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Matérias / Personagem

Irmã Dulce: dos mártires aos santos

A canonização da Beata Dulce dos Pobres é uma das mais rápidas da História. Agora, a religiosa católica é a primeira santa 100% brasileira

Raphaela de Campos Mello Publicado em 12/10/2019, às 00h00

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Imagem Irmã Dulce: dos mártires aos santos

Irmã Dulce se juntou a outros santos com história no Brasil, previamente reconhecidos pelo Vaticano: Madre Paulina, nascida na Itália (canonizada em 2002), Frei Galvão (2007), padre José de Anchieta, nascido na Espanha (2014), além dos mártires Roque Gonzalez, Afonso Rodrigues e João de Castilho, mortos no Rio Grande do Sul no século 17 (1983) e os 30 mártires assassinados também no século 17, mas no Rio Grande do Norte (2017).

A canonização da baiana foi uma das mais rápidas da história (27 anos após seu falecimento), atrás somente da santificação de Madre Teresa de Calcutá (que ocorreu 19 anos após o falecimento da religiosa) e do papa João Paulo II (nove anos após sua morte) – para se ter ideia, Joana d’Arc foi canonizada 489 anos após seu fim trágico na fogueira.

O processo da freira brasileira se iniciou no ano 2000 e o primeiro milagre associado à intercessão dela – a cura de uma hemorragia gravíssima após um parto seguido de complicações – foi atestado pelo papa João Paulo II em 2003.

Seis anos depois, o papa Bento 16 lhe concedeu o título de Venerável (confira a sequência de honrarias no boxe da página 37) e, em 2011, ela foi beatificada. O anúncio da canonização se deu em maio deste ano, após a confirmação de um segundo milagre. De acordo com o comunicado oficial, um cidadão baiano teria se curado de uma cegueira por intercessão da religiosa.

O evento histórico para os brasileiros, especialmente para o povo da Bahia, representa uma tradição que atravessa os milênios e remonta aos primórdios do cristianismo. “Durante os três primeiros séculos, ante a perseguição dos cristãos, aqueles que morriam para não renegar Cristo e a fé, os mártires, eram venerados como santos.Com o tempo, se exigiu uma investigação prévia do fato do martírio, da vida e dos milagres do confessor, investigação que se fez cada vez mais rígida e jurídica, até se adotar, na Idade Média, a forma de um verdadeiro processo”, explica o padre Rogério Neves, doutor em Direito Canônico e professor no Centro Universitário Salesiano de São Paulo (UNISAL).

São Jorge, por exemplo, é um caso emblemático do nascedouro da adoração cristã. O soldado romano (275-303) não realizou milagre algum. Sua saga é que foi digna de culto, sendo um dos nomes mais venerados tanto na Igreja Católica Romana e na Igreja Ortodoxa, como também na tradição Anglicana.

Além de partilhar sua riqueza com os pobres, o militar declarou sua conversão ao cristianismo diante do imperador Diocleciano, grande algoz dos seguidores de Cristo. Morreu degolado.

Um aspecto fundamental, contudo, se mantém intacto desde o princípio até os dias atuais: a fama de santo nasce da fé dos fiéis. É o clamor popular que move as primeiras engrenagens e deflagra as subsequentes investigações eclesiásticas. Por isso, há que se ter cautela e rigor – olhos afiados para detectar possíveis enganos e enganadores; e visões sobrenaturais onde só existe a normalidade cotidiana.

Como há muita paixão envolvida, o Vaticano precisa se certificar deque a santidade de um religioso é fato concreto e verificável. “Por isso, sempre haverá muito mais casos de fama de santidade na opinião popular do que nas declarações de santidade da Igreja. Porque nem tudo que reluz é ouro”, observa o padre e professor, em São Paulo.

É impossível predeterminar a duração de um processo de canonização, pois uma série de variáveis são analisadas caso a caso. De toda maneira, o trajeto é longo. Atualmente, esclarece Neves, as seguintes etapas são contempladas: um bispo local deve pedir à Santa Sé a declaração de não se opor ao processo; depois há a constituição do tribunal, com os vários interventores e a oitiva de testemunha; a pesquisa histórica encabeçada por uma comissão própria de especialistas, a clausura do processo e o envio para a fase romana, na qual se deve confirmar a validade de tudo o que foi feito e estabelecer novo procedimento, com novos interventores.

Em seguida, chega-se à elaboração da chamada Positio, relatório detalhado, posteriormente encaminhado à Plenária da Congregação para as Causas dos Santos. Só então acontece o reconhecimento das virtudes do Servo de Deus ou do martírio.

Com esse aval, o Servo de Deus passa a ser chamado de Venerável. Mas, para que seja beatificado, fica faltando a constatação de um verdadeiro milagre (salvo para o martírio). “O milagre é um processo à parte, com uma fase diocesana ou local e outra romana, assessorada por profissionais de várias especialidades, inclusive ateus, para se chegar à constatação de que o fato é inexplicável e, além disso, tem um nexo causal com a oração de alguém, pedindo a intercessão daquele Venerável”,destaca o padre.

Atestado este primeiro milagre, espera-se, então, por um segundo, ocorrido após a beatificação. Se comprovado, a figura pode, enfim, se tornar santa.


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