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Matérias / Personagem

Jemima Wilkinson: o primeiro profeta não-binário a formar uma sociedade religiosa

Considerado um messias pelos seus seguidores, Wilkinson fundou uma seita cristã não-ortodoxa apelidada de Amigos Universais

Nicoli Raveli Publicado em 10/03/2020, às 16h34

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Ilustração da Jemima Wilkinson - Wikimedia Commons
Ilustração da Jemima Wilkinson - Wikimedia Commons

Jemima Wilkinson, a ex-Quaker, nome dado a vários grupos religiosos que tem origem comum em um movimento protestante britânico no século 17, fundou uma seita cristã não-ortodoxa, a Amigos Universais. Dessa maneira, muitos de seus seguidores a consideravam um messias.

Ela foi demitida do grupo religioso seguido pela família em 1776 após frequentar as reuniões da congregação New Light Baptist. Dois meses depois, ficou doente e, com convicção, afirmou que teve uma visão de que havia morrido e tinha sido reanimada por Deus para avisar que o apocalipse estava próximo.

O profeta sem gênero surgiu naquela noite por meio do corpo da jovem. Wilkinson estava deitada em sua cama à beira da morte, com uma febre terrível. O corpo da mulher de 23 anos levantou-se de repente da cama. Em suas primeiras palavras, a pessoa disse que não seria mais conhecida por Jemima, já que seu corpo havia reencarnado.

Com o ocorrido, apelidou-se de "Amigo Universal Público" e não atribuiu um gênero, mas seus seguidores sempre usavam pronomes masculinos ao referir-se a ele. Em pouco tempo, Wilkinson atraiu diversas pessoas com o poder de sua personalidade e figura dominante e começou a discursar no sul da Inglaterra. Por gerações, os historiadores estudaram o acontecimento e determinaram que ele era um líder eficaz durante a Revolução Americana.

Muitos membros de sua família também abandonaram a fé Quaker para seguir os passos de Jemima. Para atrair mais fiéis, os fundadores incluíam diversas pessoas influentes, como o juiz William Potter, de South Kingston, localizado em Rhode Island, que abandonou sua profissão e permitiu que sua mansão fosse utilizada pelo grupo religioso.

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Símbolo do Amigo Universal / Crédito: Wikimedia Commons

Enquanto o Amigo Universal Público era discreto e vago em relação a missão da seita e a questão com a divindade, muitos religiosos declaravam abertamente que o dirigente era um messias, o que gerou uma aversão por parte das igrejas ortodoxas.

200 anos após sua morte, a história do profeta autoproclamado viralizou nas redes sociais e assumiu um novo significado: um exemplo raro de uma pessoa que se identificou como não binária e obteve aceitação pública.

De acordo com historiadores, o personagem serviu como evidência de pessoas que não se conformam com o gênero. Além disso, os pesquisadores provaram que essa questão sempre existiu na sociedade americana.

Segundo a historiadora Susan Juster, o Amigo aparece em um versículo bíblico. Nos sermões, ele é comparado a reencarnação do corpo de Jemima com as profecias de Jeremias. Para a especialista, a situação ocorreu devido a diversas expectativas para as mulheres naquela época.

“Tornar-se um Amigo Público Universal permitiu que ela pudesse fugir de tudo isso... Parte dessa transformação se baseia em algum tipo de desejo psicológico de escapar desse papel de esposa e mãe em que estava prestes a entrar”.

Paul B. Moyer escreveu um livro sobre o personagem e afirmou que a figura religiosa não contemplou o gênero por muito tempo. “A certa altura, alguém perguntou se o Amigo se identificava como homem ou mulher, de acordo com uma carta que apareceu em um jornal da Filadélfia, e ele simplesmente respondeu: “Eu sou o que sou“.

O Centro Histórico do Condado de Yates, localizado em Nova York, dificilmente questionava o gênero do líder religioso. Mas, recentemente, o site do instituto se referiu a Wilkinson como a primeira mulher americana a formar uma sociedade religiosa. Com essa afirmação, o local presenciou um aumento nas visitas e perguntas sobre o sexo do Amigo.

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Ilustração da Jemima Wilkinson / Crédito: Wikimedia Commons

Moyer ainda disse que a figura chegou a atrair críticas significativas. “Algumas pessoas o viam como uma farsa, como uma religiosa bizarra, uma mulher vestida como um homem que afirma ser um profeta de Deus."

Devido a essa reação, a Sociedade de Amigos Universais se isolou, impedindo que novos membros se juntassem a seita. Da mesma maneira, o grupo principal se dedicou até a morte do Amigo em 1819. "Existe uma maneira quase mítica sobre o Amigo. Ninguém sabe onde ela está enterrada, com certeza”, comentou Paul.

Atualmente, a figura se tornou uma tradição local no município, no qual ainda vivem diversos descendentes dos seguidores. Na exposição dedicada ao profeta, é possível ter contato com uma cópia do testamento do líder religioso. "Jemima Wilkinson, também conhecido como Amigo Universal Público", escreveu na carta.


+ Saiba mais sobre esse tema pelas obras abaixo:

The Public Universal Friend: Jemima Wilkinson and Religious Enthusiasm in Revolutionary America,  Paul B. Moyer (2015) - https://amzn.to/335hhhk 

Memoir of Jemima Wilkinson,  David Hudson (2017) - https://amzn.to/338yFlt

Pioneer Prophetess: Jemima Wilkinson, the Publick Universal Friend,  Herbert A. Jr. Wisbey (2009) - https://amzn.to/3aInTVv

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