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Matérias / Crimes

Injustamente acusado de islamofobia: Relembre o caso do professor decapitado na França

Em 2020, assassinato de docente chocou os franceses e gerou uma onda de protestos no país

Fabio Previdelli Publicado em 10/03/2021, às 17h31 - Atualizado em 29/12/2021, às 17h30

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Protestos em homenagem ao professor Samuel Paty - Getty Images
Protestos em homenagem ao professor Samuel Paty - Getty Images

“Eu menti sobre uma coisa”, foram essas palavras, reveladas quando investigadores franceses ouviram de uma adolescente de 13 anos que havia denunciado seu professor, Samuel Paty, de 47 anos, por islamofobia

Porém, nessa altura, o pior já havia acontecido. Paty fora decapitado. A fala, por mais que gere uma reparação, mesmo que póstuma, ainda revolta e choca a França, que cada vez mais vira palco de ataques terroristas.  

A grave acusação 

Tudo começou entre o fim setembro e os primeiros dias de outubro, de 2020. Na ocasião, a jovem, que não teve sua identidade revelada, contou uma história que desencadearia uma terrível cadeia de eventos trágicos.  

Ela havia falado para seu pai que Paty pediu que alunos mulçumanos deixassem sua aula sobre liberdade de expressão e blasfêmia, antes que ele mostrasse ao restante da sala algumas caricaturas do profeta Maomé, que foram publicadas nos últimos anos pelo Charlie Hebdo, segundo relata o The Independent.  

Manchetes de jornais sobre o caso Samuel Paty / Crédito: Getty Imagens

Contrariando o pedido, a jovem alegou que recusou se retirar, o que a fez ser suspensa por dois dias. Barbarizado com os relatos da filha, Brahim Chnina prestou queixa contra Samuel por “difusão de imagens pornográficas”. 

Além disso, ele também publicou um vídeo, nas redes sociais, contra o professor, o chamando de “bandido”. Logo, suas falas logo ecoaram no país, assim como o número do telefone celular e o endereço de Paty.  

A campanha contou com a ajuda de Abdelhakim Sefrioui, um ativista islâmico. Acontece que, após ficar sabendo das denúncias, Abdullakh Anzorov, um refugiado checheno de 18 anos, atacou e decapitou Paty no dia 16 de outubro de 2020. Pouco depois, ele foi morto pela polícia.  

O crime aconteceu perto da escola secundarista Bois d’Alune, nos subúrbios de Paris. Descobriu-se, pouco depois, que o terrorista, antes do crime, ofereceu dinheiro para que alguns alunos identificassem o rosto de sua vítima. 

A mentira calamitosa 

Em outubro do ano passado, o Franceinfo, uma rede de rádio, teve acesso ao interrogatório feito com o professor. As declarações foram dadas quatro dias antes dele ser brutalmente assassinado. Nelas, o docente declarou que era vítima de uma mentira, já que a jovem nem teria participado da aula quando as caricaturas foram mostradas. 

"Ela inventou uma história através de rumores de colegas. Trata-se de uma falsa declaração com o objetivo de prejudicar a imagem do professor que eu represento, da escola e da educação como instituição", diz um trecho da transcrição do arquivo que a emissora teve acesso.  

Protestos em homenagem a Paty / Crédito: Getty Images

O jornal Le Parisien revelou que, de fato, a menina confessou ter espalhado uma notícia falsa se baseando no que foi dito por seus colegas após a aula. Alguns dos estudantes da sala da jovem, inclusive, confirmaram que ela estava ausente e que Paty não forçou nenhum aluno muçulmano a sair, muito pelo contrário, ele teria advertido, antes de mostrar as imagens, que quem se impressionasse poderia fechar os olhos.  

O periódico ainda diz que, no final de novembro, quando a jovem estava sob custódia da polícia, a mesma foi informada sobre as declarações de seus colegas. No entanto, ela reforçou suas afirmações e disse que eles estavam mentindo.  

Porém, dois dias depois, quando os investigadores voltaram a indagá-la, agora para apurar os possíveis motivos que causaram a denúncia, ela admitiu que havia mentido. “Eu menti sobre uma coisa”, disse.  

Confirmou-se, então, que ela não estava na classe naquele dia. O motivo de sua falta teria sido uma suspensão que havia levado no dia anterior por faltar demais. Segundo o Le Parisien, para que seu pai não soubesse da punição, ela teria inventado toda a história.  

A polícia acredita que ela possa ter falado tudo isso para se sentir valorizada pelo pai. O jornal diz que a garota já possui uma série de faltas e suspensões devido a seu comportamento insolente.

Em contrapartida, sua irmã gêmea possui um ótimo aproveitamento escolar, servindo como exemplo dentro da família. “Uma confissão que denota um contexto familiar difícil”, diz o jornal.  

“Situação insustentável” 

Com a publicação da notícia, o advogado da jovem, Mbeko Tabula, confirmou no mesmo dia da publicação da matéria, que ela realmente não estava em aula naquele dia. Em entrevista ao France Presse, ele disse que a menina mentiu “porque se sentiu presa em uma cadeia de eventos” e “porque seus colegas pediram que ela fosse sua porta-voz". “Havia uma inquietação real, ela se sentiu obrigada a falar”, completou. 

Entretanto, Virginie Le Roy, advogada da família de Samuel Paty, recusou essa explicação e disse que estava com “raiva” pelo fato da jovem ter mentido “desde o início”. “Essa explicação não me satisfaz, me deixa um pouco irritada porque são fatos sérios, dramáticos”, declarou em entrevista à rádio RTL.  

Homenagens a Paty / Crédito: Getty Images

“A situação da menina era insustentável”, diz. “Todos os elementos no processo do caso provam muito cedo que ela mentiu”. O pai da jovem e o ativista que ajudou na campanha foram presos preventivamente acusados de “cumplicidade no assassinato”. Já a jovem está sendo acusada de “denúncia caluniosa”. 

Ao todo, 14 pessoas foram indiciadas pelo caso, o que inclui 6 alunos do ensino médio, 3 amigos do agressor e 3 jovens que tiveram contato com ele nas redes sociais. O caso chocou todo o país e levantou diversas manifestações e marchas por toda a França. 


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