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Matérias / Personagem

Joana D'Arc brasileira: a vida da cearense Jovita Alves Feitosa

Indignada com os crimes cometidos na Guerra do Paraguai, a mulher alistou-se no exército, mas vestida como um homem

Redação Publicado em 06/12/2020, às 08h00 - Atualizado em 29/09/2022, às 18h00

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Retrato de Jovita Alves Feitosa, em 1865 - Wikimedia Commons
Retrato de Jovita Alves Feitosa, em 1865 - Wikimedia Commons

Criado em 1998, o longa Mulan, da Disney, conta a história de uma jovem chinesa que teme pela saúde do pai. Com medo que ele seja chamado para a guerra, a garota assume o lugar do ex-militar e entra para o exército, mas disfarçada de homem.

Icônica no mundo das princesas, Mulan pode parecer ter uma história fantástica e pouco usual. Só que uma narrativa muito parecida aconteceu com a cearense Jovita Alves Feitosa, que mudou sua aparência para lutar na Guerra do Paraguai, em 1865.

Tendo entrado para o Exército, Jovita tornou-se uma heroína nacional e, com uma história parecida com a de Mulan, ela passou a ser chamada de Joana D'Arc brasileira. Seu fim, no entanto, não foi feliz como em um conto de fadas.

Retrato de Jovita já no Exército, em 1865 / Crédito: Divulgação/Fundação Joaquim Nabuco

Sangue nos olhos

Nascida em Tauá, no Ceará, a garota tinha 17 anos quando começou a escutar alguns boatos trágicos sobre a Guerra do Paraguai, que já acontecia há seis meses em meados de 1865. Muito além das mortes, a jovem se revoltou quando descobriu que mulheres eram constantemente estupradas por soldados paraguaios.

Indignada com a situação, Jovita decidiu que entraria para o Exército e, assim, se alistaria para servir como combatente no conflito. Logo que expôs tal ideia pela primeira vez, todavia, a jovem foi criticada, já que "uma mulher não poderia ser aceita no Exército”.

Borbulhante, ela não aguentava a simples ideia de ficar em casa enquanto outras pessoas sofriam na Guerra e, assim, teve uma ideia. E se ela mudasse sua aparência completamente e se apresentasse como um homem no dia do alistamento?

Batalha do Avaí, de Pedro Americo, no Museu Nacional de Belas Artes / Crédito: Wikimedia Commons

Ideia de filme

Com uma faca em mãos, Jovita olhou para seus cabelos uma última vez antes de apará-los. O corte curto emoldurou seu rosto e a jovem atou seus seios com uma cinta. Satisfeita, ela se apresentou aos oficiais brasileiros e, em pouco tempo, foi aceita.

Logo que sua ficha foi carimbada, Jovita foi encaminhada para o Corpo dos Voluntários da Pátria, uma seção do Exército que angariava voluntários para a Guerra do Paraguai. Entre os soldados, ela sentia-se confiante, já que sabia atirar e "tinha disposição para aprender o necessário até para matar o inimigo", segundo investigações posteriores.

Um dia, no entanto, todos os planos da jovem foram jogados ao vento quando outra mulher reparou que Jovita tinha furos de brincos nas orelhas. Desconfiada, ela apalpou o corpo do suposto soldado e descobriu os seios da jovem escondidos nas vestes.

Retrato de Jovita com os aparatos do Exército / Crédito: Divulgação

Uma causa cheia de mágoa

No mesmo dia em que a mentira de Jovita foi desvendada, a garota foi levada até a delegacia. Em frente ao delegado, então, ela começou a lamentar o fim de sua aventura. Frente à devastação da mulher, que parecia desejar a guerra mais que tudo, o homem lhe concedeu o posto de sargento.

Daquele dia em diante, reconhecida como a Joana D'Arc brasileira, Jovita passou a ser representada em peças e poesias. O conto de fadas, no entanto, acabou poucos dias mais tarde, quando a jovem foi destituída de seu cargo.

Em uma carta enviada pelo Ministério da Guerra, ela descobriu que os regulamentos militares não previam a participação de uma mulher no conflito. Assim, ela foi convidada para trabalhar como enfermeira, mas recusou o cargo e voltou para o Ceará.

Oficiais brasileiros posam na iminência da vitória na Guerra do Paraguai, em 1870 / Crédito: Domínio Público

Abandonada pelo exército

De volta ao lugar onde nasceu, indignada com a situação e frustrada com seu fracasso, Jovita tentou voltar para a casa do pai. O homem, no entanto, nem olhou para os olhos da filha. Sozinha e desemparada, portanto, a jovem viajou para o Rio de Janeiro.

O problema é que, mesmo vivendo na Cidade Maravilhosa, Jovita não tinha um tostão sequer em seus bolsos. Sem saída, então, ela recorreu à prostituição. Foram meses nas ruas até que ela conhecesse William Noot, por quem se apaixonou.

Nascido no País de Gales, o homem trabalhava como engenheiro no Brasil e logo caiu nos encantos de Jovita. Juntos, eles tinham os planos de se casar e formar uma família. O castelo de cartas, no entanto, caiu por terra em 1967.

Retrato de Jovita e sua assinatura / Crédito: Wikimedia Commons

Amor não correspondido

Tudo mudou no dia 9 de outubro daquele ano, quando Jovita recebeu uma carta melancólica de seu amado. No triste bilhete, ele dizia que estava voltando para o País de Gales, já que seu trabalho no Brasil havia acabado.

Jovita, a Joana D'Arc brasileira, foi encontrada já sem vida no escritório da casa do homem, com um punhal cravado em seu peito. Ao lado da jovem, que tinha 19 anos quando se suicidou, uma carta anunciava: “Não culpem a minha morte a pessoa alguma. Fui eu quem me matei. A causa só Deus sabe”.

Mais tarde, mesmo sem ter ido para a guerra, ela foi uma das únicas nove mulheres citadas no "Livro dos Heróis e Heroínas da Pátria". Em 2019, então, a obra "Jovita Alves Feitosa: Voluntária da Pátria, Voluntária da Morte" contou sua história novamente.


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