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Matérias / Filantropia

‘James Bond’ da filantropia: O ricaço que doou R$45 bilhões para a caridade

Adepto do pensamento "morrer rico é morrer em desgraça", Charles ‘Chuck’ Feeney abriu mão de sua riqueza ainda em vida

Fabio Previdelli | @fabioprevidelli_ Publicado em 20/03/2022, às 09h00 - Atualizado em 10/08/2022, às 09h00

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Charles ‘Chuck’ Feeney, o ‘James Bond’ da filantropia - Divulgação/YouTube/UC San Francisco (UCSF)
Charles ‘Chuck’ Feeney, o ‘James Bond’ da filantropia - Divulgação/YouTube/UC San Francisco (UCSF)

Se nada dessa vida se leva, por que não abrimos mão de tudo que temos e controlamos nós mesmos o destino de nossas ações? Afinal, assim fica muito mais fácil monitorar tudo e ter o gostinho de ver com nossos próprios olhos o resultado de nosso gesto. 

Essa filosofia, chamada de “Giving While Living” (‘Dê enquanto vive’, em tradução livre), vem cativando cada vez mais filantropos multimilionários que pensam em construir um verdadeiro legado para as futuras gerações. 

O filantropo Charles Feeney/ Crédito: Divulgação/Arquivo Pessoal

Pioneiro desse ‘mantra’, o empresário Charles “Chuck” Feeney, de 90 anos, conseguiu completar sua missão após quatro décadas. Reservando cerca de dois milhões de dólares para sua aposentadoria, Feeney levou uma vida de benfeitoria, doando cerca de 8 bilhões de dólares (por volta de R$45 bilhões). 

O início de um império

Antes de se tornar um dos maiores filantropos do mundo, a vida de Charles Feeney não foi nada fácil. Filho de uma enfermeira e um corretor de seguros, Chuck, como também é chamado, nasceu em pleno período da Grande Depressão dos Estados Unidos, em 1931, em Nova Jersey. 

Apesar das dificuldades, Feeney sempre mostrou ser um empreendedor nato. Conforme aponta matéria da BBC, aos 10 anos ele já vendia cartões de Natal de porta em porta. Em sua adolescência, alistou-se no Exército e combateu na Guerra da Coreia

Charles Feeney durante a infância/ Crédito: Divulgação/Arquivo Pessoal

Aproveitando o programa do governo para veteranos, se formou na Universidade Cornell, em Nova York. Charles foi o primeiro membro de sua família a ir para uma faculdade. Logo em seguida abriu seu próprio negócio, onde vendia produtos para soldados americanos que estavam em missão na Europa. 

Na década de 1960, ao lado de Robert Miller, fundou a Duty Free Shoppers (DFS), uma empresa varejista que vende artigos de luxo para turistas, com lojas em aeroportos e portos. Com a companhia, Feeney ganhou bilhões de dólares. Hoje a DFS emprega mais de 9 mil funcionários. 

Charles Feeney no Exército/ Crédito: Divulgação/Arquivo Pessoal

Entretanto, como ele mesmo diz: “Com a riqueza, vem a responsabilidade”. "As pessoas devem se definir ou sentir a responsabilidade de usar parte de seus recursos para melhorar a vida de seus pares, ou então criarão problemas insolúveis ​​para as gerações futuras."

O ‘James Bond’ da filantropia

Conforme aponta o biógrafo de Feeney, Conor O’Clery, a inspiração para sua filantropia começou depois que ele leu a obra ‘O Evangelho da Riqueza’, de Andrew Carnegie. Assim, frases do livro como “morrer rico é morrer em desgraça” fizeram o ricaço repensar sua vida. 

Tive uma ideia que nunca me saiu da minha cabeça: a de que você deve usar sua riqueza para ajudar as pessoas", declarou algumas vezes. 

Desta forma, em 1982, fundou a Atlantic Philanthropies, uma organização internacional que tinha o intuito de distribuir sua fortuna para boas causas e projetos em todo o mundo. Importante ressaltar que, nos primeiros 15 anos de boas ações, Charles fez isso de maneira anônima. O que lhe rendeu a alcunha de ‘James Bond da filantropia’.

Em entrevista ao jornalista Gerardo Lissardy, da BBC News Mundo, em 2017, ele justificou que fazia as doações em segredo “para não ter que explicar às pessoas o motivo”. 

Os 8 bilhões de dólares doados por Feeney foram destinados para diferentes frentes, como saúde, ciência, educação e ação social. A maior parte da quantia (3,7 bi) foi destinada para a área de educação, sendo que cerca de 1 bilhão foi para sua alma mater Cornell. 

O empresário Charles Feeney / Crédito: Divulgação/YouTube/Forbes

Outra parte, 870 milhões, foi enviada para projetos que cuidam dos Direitos Humanos e promovem a mudança social. Chuck também apoiou a abolição da pena de morte nos EUA e a aprovação do Obamacare — uma lei que tem objetivo de ampliar o acesso de cidadãos dos EUA à cobertura de saúde.

Na América Latina, seu instituto enviou mais de 66 milhões para organizações com projetos de saúde em Cuba. "Alguns investimentos também financiaram trabalhos para ajudar a normalizar as relações entre Cuba e os Estados Unidos", diz o site da fundação. 

Por fim, Feeney também contribuiu com a modernização do sistema de saúde do Vietnã e também com o fim dos conflitos na Irlanda do Norte. Uma de suas últimas ações foi a construção de um campus de tecnologia na Ilha Roosevelt. 

Em 14 de setembro de 2020, após quatro décadas de missão, Charles Feeney assinou os documentos para encerrar as atividades da Atlantic Philanthropies. A cerimônia online com o conselho da entidade recebeu mensagens especiais de Bill Gates e Jerry Brown, ex-governador da Califórnia. Nancy Pelosi, presidente da Câmara, enviou uma carta oficial do Congresso americano agradecendo o empresário por seu trabalho.

“Nós aprendemos muito. Faríamos algumas coisas de maneira diferente hoje, mas estou muito satisfeito. Sinto-me muito bem por ter, sob o meu comando, concluído essa iniciativa”, declarou à época em entrevista à Forbes. 

Sou muito grato a todos que se juntaram a nós nesta jornada. E àqueles que estão se perguntando sobre o Giving While Living: experimente, você vai gostar.”