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Matérias / Personagem

O surto psicótico de Louis Althusser, o filósofo marxista que estrangulou a própria esposa

Sem recordar direito do acontecido, o filósofo tentou reaver a responsabilidade pelo crime ao escrever O Futuro Dura Muito Tempo

André Nogueira Publicado em 09/10/2019, às 14h43

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Domínio Público
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Nascido na Argélia, Louis Althusser foi repatriado na França após a libertação de seu país do jugo colonial; em seguida, foi recebido na França como pied-noir (pé preto), termo pejorativo usado para identificar norte-africanos no país, assim como ocorreu com Camus e Derrida.

Como filósofo, ficou conhecido por formular um estudo em que elencou os elementos para o desenvolvimento de uma teoria epistemológica do pensamento de Karl Marx, direcionando sua leitura à análise de uma proposta de lógica sistemática no marxismo.

Althusser / Crédito: Wikimedia Commons

Segundo relatos pessoais de Althusser, ele é fruto de um casamento frustrado: sua mãe iria se casar com seu tio, Louis (origem de seu nome), mas com a morte dele durante a Primeira Guerra, acabou concebendo a criança com o pai do filósofo. Sua mãe, então, teria projetado no filho uma substituição do ente querido, o que, junto à realidade da Guerra e da colonização, causou grave dano psicológico em Althusser.

Apenas com o fim da Segunda Guerra que o marxista pôde frequentar a École Normale Supérieure, junto a um acompanhamento psiquiátrico. Sua saúde mental já estava deteriorada à época, a ponto de, em 1947, ter passado por sessões de terapia com o uso de eletrochoques. Ao longo de sua vida, suas enfermidades foram agravadas.

Louis com a esposa, Hélène / Crédito: Domínio Público

Tirando momentos em que foi internado em hospitais psiquiátricos, Althusser passou boa parte de sua vida acadêmica num quarto próprio na enfermaria da ENS. Porém, não foi suficiente para manter sua sanidade em dia, culminando no crime pelo qual ficou famoso no fim da vida.

Trata-se do ocorrido com sua esposa, Hélène Rytman, uma revolucionária de origem lituana que conheceu em 1946. Hélène foi companheira de Louis até a sua trágica morte em 16 de novembro de 1980.

Neste dia, foi relato que Althusser teve um surto psicótico, perdeu a consciência total de si, e estrangulou a companheira até a morte. O filósofo alega não se lembrar claramente do ocorrido, defendendo que o surto ocorreu durante uma massagem no pescoço que acabou no óbito acidental.

Hospital Saint-Anne, onde Althusser ficou internado / Crédito: Wikimedia Commons

Pela lei francesa, o caso de Althusser foi considerado imputável por deficiência do autor do homicídio. Como consequência, ele foi declarado incapaz e inocente, no ano seguinte. Cinco anos depois, escreveu o livro biográfico L’avenir dure longtemps (O Futuro Dura Muito Tempo), em que reflete sobre o caso e tentou reivindicar a responsabilidade pela morte de Hélène, ainda confuso e tentando compreender as fronteiras entre a demência e a sanidade.

Por seu quadro clínico, Althusser foi internado compulsoriamente no Hospital Psiquiátrico Saint-Anne, onde passou por tratamento durante três anos. Liberado do manicômio, ele mudou-se para uma casa no norte de Paris, onde viveu em reclusão até sua morte.

Nesse tempo, desistiu do trabalho teórico, apenas escrevendo sua autobiografia. Um filósofo defensor da racionalidade, após sucumbir à insanidade de matar a mulher que amava, tentava compreender o que fizera. Morreu sozinho após um atraque cardíaco em 1990 (aos 72 anos).


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