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Matérias / Ditadura Militar

Instrumento de tortura clandestina: a terrível e cruel Casa da Morte

Coordenado por agentes do exército durante a Ditadura Militar, o sobrado foi palco de estupros, humilhações e mortes violentas

Pamela Malva Publicado em 09/03/2021, às 20h30

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Fotografia da terrível "Casa da Morte" - Comissão Nacional da Verdade
Fotografia da terrível "Casa da Morte" - Comissão Nacional da Verdade

Em meados de 1964, o Brasil conheceu um dos períodos mais controversos de sua história: a Ditadura Militar. Durante o regime, Atos Institucionais entraram em voga e, em todo o país, pessoas foram detidas por se oporem ao governo.

Da fundação do DOI-CODI, em 1970, a uma intensa repressão, então, o Brasil foi tomado por um regime autoritário, que não media esforços para conseguir as informações que desejava. Foi assim, inclusive, que criou-se a “Casa da Morte”.

Localizada no antigo número 668 da Arthur Barbosa, na região serrana do Rio de Janeiro, a terrível construção foi usada como centro de tortura pelos oficiais do Regime Militar. Todos os horrores ocorridos lá dentro, no entanto, apenas tornaram-se de conhecimento público graças a Inês Etienne Romeu, a única sobrevivente da propriedade.

Uma jovem vítima

Nascida em Pouso Alegre, em Minas Gerais, a jovem ativista sempre interessou-se por política e, na escola, chegou a participar do grêmio estudantil. Mais tarde, já adulta, Inês cursou História e tentou ganhar a vida trabalhando em um banco.

Durante a Ditadura Militar, como membro da Vanguarda Popular Revolucionária (VPR), a jovem participou do sequestro do embaixador suíço Giovanni Bucher. Hoje, o episódio é conhecido como o mais longo sequestro realizado por guerrilheiros no período militar.

Após a libertação de Bucher, Inês, que já tinha 29 anos, tentou abandonar a guerrilha armada, mas acabou capturada pelos militares no dia 5 de maio de 1971. Uma vez detida, ela foi torturada no Departamento Estadual de Ordem Política e Social (DEOPS) e, em seguida, levada para a "Casa da Morte", no bairro de Caxambu.

Fotografia de Inês ao lado de Celina Romeu / Crédito: Comissão Nacional da Verdade

Memórias de cárcere

No total, Inês foi mantida na terrível propriedade por 96 dias, entre oito de maio a 11 de agosto de 1971. Entre as paredes da casa, a guerrilheira foi torturada, estuprada e humilhada por agentes do Centro de Informações do Exército (CIE).

Após semanas de abusos, contudo, ela foi a única sobrevivente da Casa da Morte e, por isso, conseguiu revelar os horrores cometidos na propriedade. Em um primeiro momento, ela se lembrou dos nomes de nove presos políticos e dos codinomes de 19 torturadores. Ainda mais, memorizou o número de torturados e dos muitos carrascos.

Por fim, depois de diversos depoimentos à Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Inês ainda conseguiu descrever, em detalhes, a planta da Casa da Morte, em 1979. Foi ela, inclusive, quem lembrou o número do telefone da residência (4090), informação que revelou o misterioso endereço da terrível propriedade.

Fotografia da planta da "Casa da morte", segundo Inês / Crédito: Comissão Nacional da Verdade

Herança maligna

Muito mais antiga que a Ditadura Militar, a casa na rua Arthur Barbosa, antes de ser transformada em um aparelho clandestino de tortura, era uma residência comum. No passado, pertenceu ao alemão Ricardo Lodders — um homem preso por, pelo menos, duas vezes durante a Segunda Guerra Mundial, suspeito de espionagem.

No início da década de 1970, contudo, o filho do proprietário cedeu a casa para o subcomandante do CIE, general José Luiz Coelho Neto. Herdeiro de Ricardo, Mário Lodders continuou morando no terreno, mas em uma casa adjacente, e chegou a encontrar e oferecer barras de chocolate para Inês durante a Ditadura Militar.

Segundo Eduardo Schnoor, pesquisador da Comissão Nacional da Verdade (CNV), o “sobrado da Arthur Barbosa foi escolhido por ser um lugar isolado”. Para o historiador, era lá que os “agentes podiam circular livremente, sem chamar a atenção de ninguém”.

Uma tortura sem fim

No total, estima-se que ao menos 22 presos políticos foram mantidos na Casa da Morte, todos considerados adversários do Regime Militar. Segundo Inês, o advogado goiano Paulo de Tarso Celestino da Silva foi um deles. Seu corpo nunca foi encontrado.

"Inês sobreviveu aos horrores daquela casa. Na saída, foi atrás de seus algozes, obteve êxito ao denunciá-los e virou símbolo da luta contra os anos de chumbo”, pontuou a historiadora Isabel Cristina Leite, segundo a BBC.

Em seus depoimentos, Inês narrou que todos os presos eram submetidos a uma rotina de constante violência. Fosse dia ou noite, eles passavam por sessões de tortura física e psicológia, cujo objetivo, segundo o coronel reformado Paulo Malhães, era forçar os presos a delatar seus companheiros de guerrilha.

Dentro da Casa da Morte, Inês foi submetida a choques elétricos e a injeções de pentatol sódico, o chamado "soro da verdade". Ao fim de seu cativeiro, a mulher pesava 32 quilos e ainda foi presa durante oito anos, de 1971 a 1979, por ter participado do sequestro de Giovanni Bucher. Ela morreu em 2015, aos 72 anos.


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