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Matérias / Pandemia

Liga Anti-Máscara: os protestos negacionistas durante a Gripe Espanhola

Manifestações contra às medidas instauradas para conter uma pandemia já existiam há mais de cem anos

Vanessa Centamori Publicado em 28/05/2020, às 12h46 - Atualizado em 21/04/2021, às 12h00

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Enfermaria no Rio de Janeiro, em 1918, com infectados pela gripe espanhola - Divulgação / Biblioteca Nacional
Enfermaria no Rio de Janeiro, em 1918, com infectados pela gripe espanhola - Divulgação / Biblioteca Nacional

Em maio de 2020, a capital paulista se deparou com manifestantes, que protestaram na Avenida Paulista contra o isolamento social. Enquanto isso, no exterior, milhares de pessoas — principalmente da extrema direita, antivacina e teóricos da conspiração — se manifestaram nas ruas da Alemanha, Reino Unido e Polônia contra as restrições impostas pela pandemia do novo coronavírus.

Tal cenário, que reúne milhares de indivíduos contrários às medidas restritivas recomendadas pela ciência, atualmente está abalando o planeta. Mas isso não é uma novidade. Há mais de cem anos, protestos similares ocorriam no auge da pandemia de gripe espanhola.  

Eles aconteciam dentro de um movimento, intitulado de Liga Anti-Máscara, que surgiu em 1919, na cidade de São Francisco, Califórnia. Faziam parte dessa onda vários moradores, que se diziam cansados das restrições e desconfiados da eficácia do uso das máscaras.

O principal argumento usado pela liga era que a obrigatoriedade do uso do equipamento infringia a liberdade e os direitos constitucionais. Tal mentalidade contagiava quase tanto quanto o vírus: em uma só única reunião, em janeiro, compareceram mais de 2 mil pessoas para protestar contra as máscaras. 

Vale lembrar, porém, que o uso dessa medida de prevenção é recomendado atualmente pela Organização Mundial de Saúde (OMS), que tem até diretrizes sobre o manuseio responsável desse equipamento, importante agora contra a Covid-19. 

Profissionais usam máscaras durante a pandemia da gripe espanhola / Crédito: Divulgação / California State Library

Ambiente pré-liga 

Nos meses finais da Primeira Guerra Mundial, o uso de máscaras era considerado símbolo de patriotismo. A Cruz Vermelha fabricava e distribuía os equipamentos em todo os Estados Unidos, mas não havia o suficiente para todo mundo.

Então, as autoridades recomendavam a costura de máscaras caseiras. Isso funcionou nas primeiras semanas, com 80% da população de São Francisco se protegendo. Só que, por outro lado, centenas de pessoas foram detidas por infringir o uso.

Isso fora aqueles que usavam o utensílio de proteção de modo equivocado - há relatos até de que algumas pessoas irresponsáveis abriam um buraco na máscara, na região da boca, para fumar.

Paralelo: Gripe Espanhola X novo coronavírus 

Os integrantes do movimento de 1919 se tornaram contra a exigência das máscaras devido à várias justificativas. Assim como ocorre em movimentos atuais, muitos membros simplesmente não gostavam de cobrir seus rostos com tais apetrechos, mas havia quem se refugiasse em interpretações constitucionais. 

Oficial e cidadãos usam máscaras nos Estados Unidos / Crédito: Divulgação / California State Library

Por outro lado, uma das discrepâncias mais importantes entre a Liga Anti-Máscara e as manifestações de hoje é que em 1919 não havia a quantidade de dados e evidências atuais de que as restrições podiam salvar vidas. 

Durante a gripe espanhola, os estudos científicos certamente estavam em outro ritmo. Naquela época, a Associação Americana de Saúde Pública havia publicado um artigo que dizia que as evidências sobre a eficácia das máscaras eram contraditórias.

Isso só fortificou o surgimento da Liga Anti-Máscara, embora hoje saibamos que o uso dessa proteção é essencial contra a atual pandemia. Historiadores modernos argumentam também que, mesmo que não se saiba o impacto das máscaras no controle da gripe em São Francisco, a própria devastação da doença na cidade já aponta os desdobramentos péssimos da interrupção das restrições, que ocorreram antes do controle da gripe espanhola.  

Soldados doentes de gripe espanhola nos EUA / Crédito: Wikimedia Commons

Um passo para trás 

No dia 21 de novembro de 1919, foi anunciada o fim da obrigatoriedade do uso de máscaras e a liga comemorou arrancando os equipamentos e os jogando no chão. Mas, na realidade, não havia motivos para celebrar: o número de casos de gripe espanhola voltou a crescer. 

Calcula-se que apenas 10% da população aderiu ao uso de máscara após o fim da recomendação dessa medida. Com o número de doentes crescendo, em 17 de janeiro, foi retomado o uso de máscaras de modo obrigatório novamente.

Mesmo assim, um tempo depois, após as autoridades de São Francisco dizerem terem vencido a gripe espanhola, o cálculo final foi assustador: a cidade somou 45 mil infectados e mais de 3 mil mortos.

No Estados Unidos como um todo, a doença matou 675 mil pessoa. Acredita-se que, em três ondas mortais, a mãe das pandemias tenha feito mais de 50 milhões de vítimas no mundo todo. A resistência contra as medidas de prevenção com certeza inflou essa conta e ceifou vidas. Tal realidade, infelizmente, pode não ter ficado no passado. 


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