lendas portuguesas, o Coco é um fantasma com cabeça de caveira. Para assustar as crianças, os portugueses cavavam olhos em vegetais, como rábanos ou cabaças, e colocavam velas dentro – talvez haja uma ligação com as abóboras de Halloween graças à mesma origem celta.

A isso chamavam de Coco. E Coco se tornou sinônimo de figuras de aterrorizar crianças até a obediência, termo genérico para bicho-papão. Ou até para o diabo em Auto da Barca do Purgatório, de Gil Vicente, de 1518, e para o dragão vencido por São Jorge – a Coca ou Cuca.

São Jorge e o dragão / Reprodução

O dragão de São Jorge é central em suas lendas. Soldado romano nascido na Capadócia, no século 3, terminando executado por sua fé cristã. A história acontece na Líbia. Pagãos da cidade de Selene conviviam com a Cuca no pântano e acalmavam a fera com duas ovelhas por dia – ou, em caso de necessidade, sacrifício humano na base da loteria. Um dia, a filha do rei foi sorteada. O povo a deixou amarrada no pântano.

São Jorge, de passagem, viu a princesa, esperou pelo dragão e o atingiu com uma lança. Ao chegar à cidade com a criatura capturada, o povo se apavorou. São Jorge prometeu que mataria a fera se eles se convertessem ao cristianismo. Assim foi feito.

Monteiro Lobato tomou uma palavra da boca do povo, que queria dizer várias coisas malignas, para batizar sua bruxa com um aspecto reptiliano. Abrasileirada de dragão para jacaré. E que só ganhou uma peruca loira na Rede Globo, na produção do seriado infantil Sítio do Picapau Amarelo.